sábado, 25 de outubro de 2008

5º ANIVERSÁRIO DO MEU SPORT LISBOA E BENFICA


Sei o que muitos irão dizer. Que foi dinheiro mal gasto, que o país não suporta gastos deste género, que existe muita pobreza por combater, que a vida está difícil, que... tanta coisa...

Eu sei! E reconheço tudo isso. Mas não posso esconder a minha pontinha de felicidade e deixar de me associar ao meu Glorioso neste aniversário do seu Novo Estádio da Luz ou a Nova Luz, como lhe queiram chamar.

Parabéns S L B ! O nosso estádio é lindo!




Faz hoje 5 anos que o Estádio da Luz foi oficialmente inaugurado num jogo contra o Nacional de Montevideo. A data vai ser assinalada no próximo domingo no jogo contra a Naval 1º de Maio.



  • os bilhetes de sócios vão ter um preço único de €5, para qualquer bancada;
  • o BENFICA também se associou ao Mês do Idoso e 1500 idosos foram convidados a assistir ao jogo;



  • o 20357º adepto (adepto com que se atingirá a fasquia dos 5 milhões de adeptos no estádio) a entrar no estádio no próximo domingo será premiado com uma viagem à Grécia (no avião oficial da equipa) onde assistirá ao jogo com o Olympiacos;






  • Nuno Gomes vai ser homenageado pelos 150 golos marcados pelo BENFICA. Ele que também foi o primeiro a marcar um golo no novo estádio;
  • no final do jogo será sorteado 20 mil euros em ouro entre os assistentes do jogo.




Para completar a festa seria bonito o BENFICA atingir a marca dos 5000 golos marcados no campeonato nacional, para isso terá que marcar 3 golos ao Naval. A titulo de curiosidade o Sporting tem 4638 e o Porto tem 4559.







Tirado do Bola na Trave
Fotos do site oficial do Benfica
António Inglês

O VELHO DA HORTA

IIª PARTE


Vem um Parvo, criado do Velho, e diz: Dono, dizia minha dona que fazeis vós cá té à noite?

Velho: Vai-te! Queres que t’açoite? Oh! Dou ao demo a intrujona sem saber!

Parvo: Diz que fosseis vós comer e não demoreis aqui.

Velho: Não quero comer, nem beber.

Parvo: Pois que haver cá de fazer?

Velho: Vai-te daí!

Parvo: Dono, veio lá meu tio, estava minha dona, então ela, metendo lume à panela o fogo logo subiu.

Velho: Oh Senhora! Como sei que estais agora sem saber minha saudade. Oh! Senhora matadora, meu coração vos adora de vontade!

Parvo: Raivou tanto! Resmungou! Oh pesar ora da vida! Está a panela cozida, minha dona não jantou. Não quereis?

Velho: Não hei de comer desta vez, nem quero comer bocado.




Parvo: E se vós, dono, morreis? Então depois não falareis senão finado. Então na terra nego jazer, então, finar dono, estendido.

Velho: Antes não fora eu nascido, ou acabasse de viver!

Parvo: Assim, por Deus! Então tanta pulga em vós, tanta bichoca nos olhos, ali, cos finado, sós, e comer-vos-ão a vós os piolhos. Comer-vos-ão as cigarras e os sapos! Morrei! Morrei!

Velho: Deus me faz já mercê de me soltar as amaras. Vai saltando! Aqui te fico esperando; traze a viola, e veremos.

Parvo: Ah! Corpo de São Fernando! Estão os outros jantando, e cantaremos?!...

Velho: Fora eu do teu teor, por não se sentir esta praga de fogo, que não se apaga, nem abranda tanta dor... Hei de morrer.

Parvo: Minha dona quer comer; Vinde, infeliz, que ela brada! Olhai! Eu fui lhe dizer dessa rosa e do tanger, e está raivada!

Velho: Vai tu, filho Joane, e dize que logo vou, que não há tempo que cá estou.

Parvo: Ireis vós para o Sanhoane! Pelo céu sagrado, que meu dono está danado! Viu ele o demo no ramo. Se ele fosse namorado, logo eu vou buscar outro amo.

Continua...


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O VELHO DA HORTA


Gil Vicente

Esta seguinte farsa é o seu argumento que um homem honrado e muito rico, já Velho, tinha uma horta: e andando uma manhã por ela espairecendo, sendo o seu hortelão fora, veio uma Moça de muito bom parecer buscar hortaliça, e o Velho em tanta maneira se enamorou dela que, por via de uma Alcoviteira, gastou toda a sua fazenda. A Alcoviteira foi açoitada, e a Moça casou honradamente. Entra logo o Velho rezando pela horta. Foi representada ao mui sereníssimo rei D. Manuel, o primeiro desse nome. Era do Senhor de M.D.XII.

