sábado, 16 de agosto de 2008

A 16 DE AGOSTO DO ANO DE 1900 MORRE EÇA DE QUEIRÓS

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Nascido a 25 de Novembro de 1845, José Maria Eça de Queirós morre em Paris a 16 de Agosto do ano de 1900. Acometido de grave doença, já em fase terminal, procura especialistas e mudança de ares, primeiro na Riviera francesa, em Biarritz; depois, passa aos Alpes suíços, especialmente Lucerna. Regressando à pressa a Paris, aqui vem a falecer em 16 de Agosto, na casa de Neuilly; a 17 de Setembro, os restos mortais abrem o funeral em Lisboa.



Iniciou a sua carreira nas letras, quando era finalista do curso da Faculdade de Direito de Coimbra, com folhetins dominicais na Gazeta de Portugal. De 1866 a 1875, Eça escreve temas românticos mas já com processos de descrição realista. Fazem parte desta época, Prosas Bárbaras, Mistério da Estrada de Sintra e alguns contos. De 1875 a 1887, entra na fase realista, com uma forte crítica social. Neste período, cria o romance de costumes, com análise objectiva e, por vezes, até cruel da sociedade, tendo por sustentáculo a ironia.



O Crime do Padre Amaro, O primo Basílio, O Mandarim, A Relíquia, Uma Campanha Alegre e Os Maias, pertencem a este período, sendo esta última obra considerada o expoente máximo do realismo português. Numa terceira fase, de cariz nacionalista / realista (1887 a 1900), de tendências por vezes excessivas, embora atenuadas pela moderação e pelo sarcasmo, inserem-se A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, A Correspondência de Fradique Mendes, Últimas Páginas e diversos contos.



José Maria de Eça de Queiroz nasceu numa casa da praça do Almada na Póvoa de Varzim, no centro administrativo da cidade; foi baptizado na Igreja Matriz de Vila do Conde . Filho de José Maria Teixeira de Queiroz e de Carolina Augusta Pereira d'Eça.Eça de Queiroz foi baptizado como "filho natural de José Maria d'Almeida de Teixeira de Queiroz e de Mãe incógnita". Este misterioso assento dever-se-á ao facto de a mãe do escritor, Carolina Augusta Pereira de Eça, não ter obtido consentimento da parte de sua mãe, já viúva do coronel José Pereira de Eça, para poder casar .


De facto, seis dias após a morte da avó que a isso se opunha, casaram os pais de Eça de Queiroz, já o menino tinha quase quatro anos. Por via destas contingências foi entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, a casa da sua avó paterna que em 1855 morreu. Nesta altura foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra onde estudou direito. Além do escritor, o casal teria mais seis filhos.



O pai era magistrado, formado em Direito por Coimbra. Foi juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e poeta. Em Coimbra, Eça foi amigo de Antero de Quental. Seus primeiros trabalhos, publicados como um folhetão na revista "Gazeta de Portugal", apareceram como colecção, publicada depois da sua morte sob o título Prosas Bárbaras.



Em 1869 e 1870, Eça de Queiroz viajou ao Egipto e visitou o canal do Suez que estava a ser construído, que o inspirou em diversos dos seus trabalhos, o mais notável dos quais o O mistério da estrada de Sintra, em 1870, e A relíquia, publicado em 1887. Em 1871 foi um dos participantes das chamadas Conferências do Casino.




Quando foi despachado mais tarde para Leiria para trabalhar como um administrador municipal, escreveu sua primeira novela realista da vida portuguesa, O Crime do Padre Amaro, que apareceu em 1875. Aparentemente, Eça de Queiroz passou os anos mais produtivos de sua vida em Inglaterra, como cônsul de Portugal em Newcastle e em Bristol. Escreveu então alguns dos seus trabalhos mais importantes, A Capital, escrito numa prosa hábil, plena de realismo. Suas obras mais conhecidas, Os Maias e O Mandarim, foram escritas em Bristol e Paris respectivamente.



Seu último livro foi A Ilustre Casa de Ramires, sobre um fidalgo do séc XIX com problemas para se reconciliar com a grandeza de sua linhagem. É um romance imaginativo, entremeado com capítulos de uma aventura de vingança bárbara ambientada no século XII, escrita por Gonçalo Mendes Ramires, o protagonista. Trata-se de uma novela chamada A Torre de D. Ramires, em que antepassados de Gonçalo são retratados como torres de honra sanguínea, que contrastam com a lassidão moral e intelectual do rapaz.



