quarta-feira, 7 de novembro de 2007

VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO


VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO
(Sua História)

PARTE VIII

A DECADÊNCIA DO PORTO

No ano de 1889, a 3 de Maio, foi mandado reparar o cais e foram colocados 4 postes de ferro fundido para amarração de navios e 3 arganéus ou argotões de ferro zincado no paramento do cais. Infelizmente tudo começou a caminhar mal após a inauguração da Linha Férrea do Oeste. Deu-se a decadência do tráfego marítimo e comercial. Atribuiu-se a decadência, às tarifas especiais que a Real Companhia dos Caminhos de Ferro fez, com a aprovação do Governo, para as Caldas da Rainha e, mais tarde, também para a Marinha Grande e Valado – Alcobaça. Essas tarifas especiais foram exclusivamente aplicadas às mercadorias que podiam ser transportadas por mar. Não houve reclamações, por isso o Governo ignorou todos os prejuízos causados a este porto e lentamente foi dado o golpe fatal. Com o passar dos anos continuou a diminuir a importância comercial de São Martinho do Porto. A sua actividade actual limita-se ao turismo e à vida de praia. No entanto a existência desta terra está documentada a épocas muito remotas. Marcaram o destino desta terra, em pensamento ou com a sua presença, os mesmos homens que marcaram o destino de Portugal:

1147 » El-Rei D. Afonso Henriques. (O Voto a Cristo)
1257 » El-Rei D. Afonso III. (1º Foral por Frei Estevão)
1438 » El-Rei D. Afonso V. (Construção das Caravelas)
1481 » El-Rei D. João II. (Construção de Caravelas)
1518 » El-Rei D. Manuel I. (2º Foral e criação de Sede de Concelho)
1577 » El-Rei D.Sebastião. (Caravelas para Alcácer-Kibir)
1650 » El-Rei D. João IV. (Averiguações sobre o porto)
1741 » El-Rei D. João V. (Divisão das terras de São Martinho do Porto)
1750 » El-Rei D. José. (Marquez de Pombal)
1828 » El-Rei D. Miguel. (Lançamento da 1ª pedra do cais)
1854 » El-Rei D. Pedro V. (Suprimido o Concelho)
1889 » El-Rei D. Carlos. (O Rei turista de São Martinho do Porto)

D. Carlos de Bragança passava grande parte das suas férias no Solar das Palmeiras junto à praia de São Martinho do Porto.
São deste último Rei as seguintes palavras:

“Tenho viajado muito em Portugal e no estrangeiro, mas não conheço nada mais lindo do que São Martinho do Porto”.

O falecido Professor de Medicina, Dr. Sílvio Rebelo também escreveu:

“Para veraneio, São Martinho do Porto ou a Itália”

Conhecida no presente como renomada estância balnear, São Martinho do Porto continua a atrair hoje, como no passado, grandes vultos da vida nacional. Tal como antes fizeram o actor Eduardo Brazão, o escritor Ramalho Ortigão, o pedagogo Augusto Reis Machado, o pintor Alfredo Roque Gameiro, o médico José Baptista Sousa, o escritor Carlos Selvagem, o Duque de Lafões, Eugénio de Castro, D. João da Câmara e tantos outros, alguns dos quais passaram às gerações seguintes o gosto por este recanto de Portugal que tem, seguramente, um dos mais bonitos poentes do mundo. Nos dias de hoje, destacadas figuras da politica actual e alta sociedade, aqui passam férias ou até têm as suas casas de veraneio.

“Esta é resumidamente a história conhecida de São Martinho do Porto e descrita em documento que se encontra arquivado na Biblioteca da Casa da Cultura de S. Martinho e no arquivo da Junta de Freguesia. A história da localidade referente a tempos mais recentes não está de todo elaborada, mas deixo desde já a informação de que caso venha a ter conhecimento de tal feitura, a transcreverei neste espaço.Ficam no entanto, alguns dados importantes sobre São Martinho do Porto que estão devidamente documentados e arquivados nos locais próprios”.

Orago – São Martinho

Nome dos Lugares da Freguesia – Vale do Paraíso, Serra dos Mangues, Venda Nova e Bom Jesus.

Número de fogos – É desconhecido.

Número de eleitores - Embora os recenseados atinjam os 3.850, a actualização de eleitores recenseados cifra-se nos 2.350 eleitores.

Área – 15,01 Km2

Principais Monumentos e Pontos Turísticos – Igreja Matriz, que data do Século XVII, Capela de Santo António, Capela de Nossa Senhora do Livramento, Colégio José Bento Da Silva, Edíficio dos Antigos Paços do Concelho, Miradouro do Monte do Facho, Miradouro do Cruzeiro, Miradouro do Largo Comendador José Bento da Silva (Adro), praias da Gralha e Salgado, zona histórica da Vila, com realce para o Outeiro e Largo Vitorino Froes, este último com edifícios do século passado de feição Arte Nova.