Iª PARTE

Velho: Pater noster criador, Qui es in coelis, poderoso, Santificetur, Senhor,nomen tuum vencedor, nos céu e terra piedoso. Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua se faça sicut in coelo et in terra. Panem nostrum, que comemos, cotidianum teu é; escusá-lo não podemos; inda que o não mereceremos tu da nobis. Senhor, debita nossos errores, sicut et nos, por teu amor, dimittius qualquer error, aos nosso devedores. Et ne nos, Deus, te pedimos, inducas, por nenhum modo, in tentationem caímos porque fracos nos sentimos formados de triste lodo. Sed libera nossa fraqueza, nos a malo nesta vida; Amen, por tua grandeza, e nos livre tua alteza da tristeza sem medida.

Entra a Moça na horta e diz o Velho: Senhora, benza-vos Deus

Moça: Deus vos mantenha, senhor.

Velho: Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus.

Moça: Mas no chão.

Velho: Pois damas se acharão que não são vosso sapato!

Moça: Ai! Como isso é tão vão, e como as lisonjas são de barato!

Velho: Que buscais vós cá, donzela, senhora, meu coração?

Moça: Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a panela.

Velho: E a isso vinde vós, meu paraíso. Minha senhora, e não a aí?

Moça: Vistes vós! Segundo isso, nenhum Velho não tem siso natural.

Velho: Ó meus olhinhos garridos, mina rosa, meu arminho!

Moça: Onde é vosso ratinho? Não tem os cheiros colhidos?

Velho: Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu amor, meu coração!

Moça: Jesus! Jesus! Que coisa é essa? E que prática tão avessa da razão!

Velho: Falai, falai doutra maneira! Mandai-me dar a hortaliça. Grão fogo de amor me atiça, ó minha alma verdadeira!

Moça: E essa tosse? Amores de sobreposse serão os da vossa idade; o tempo vos tirou a posse.

Velho: Mas amo que se moço fosse com a metade.

Moça: E qual será a desastrada que atende vosso amor?

Velho: Oh minha alma e minha dor, quem vos tivesse furtada!

Moça: Que prazer! Quem vos isso ouvir dizer cuidará que estais vivo, ou que estai para viver!

Velho: Vivo não no quero ser, mas cativo!

Moça: Vossa alma não é lembrada que vos despede esta vida?

Velho: Vós sois minha despedida, minha morte antecipada.

Moça: Que galante! Que rosa! Que diamante! Que preciosa perla fina!



Velho: Oh fortuna triunfante! Quem meteu um Velho amante com menina! O maior risco da vida e mais perigoso é amar, que morrer é acabar e amor não tem saída, e pois penado, ainda que amado, vive qualquer amador; que fará o desamado, e sendo desesperado de favor?

Moça: Ora, dá-lhe lá favores! Velhice, como te enganas!

Velho: Essas palavras ufanas acendem mais os amores.

Moça: Bom homem, estais às escuras! Não vos vedes como estais?

Velho: Vós me cegais com tristuras, mas vejo as desaventuras que me dais.

Moça: Não vedes que sois já morto e andais contra a natura?

Velho: Oh flor da mor formosura! Quem vos trouxe a este meu horto? Ai de mim! Porque, logo que vos vi, cegou minha alma, e a vida está tão fora de si que, partindo-vos daqui, é partida.

Moça: Já perto sois de morrer. Donde nasce esta sandice que, quanto mais na velhice, amais os Velhos viver? E mais querida, quando estais mais de partida, é a vida que deixais?

Velho: Tanto sois mais homicida, que, quando amo mais a vida, ma tirais. Porque meu tempo d’agora vai vinte anos dos passados; pois os moços namorados a mocidade os escora. Mas um Velho, em idade de conselho, de menina namorado... Oh minha alma e meu espelho!

Moça: Oh miolo de coelho mal assado!

Velho: Quanto for mais avisado quem de amor vive penando, terá menos siso amando, porque é mais namorado. Em conclusão: que amor não quer razão, nem contrato, nem cautela, nem preito, nem condição, mas penar de coração sem querela.

Moça: Onde há desses namorados? A terra está livre deles! Olho mau se meteu neles! Namorados de cruzados, isso si!...