Foi também o autor da Correspondência de Fradique Mendes e A Capital, obra cuja elaboração foi concluída pelo filho e publicada, postumamente, em 1925. Fradique Mendes, aventureiro fictício imaginado por Eça e Ramalho Ortigão, aparece também no Mistério da Estrada de Sintra. Os trabalhos de Eça de Queirós foram traduzidos em aproximadamente 20 línguas. É considerado até os dias de hoje como sendo um dos principais representantes do realismo português.

"O que queremos nós com o Realismo? Fazer o quadro do mundo moderno, nas feições em que ele é mau, por persistir em se educar segundo o passado; queremos fazer a fotografia, ia quase dizer a caricatura, do velho mundo burguês, sentimental, católico, devoto, explorador, aristocrático - apontando-o ao escárnio, à gargalhada, ao desprezo do mundo moderno e democrático - preparar a sua ruína."
Eça de Queiroz



Textos e Fotos da Net António Inglês

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

VOANDO POR ENTRE AS MEMÓRIAS!

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Engelber Humperdinck - Unchained Melody





Engelbert Humperdinck - A Man Without Love

terça-feira, 12 de agosto de 2008

DIA INTERNACIONAL DA JUVENTUDE

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O Dia Internacional da Juventude foi comemorado hoje em todo o mundo com Portugal a assinalar a data com uma série de actividades com acessos gratuitos como entradas em museus, bibliotecas ou espectáculos e ainda nos transportes públicos de Lisboa e Porto.



O Dia Internacional da Juventude, estabelecido pela Assembleia-Geral da ONU em 1999, foi hoje assinalado no nosso país com os jovens a terem a possibilidade de viajarem sem pagamento em transportes públicos.



A Câmara de Lisboa também aderiu ao Dia Internacional da Juventude, e tal como nos transportes, também as piscinas e museus da capital tiveram hoje entradas gratuitas para quem tiver entre 12 e 25 anos.



Nas linhas suburbanas da CP, no Metro, nos barcos da Transtejo e Soflusa, na Carris e nos STCP, basta mostrar um documento comprovativo da idade aos revisores. O mesmo acontece nos comboios regionais, entre eles o que liga o Porto a Aveiro. O porta voz da CP diz que é uma forma de sensibilizar os jovens para os transportes, amigos do ambiente.


Estas actividades gratuitas foram dirigidas aos jovens entre os 12 e os 25 anos e os acessos gratuitos resultaram de parcerias entre o Instituto Português da Juventude e os ministérios da Presidência, das Obras Públicas e Transportes e da Cultura.



A Associação Nacional de Municípios Portugueses também se associou e no total quase 200 autarquias juntaram-se às comemorações.



Uma "comemoração de realidades actuais e perspectivas futuras" é como define este dia o Secretário de Estado da Juventude, Laurentino Dias, que referiu ainda que a estratégia actual para a Juventude passa por "dotar de instrumentos de modernidade" os jovens para que estes preparem melhor o futuro ao nível escolar, o ingresso no mercado de emprego e terem igualdade de oportunidades e estilos de vida saudáveis.



Como exemplo prático de quem superou os "desafios" lançados e soube aproveitar as oportunidades disponíveis, Laurentino Dias aponta o atleta olímpico Pedro Póvoa, que terminou, através do programa Novas Oportunidades, o 12.º ano, diploma que obteve na sexta-feira, em vésperas da sua partida para Pequim onde participará no torneio olímpico de Taekwondo.



Texto e fotos da Net

António Inglês

ABRAM A JANELA. QUERO VER O MAR!

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De férias pelo Alto Minho, nessa lindíssima região que tanto fascínio me provoca, deixei-me levar durante alguns minutos (muitos) pela saudade.
De olhos postos no mar de Afife, não foi fácil arrancar-me dali porque a memória se agarrou àquela areia.
A alma ficou-me enfeitiçada pelo rebentar das ondas, que meigamente abraçam os rochedos e os sentidos rendidos ao aroma que o sargaço teima em me oferecer.
Recuei no tempo e fiquei paralisado de olhos fixos no
MAR cujo efeito hipnotizador me permite viajar pelo tempo em poucos segundos.
Ao contemplar a saudosa imaginação por entre as dunas de Afife, percebi que o meu destino está definitivamente ligado ao mar. Não a um mar qualquer, mas àquele mar da minha praia de menino onde tantas aventuras, tantas promessas, tantas paixões marcaram a sua época.
Quando a hora chegar, quero dizer o mesmo que Rosalía de Castro disse ao ver a morte aproximar-se:

“ABRAM A JANELA. QUERO VER O MAR!”