Posto Médico – A Vila espera pela mudança do actual posto médico, que está em vias de concretização.

Farmácia – Uma farmácia.

Escolas – Existiram três escola do Ensino Básico, embora hoje só uma funcione por encerramento das restantes, e uma escola Secundária.

Festas e Romarias – A festa mais importante de S. Martinho do Porto é a de Santo António, que tem lugar no mês de Junho, mas também se fazem as festas de S. Martinho que foi reactivada e tem lugar no mês de Novembro e a festa da Espiga tradicional do lugar de Vale do Paraíso.

Feiras e Mercados – Existe um Mercado Municipal que funciona diariamente. Embora com um interregno devido às obras de requalificação da marginal, existe uma Feira de Velharias aos terceiros fins de semana dos meses de Maio a Setembro e Dezembro.

Gastronomia – Antigamente era famosa A Sopa de Lagosta apanhada na Baía, mas dada a extinção deste marisco nas nossas águas passou a ser feita de navalheira, daí a não menos famosa e não menos saborosa Sopa De Navalheira. O peixe fresco é também uma das especialidades de S. Martinho.

Actividades económicas – A principal é o turismo e uma ou outra Industria.

Colectividades – Clube Recreativo de S. Martinho do Porto, Grupo Desportivo Concha Azul, Clube Náutico de S. Martinho, Clube Recreativo e Cultural de Vale do Paraíso, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, Associação de Dadores de Sangue “Gota de Amor”, Associação de Defesa do Ambiente e Casa da Cultura José Bento da Silva.

Beneméritos – Comendador José Bento da Silva, que por testamento datado de 1874, doou uma parte do remanescente da sua fortuna à construção e manutenção de duas escolas para ensino gratuito. Determinou ainda que fosse concedido auxilio financeiro aos menos favorecidos, tendo para tal instituído bolsas de estudo a atribuir a jovens da terra. A edificação do Colégio José Bento da Silva, é um imponente edifício ainda hoje existente e em razoável estado de conservação, que viria a concretizar um dos ideais deste notável benemérito. Embora o edifício tenha sido construído para a Educação, tal deixou de ser um facto nos dias de hoje, estando nele instalada a Junta de Freguesia de São Martinho do Porto.

Manuel Francisco Clérigo, instituiu uma Fundação, denominada Fundaçao Manuel Francisco Clérigo, para a qual afectou todos os seus bens, direitos, acções e rendimentos. Hoje esta Fundação, sediada em São Martinho do Porto, para além da protecção ao ensino dos alunos da freguesia, tem em funcionamento uma creche, jardim infantil, ocupação de tempos livres de jovens, centro de dia e centro de convívio para idosos, lar de 3ª idade e apoio domiciliário. Quis Manuel Francisco Clérigo, por testamento, que esta Fundação se destinasse a privilegiar o apoio aos mais desfavorecidos de São Martinho. No entanto, os actuais administradores não comungam dos mesmos ideais e afastaram-se um pouco do espírito que presidiu a esta doação a São Martinho.

Recentemente, a Vila de São Martinho foi alvo de obras de requalificação na marginal, estando em curso o inicio da requalificação da parte histórica.

Também a antiga ETAR, foi remodelada, estando a decorrer obras de ampliação.

“Um obrigado a todos pela paciência e interesse que demonstraram relativamente a estes dados que fazem parte da História do nosso País”.

José Gonçalves

10 comentários:

Isamar disse...

Primeiro, apresento-te os meus agradecimentos por teres feito um trabalho de pesquisa que certamente te deu muito trabalho mas também muito gosto em fazê-lo. A decadência do Porto de S.Martinho veio agravar-se à medida que as linhas férreas foram atingindo todos os pontos do país. O Comboio tornou-se o meio de transporte mais rápido, mais económico e também transportava muitas mercadorias. Muitos foram os portos fluviais que, devido ao assoreamento dos rios , foram desaparecendo. Os portos marítimos também foram ficando assoreados e as dragagens, por falta de verbas, nem sempre foram atempadamente feitas. Mas se S. Martinho decaiu industrialmente ganhou importância turística e , hoje, é uma das mais belas praias portuguesas. Conheço algarvios que passam férias em S. Martinho por aí terem adquirido casa.
continuarei a ler-te com gosto mas este comentário ficou muito pequeno. Merecias mais.
Beijinhossss

António Inglês disse...