Velho: Senhora, eis-me eu aqui, que não sei senão amar. Oh meu rosto de alfeni! Que em hora má eu vos vi.

Moça: Que Velho tão sem sossego!

Velho: Que garridice me viste?

Moça: Mas dizei, que me sentiste, remelado, meio cego?

Velho: Mas de todo, por mui namorado modo, me tendes, minha senhora, já cego de todo em todo.

Moça: Bem está, quando tal lodo se namora.

Velho: Quanto mais estais avessa, mais certo vos quero bem.

Moça: O vosso hortelão não vem? Quero-me ir, que estou com pressa.

Velho: Que fermosa! Toda a minha horta é vossa.

Moça: Não quero tanta franqueza.

Velho: Não pra me serdes piedosa, porque, quanto mais graciosa, sois crueza. Cortai tudo, é permitido, senhora, se sois servida. Seja a horta destruída, pois seu dono é destruído.



Moça: Mana minha! Julgais que sou a daninha? Porque não posso esperar, colherei alguma coisinha, somente por ir asinha e não tardar.

Velho: Colhei, rosa, dessas rosas! Minhas flores, colhei flores! Quisera que esses amores foram pérolas preciosas e de rubis o caminho por onde is, e a horta de ouro tal, com lavores mui sutis, pois que Deus fazer-vos quis angelical. Ditoso é o jardim que está em vosso poder. Podeis, senhora, fazer dele o que fazeis de mim.

Moça: Que folgura! Que pomar e que verdura! Que fonte tão esmerada!

Velho: N’água olhai vossa figura: vereis minha sepultura ser chegada.

Canta a Moça:

Cual es la niña que coge las flores sino tiene amores?

Cogia la niña la rosa florida; El hortelanico prendas le pedia sino tienes amores.

Assim cantando, colheu a Moça da horta o que vinha buscar e, acabado, diz: Eis aqui o que colhi; vede o que vos hei de dar.

Velho: Que me haveis vós de pagar, pois que me levais a mi? Oh coitado! Que amor me tem entregado e em vosso poder me fino, como pássaro em mão dado de um menino!

Moça: Senhor, com vossa mercê.

Velho: Por eu não ficar sem a vossa, queria de vós uma rosa.

Moça: Uma rosa? Para que?

Velho: Porque são colhidas de vossa mão, deixar-me-eis alguma vida, não isente de paixão mas será consolação na partida.

Moça: Isso é por me deter, Ora tomai, e acabar!

Tomou o Velho a mão: Jesus! E quereis brincar? Que galante e que prazer!

Velho: Já me deixais? Eu não vos esqueço mais e nem fico só comigo. Oh martírios infernais! Não sei por que me matais, nem o que digo.

Continua...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A 23 DE OUTUBRO DE 1907 NASCEU (OFICIALMENTE) HERMINIA SILVA

Hermínia cantando com o seu... Armando... e o seu João...

Embora algumas fontes apontem o dia 2 de Outubro de 1913 como a verdadeira data de nascimento da fadista Hermínia Silva, os documentos oficiais indicam que esse acontecimento teve lugar a 23 de Outubro 1907. Seis anos antes do que vulgarmente consta nas biografias oficiais, data comprovado no livro pelo "acento de nascimento".



Hermínia Silva numa criação sua.. O Padrinho...


Hermínia Silva nasceu pois, em 1907, cinco anos depois de Ercília Costa, a primeira fadista que saiu das fronteiras de Portugal. Cedo se tornou presença notada nos retiros de Lisboa, que não hesitaram em contratá-la, pela originalidade com que cantava o Fado. A Canção dos Bairros de Lisboa estava-lhe nas veias, não fora ela nascida, ali mesmo junto ao Castelo de São Jorge. As "histórias" dos amores da Severa com o Conde de Vimioso estavam ainda frescas na memória do povo. O Fado fazia parte do seu quotidiano.



Bem acompanhada...

Rapidamente, a sua presença foi notada nos retiros, e passados poucos anos, em 1929, Hermínia Silva estreava-se numa Revista do Parque Mayer. Era a primeira vez que o Fado vendia bilhetes na Revista. Alguns jornais da época, referiam-se a ela, como a grande vedeta nacional, chegando a afirmar-se, que a fadista tinha "uma multidão de admiradores fanáticos". A sua melismática criativa, a inclusão no Fado, de letras menos tristes, por vezes com um forte cunho de crítica social, e o seu empenho em trazer para o Fado e para a guitarra portuguesa, fados não tradicionais, compostos por maestros como Jaime Mendes, compositores como Raul Ferrão, criando assim o chamado "fado musicado", aquele fado cuja música corresponde unicamente a uma letra, se bem que composto segundo a base do Fado, e em especial, tendo em atenção as potencialidades da guitarra portuguesa.