Com a ajuda de Maria Luísa Paiva Boléo aqui vos deixo um pouco da história desta ilustre escritora e poetisa galega.



Escritora e poeta galega, das mais ilustres. O seu mais divulgado livro é Cantares Gallegos. Teve vários filhos. Morreu de cancro. Ao aproximar-se a morte, já delirando pediu: Abram a janela. Quero ver o mar!

Nascida em Santiago de Compostela, em Fevereiro de 1837, Rosalía de Castro deixou uma obra ímpar. Os seus Cantares Gallegos são unanimemente considerados como a primeira grande obra da literatura galega contemporânea, vindo assim contrariar um conceito antigo de que o idioma galego não é propício à poesia.




Noite de Inverno chuvosa, em Santiago de Compostela. A catedral barroca impõe-se com a sua majestade. Alguém passa apressado, e discreto, debaixo das arcadas bem protegido da insidiosa chuva. Dirige-se ao Hospital Real, onde acabava de ser trancada a porta principal. O vulto bate com força. De dentro alguém reabre a porta, uma breve troca de palavras e a carta com a mensagem urgente dirigida ao médico chefe é entregue pelo vulto a uma mão que está lá dentro. Já bateram as três horas da madrugada. O médico, com a sua maleta na mão segue o criado da fidalga Dona Teresa de Castro e Abadia que ilumina o caminho com uma lanterna. Dona Teresa saiu do seu solar e hospedou-se numa modesta casa de Barreiras. O médico chega. Às 4 horas do dia 24 de Fevereiro de 1837 nasce Rosalía. Foi imediatamente baptizada, ainda nos braços do médico, numa capela contígua ao Hospital, e ficou registada com o nome de Maria Rosalía Rita. A madrinha foi uma mulher modesta, criada do solar dos Castros.
Como a nossa Florbela Espanca, Rosalía de Castro ficou marcada, desde o nascimento, por ter sido fruto de uma relação extra-conjugal. Florbela e Rosalía viriam a ser os símbolos máximos da poesia do sofrimento e da tristeza, da amargura e da fatalidade. As suas vidas tiveram, no entanto, rotas diferentes. Florbela não era fidalga, mas a menina galega, era filha de Doña Maria Teresa de La Cruz de Castro y Abadia, de ascendência nobre e o pai um seminarista, ou sacerdote, de nome José Martinez Viojo. Muitas enciclopédias omitiram durante anos esta condição do pai de Rosalía, bem como o facto de ela ter sido registada como filha de pais incógnitos. Eram tempos impiedosos para quem nascia fora das regras estabelecidas. O seu nascimento, nestas circunstâncias marcou profundamente a sensibilidade de Rosalía de Castro. A vida também lhe não sorriu, como a Florbela. A sua única felicidade foram os filhos, mas dos sete que gerou, apenas Gala sobreviveu.



Rosalía foi educada e mimada por duas tias paternas, na aldeia de Ortoño na Casa do Castro. Até aos oito anos viveu como qualquer menina de aldeia, se bem que com outro conforto. No entanto, foi este contacto com os costumes e cantares galegos que imprimiram um cunho especial a esta menina de sangue fidalgo, mas de coração e alma embalados por essa língua galega que ela tão bem conheceu e amou. Rosalía estava longe da mãe, porque era necessário preservá-la de comentários sobre o seu nascimento “indigno”. Na época um nascimento destes tinha de ser abafado, para que o escândalo não arruinasse a reputação de uma casa fidalga, mas Doña Teresa amava a filha e não suportando a ausência da filha, passados anos reclama a sua presença. Mãe e filha vão finalmente viver juntas.
Aos 14 anos Rosalía estuda em Santiago de Compostela, onde tem aulas de desenho e música. Também frequentava actividades culturais organizadas pelo Liceo de la Juventude. Nessa altura conhece Eduardo Pondal, Aurelio Aguirre por quem Rosalía se apaixona. Por ali aparece também Manuel Murguía com quem virá, mais tarde, a casar. Nestes tempos Rosalía dedica grande parte do tempo à música. Tocará piano mesmo depois de casada. Os filhos gostavam de ouvir os acordes do piano ecoarem pela casa e, quem sabe Rosalía refugiava-se na poesia e na música para esconder as suas amarguras.
Galiza foi durante séculos a mais agreste região da Espanha e durante muito tempo as fomes eram cíclicas e devastadoras. Nos séculos XIX e parte do XX a única solução de sobrevivência era a emigração. Partiam os homens deixando as mulheres sós, as “viúvas de vivos”, como lhes chamou Rosalía de Castro.
O ano de 1853 teve um Inverno extremamente rigoroso e por toda a Galiza grassava a fome e a miséria. Rosalía de Castro e a mãe vão viver para o antigo convento de Santo Agostinho, onde funcionava então o Liceo de la Juventude e aqui Rosalía chegou a protagonizar peças de teatro. Em 1856 parte sozinha para Madrid, tendo ficado hospedada em casa de uma prima da mãe, Doña Carmen García-Lugin, que morava na rua da Ballesta.