Sophiamar

As coisas que nos dão prazer são normalmente aquelas que dão trabalho.
Este Baía tem tido diversos problemas, nomeadamente ao nível do assoreamento e ao nível da poluição das águas, uma vez que existem algumas pecuária que fazem despejos clandestinos para o rio Tornada que os transporta para a Baía.
Recentemente a ETAR foi renovada e ampliada e foi foi construído um emissário que leva os esgotos a umas milhas da costa, e sem problemas para a própria baía pois as correntes encarregam-se de os levar para longe.
O desassoreamento da baía vai-se fazendo e a despoluição, ao que parece estará em marcha, mas muito lenta pois continuam a existir as tais pecuária, um problema delicado que não tem tido a verdadeira vontade política para ser resolvido.
Aliás, por este Portugal de iluminados, continuamos a assistir a situações de agravo ambiental, por força de muitas pecuárias, e não se vislumbra solução. É só abrir-mos as janelas dos carros em imensos locais e verificamos nós próprios o cheiro que elas emanam.
Elas e também algumas Estações de Tratamento de Resíduos que em termos de cheiro deixam muito a desejar.
S. Martinho está, ou sempre esteve transformada numa estância balnear de eleição e por alguma razão lhe chamam o "Bidé das Marquesas". No entanto, esta linda praia, a praia das crianças por não oferecer perigo por aí além, tem sido também destino de férias de muitos Ribatejanos e mais recentemente de gente do Norte.
Cresce a olhos vistos neste momento, o turismo de Holandeses, Ingleses e Alemães. Autênticas colónias destes "estrangeiros" estão a crescer em S. Martinho e há até empreendimentos que estão totalmente vendidos a Holandeses e Alemães.
Eu minha amiga, contrariamente ao que dizes, não mereço os elogios que me envias.
Basta-me que continues aquela amiga que me vem visitar e que gosto de ver por aqui.
Um grande beijinho por toda a colaboração dos teus precisos comentários que vieram complementar estas postagens.
Bem hajas Sophiamar.
José Gonçalves

Elvira Carvalho disse...

Então agora sim já conhecemos a história de S. Martinho do Porto.
Fiquei com vontade de visitar S. Martinho. Eu sei que já aí estive mas foi há mais de 50 anos e não me lembro. Estive há pouco tempo num sítio que penso que pertence a S. Martinho ou fica perto. Alfazeirão. Não sei se é assim que se chama, fomos aos pães-de-ló.
Um abraço

António Inglês disse...

Olá Elvira
Boa noite.
É esta história acabou. Já não era sem tempo.
Se esteve em Alfeizerão esteve a 6 kms de São Martinho do Porto.
Foi pena não ter vindo rever esta linda Baía.
Alfeizerão tem talvez o doce mais conhecido do Concelho, o Pão de Ló de Alfeizerão, e é muito bom.
Existem algumas casas que ali vendem o Pão de Ló, mas só duas o vendem com a qualidade reconhecidamente comprovada, sendo que uma delas, a das bombas é a verdadeira casa do Pão de Ló.
Um abraço
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Amigo José,

Obrigado por nos ter apresentado este trabalho histórico da nossa terra.

Um abraço.

António Inglês disse...

Bom dia Ernesto

Este trabalho já existia na nossa Freguesia, e está arquivado na Biblioteca da Casas da Cultura e no arquivo da Junta, como já disse.
Seja como for agradeço-lhe as palavras que me dedica que são reveladoras de uma grande amizade.
Um obrigado cá do rapaz e até logo.
Um abraço
José Gonçalves

Maria Faia disse...

Estimado Amigo,

Pese embora o facto de, a par da história andar a lenda de mão dada, não posso deixar de o felicitar por este trabalho de partilha de conhecimento que aqui nos deixou.
Entendo que está um trabalho extraordinário de divulgação da nossa vila de S. Martinho do Porto.
Quanto ao seu declínio, este não pode nem deve ser assacado somente à vulnerabilidade da utilização da linha férrea, à falta de assoreamento e dragagem atempada da baía ou declínio industrial. Tudo isto aconteceu com a passividade dos poderes públicos que nunca souberam ou quiseram investir em S. Martinho. E, quando o fazem, é através de opções que, salvo melhor opinião, são as erradas para o tempo em que são feitas. Veja-se a obra de "remodelação" (não gosto de lhe chamar requalificação porque o não é) da marginal. Gastaram-se um milhões valentes num espaço que, apesar de poder ser melhorado, não estava am tão más condições como estão, o mercado municipal, o saneamento, o desenvolvimento da cultura, a deficiente rede de esgotos, as carências sócio-económicas brutais de grande parte da população etc...
Isto para dizer que me preocupo muito mais com a melhoria das condições de vida do povo do que com a mudança do alcatrão por pedra, das palmeiras por pinheiros, dos espaços de estacionamento por alargamento da avenida e por aí fora.
São opções... são diferentes formas de entender o desenvolvimento.