Ambiente sempre popular... e castiço...

Hermínia Silva torna-se assim, sem o haver planeado, num dos vértices do Fado, tal qual hoje ele existe, enquanto estilo musical: Alfredo Marceneiro foi o primeiro vértice, o da exploração estilística do Fado Tradicional, tendo em Ercília Costa o seu maior ícone; Hermínia viria a trazer o Fado para as grandes salas do Teatro de Revista, e viria a "inaugurar" a futura Canção Nacional, com acompanhamentos de grandes orquestras, dirigidas por maestros, que também eram compositores. A sua fama atingiu um tal ponto que o Cinema, quis aproveitar o seu sucesso como figura de grande plano.


Uma bela imagem de marca que havia de ficar para sempre...

Efectivamente, nove anos depois de se ter estreado na Revista, Hermínia integra o elenco do filme de Chianca de Garcia, Aldeia da Roupa Branca (1938), num papel que lhe permite cantar no filme. Nascera assim, a que viria a ser considerada, a segunda artista mais popular do século XX português, depois de Amália Rodrigues, o terceiro vértice do Fado, ainda por nascer.


Uma bela foto da artista...

Depois de várias presenças no estrangeiro, com especial incidência no Brasil e em Espanha, Hermínia aposta numa carreira mais concentrada em Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de avião, inviabilizou-lhe muitos contratos que surgiam em catadupa. Mas, Hermínia estava no Céu, na sua Lisboa das sete colinas.


Bem jovem...

Em 1943 é chamada para mais um filme, o Costa do Castelo, em 1946 roda o Homem do Ribatejo, passando regularmente pelos palcos do Parque Mayer, fazendo sucesso com os seus fados e as suas rábulas de Revista. Efectivamente, Hermínia consegue alcançar tal êxito no Teatro, que o SNI, atribui-lhe o "Prémio Nacional do Teatro", um galardão muito cobiçado na época. Até 1969, em "O Diabo era Outro", a popularidade da fadista encheu os écrans dos cinemas de todo o país. Vieram mais Revistas, mais recitais, muitos discos de sucesso...


Com Alfredo Marceneiro, outra lenda do Fado...

Mas, para quem quisesse conhecer a grande Hermínia bem mais de perto, tinha a oportunidade de ouro, de vê-la ao vivo e a cores, sem microfone, na sua Casa - o Solar da Hermínia, em Benavente, restaurante que manteve quase até ao fim da sua vida artística, onde tantas tardes de domingo me habituei a ouvi-la. Estudava eu, na época, no Colégio Nossa Senhora da Paz, nessa belíssima terra encostadinha ao Rio Sorraia.


Ao fundo o velhinho Solar da Hermínia em Benavente... à esquerda da foto, a bomba de gasolina... e ao lado a entrada para o refeitório do colégio... alguém se lembra?

No regresso de casa para o Colégio ao domingo, ou em fins de semana que não íamos a casa, era um hábito para nós jovens estudantes do colégio, passar-mos alguns agradáveis momentos ouvindo a brilhante Hermínia Silva. O “Solar da Hermínia” sempre foi aliás, o grande poiso da rapaziada do meu tempo, mesmo durante a semana e quando os intervalos das aulas davam para isso. Que tempos meu Deus! Que privilégio!


Recordar Hermínia...

Felizmente, o Estado Português, o Antigo e o Contemporâneo, reconheceu Hermínia Silva. São vários os Prémios e Condecorações, as distinções e as nomeações, justíssimas para uma artista, que fez escola, e que hoje, constitui um dos três maiores nomes da Canção Nacional, ao lado de Marceneiro e de Amália, que por razões diferentes, pelos "apports" de forma e conteúdo distintos que trouxeram à Canção de Lisboa, fizeram dela, o Fado, tal qual hoje é entendido, cantado, tocado e formatado.


Uma mulher especial....

A sacerdotisa cantou quase até partir para a dimensão do Espírito, em 13 de Junho de 1993. Morria assim, uma das maiores vedetas do Fado e do Teatro de Revista Português.


Dona Hermínia Silva com Dona Amália Rodrigues.... o Fado...


Texto da Wikipédia, com uma pequena parte de minha autoria.

Fotos da Net

António Inglês