Embora Manuel Murguía convivesse com o grupo de amigos de Rosalía em Santiago de Compostela, só se vão conhecer e casar mais tarde, precisamente em Madrid.
Manuel Murguia chegou a cursar Farmácia, mas depois enveredou para outras áreas como História, literatura, arqueologia. Pedagogo e jornalista é considerado um dos mais representativos eruditos do seu tempo. A ele se deve que a obra poética de Rosalía tenha sido publicada e conhecida. Modesta a autora sugeriu que ele publicasse mas que colocasse o nome dele como autor, o que não aconteceu. Daí Rosalía ser conhecida e reconhecida como autora de grande mérito.
Os espanhóis das colónias espanholas eram um dos seus públicos mais entusiastas. Sentiam-se irmanados na poesia desta galega discreta e tão sensível.
Manuel Murguía e Rosalía casaram em 10 de Outubro de 1858, em Madrid. As vendedeiras do mercado de Santo Ildefonso repararam naquela noiva alta e bonita que saía da igreja pelo braço daquele exótico senhor baixinho de barba escura e «sombrero de copa y levita». Na boda estiveram amigos de ambos, do mundo político e artístico de Madrid, mas Doña Teresa de Castro não quis estar presente. A noiva contava 20 anos e o noivo 25. Nesse tempo Murguia escrevia para jornais.

Em 1858 Rosalía perde o seu grande amigo Aurelio Aguirre e no ano seguinte a sua melhor amiga. Tinham ambas ido à festa da Virgem de la Barca em Muxia. Era Setembro. Ambas apanham o tifo, mas em poucos dias morre Eduarda Pondal. Rosalía desfeita pelo desgosto escreve La Hija del Mar, depois integrado nos Cantares Gallegos.

Os meses passam e a jovem Rosalía sabe que vai ser mãe, mas passa uma gravidez dolorosa. Regressa a casa e vai viver com a mãe numa rua perto da Catedral de Santiago de Compostela. Ali nasce a primeira filha, Alexandra, em 1859. O emprego precário do marido faz com que passem a vida a mudar de terra, entre 1858 e 1875. Em 1860 vivem na Corunha, onde Manuel Murguía é director do Arquivo Geral da Galiza.
Em 1861 Rosalía publica Flavio (prosa), mas parece que os desgostos se seguem na sua vida numa sequência constante. Em 1862 perdeu a mãe que ela adorava e expressou a sua dor em A Mi Madre, poesia dedicada aquela que ela amou sem reservas, sem qualquer ressentimento pelo seu nascimento. Edição de 1863. Hoje é uma raridade, porque apenas se fizeram 50 exemplares que Rosalía deu apenas aos mais íntimos. Em 1868 nasceu a segunda filha, Aura. Em 1871 nascem os gémeos Gala e Ovídio e, em 1873 a filha Aura. Mas a doença de Rosalía de Castro agrava-se a cada parto. Em 1875 nasce Adriano, que morre de uma queda, apenas com dois anos. Rosalía chora através da sua poesia: «mi niño, tierra rosa (...)Que sosiego en tu fronte! Al verle yo alejarse! Qué borrasca en la mía ». Ao desgosto da perda dos filhos somava-se um casamento não completamente feliz, como se depreende das cartas que escrevia aos mais íntimos. Mais tarde a filha Gala diria que não era verdade a mãe ser triste e infeliz, que ria muito e brincava e tocava piano para os filhos. Quem podia saber o que lhe ia na alma?