Um abraço amigo para si.
Maria Faia

Maria disse...

Como já percebeste até pelo meu blog, não escrevo longos textos, muito menos longos comentários.
Dizer-te apenas que conheço S. Martinho do Porto desde que me conheço, era uma das praias de quando era miúda.
Sempre que vou a Caldas dou uma voltinha pelas praias da zona, Peniche, Foz, S. Martinho, Nazaré.
Conheço toda essa zona "por dentro e por fora".
Foi com muito prazer que li todo o teu trabalho, a maior parte dos dados históricos eu desconhecia, e fiquei mais rica com estes teus posts.
Sei que há por aí uma Associação de amigos da baía (não sei se é assim que se chama), mas parece-me que o trabalho deles é mais "para a fotografia" quando se dão as mãos ao longo do areal do que realmente fazer alguma coisa em defesa da baía de S. Martinho....
Enfim...
Espero que esteja tudo bem contigo.
Deixo-te um enorme abraço de agradecimento, e um beijo...

António Inglês disse...

Olá Maria Faia

Creio que o inicio do declínio deste porto de mar, tem mesmo a ver com as acessibilidades, mas mesmo que tenha sido, também é verdade que os nossos governantes descuraram completamente esta terra votando-a ao abandono.
Como sabe, por aqui sempre existiram muitos "senhores" que se impunham para que o desenvolvimento de São Martinho não fosse uma realidade. E não precisamos de recuar muitos anos para os encontrar. Ainda hoje, falando com alguns desses resistentes "velhos do restelo", sentimos toda a sua vontade de que a terra não progrida. Dizem eles que quanto mais progresso houver mais gente para cá vem e isso eles não querem.
Acredito que a influencia que tais personagens exerciam sobre os governantes foi aproveitada para uma estagnação durante anos a fio.
Depois, os sucessivos governantes, como diz e muito bem, ou nada fizeram ou quando o fizeram, utilizaram a politica do quero, posso e mando, e como democraticamente detêm a maioria, tomaram em mãos obras que intitularam de requalificação ou "remodelação" (como lhes chama) e puseram em marcha o que está à vista.
São épocas distintas, a actual e a antiga, mas ambas têm um factor comum. São Martinho foi sempre muito mal tratada.
Pode ser que as coisas estejam a mudar, mas sobretudo há que mudar primeiramente a mentalidade dos homens.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Maria

Comigo está tudo bem,obrigado pelo teu cuidado.
Efectivamente existe por aqui uma associação que todos os anos elabora um programa? de animação de verão para S. Martinho do Porto.
Intitula-se esta associação, Associação de Verão de São Martinho do Porto. É basicamente constituída por veraneantes que aqui têm casa de férias, ou aqui as passam, os chamados "tios", e que sob a capa de quererem fazer animação para a terra, o têm feito da pior maneira.
Senão vejamos, 90% dos eventos que compõem os programas de animação que elaboram, são realizados fora da terra,e os restantes 10% são eventos selectivos e elitistas onde só eles podem ter acesso. Alguns para serem feitos, chegaram a ser erguidas autenticas barricadas para que ninguém sem convite lá pudesse entrar ou mesmo para lá olhar.
É verdade que uma das iniciativas que tiveram, foi o abraço à Baía, como forma de promover o protesto pela não despoluição da Baía, sendo que neste caso, sempre precisaram da participação dos muitos banhistas que na altura estão na praia ao longo da Baía, e que facilmente se deixam envolver no evento, muitos deles provavelmente nem saberão porque o fazem.
Com o desgaste do passar dos anos, este cordão tem sido feito mas vai perdendo a força, até porque uma das entidades que se associou ao evento foi as Águas do Oeste, empresa envolvida nesta despoluição, que todos esperamos se efective mas que anda a passo de caracol...
De resto nunca aqui vi nada que se possa considerar uma mais valia para a Vila, resultante destas iniciativas. Aparecem no Verão na revista caras umas fotos do Baile das Chitas, onde só eles têm entrada e pouco mais.
No entanto, muitos de nós, continuamos teimosamente a acreditar que é possível inverter o rumo destes acontecimentos e por isso nos batemos localmente.
Nestes últimos anos têm sido feitas obras em São Martinho do Porto, que embora discutíveis, estão cá.
Um abraço e espero que continues a gostar de vir a esta linda Baía.
José Gonçalves