Rosalía foi «céptica perante o amor». Para o prof. Jacinto do Prado Coelho, a obra de Rosalía é caracterizada «pela pungente amargura dos seus versos.» Para o prof. francês Claude Henri Poullin, que fez doutoramento sobre a obra de Rosalía de Castro a sua poesia é «a encarnação e símbolo da alma galega.» E acrescenta que Rosalía não surge como um fenómeno isolado, mas sim integrada num conjunto da literatura espanhola da segunda metade do séc. XIX a que se chamou renascimento galego e onde temos nomes como Eduardo Pondal (1835-1917), amigo de Rosalía, Manuel Curros Enriquez (1881-1908). Estes, com Rosalía «constituem o grande triunvirato do renascimento galego do séc. XIX» (Ernesto Guerra Da Cal).
Certos críticos literários são de opinião que a vida de um poeta tem de ser sofrida, não saída de quem tem cama fofa e risonha, para que as palavras possam tocar quem as lê. Verdade ou não, no caso de Florbela Espanca, como no de Rosalía a dor vivida é patente, real. A vida da poeta galega foi realmente pungente. Em 1874 nasceu morta a última filha, a quem puseram o nome de Valentina. «Todo acabó, quiza, menos mi pena.» Em 1880 é editado Follas Novas que são um conjunto de poesias escritas ao longo de vários anos. Uma crítica no jornal El Imparcial de 4 de Abril de 1881 em termos francamente negativos, atacando a autora por denunciar os males da emigração e a tristeza das mulheres galegas, fez com que Rosalía, profundamente sentida, nunca mais escrevesse em galego. A partir dessa data só escreveu em castelhano.
A obra que a tornou conhecida no mundo literário foi Cantares Gallegos, editado em 1883. São trinta e cinco poemas considerados obra fundamental do ressurgimento poético galego. O livro teve muito boa recepção junto dos espanhóis de além-Atlântico, especialmente na Argentina, Cuba e Uruguai. Os escritores portugueses Antero de Quental e Teófilo Braga escreveram com admiração e apreço sobre este livro de Rosalía. Também para En las Orillas del Sar os leitores foram muitos e sentiam enorme admiração por esta filha da Galiza, autêntica e cheia de talento, que recorda a cidade de Padrón, onde viveu a sua meninice e onde há hoje uma casa-museu em sua homenagem.


Mas a doença ia minando o seu corpo frágil. Rosalía sofria em silêncio. Nem o próprio marido jamais soube a extensão do seu mal. Só o médico de Padrón, o dedicado Dr. Roque Membiela a quem Rosalía oferecia os seus livros com uma dedicatória que terminava sempre do mesmo modo: «a sua eterna enferma», sabia que a doença era incurável.

Sabendo que o seu fim se aproximava Rosalía de Castro quis ir a Carril com os filhos para ver o mar, esse mar que ela tanto cantou na sua poesia. Volta então para casa e o poeta galego, Lisardo Barreiro, que a visitou, no leito de morte, diria. «Ali estava como a pomba ferida que permanece para sempre rodeada dos filhos.»
No dia 15 de Junho de 1885 Rosalía vítima de cancro pede, já delirando: «Abram a janela que quero ver o mar!» e morre serenamente. Antes, pedira às filhas que queimassem todos os manuscritos inéditos. Sabe-se que este pedido foi cumprido de imediato, com a ajuda do padre que lhe ministrou a extrema-unção, aproveitando a ausência do marido que tal não teria consentido.
Ficou sepultada em Adina, mas fruto de um movimento de solidariedade de todos aqueles que lhe quiseram dar um lugar mais digno para dormir o último sono, em Maio de 1891 foi transladada, em cerimónia de grande dignidade e pompa para o Pantéon de Galegos Ilustres no convento de São Domingos, em Santiago de Compostela.
A sua última viagem foi de combóio, do cemitério de Iria Flavia para Santiago de Compostela. Estava um dia límpido e ameno. Das colónias galegas vieram representantes. Foi um enorme cortejo, onde se incorporaram todos os galegos e espanhóis que a admiravam, desde os anónimos aos mais ilustres. Houve elogio fúnebre e cânticos religiosos. A escritora Emilia Pardo Bazán leu um texto escrito para a ocasião. Galegos da América espanhola patrocinaram a estátua a Rosalía de Castro erigida no chamado, em 1917, passeio da Ferradura, em Santiago de Compostela.
Esta poeta galega de enorme talento não terá tido, em vida, toda a notoriedade que merecia, mas como disse alguém: «A popularidade nem sempre é o melhor caminho para a imortalidade.» Para terminar, um pouco mais do talento de Rosalía, nestes palavras que nos deixou:

«Arbol duro y altivo que gustas
De escuchar el rumor del océano
Y gemir com la brisa marina
De la playa en el blanco,
Yo te amo!...»


Texto de Maria Luísa V. de Paiva Boléo
Portal O Leme
Fotos da Net



António Inglês