sábado, 1 de novembro de 2008

LISBOA - 1 DE NOVEMBRO DE 1755


A 1 de Novembro de 1755, às 9 horas e 30 ou 40 minutos, um violento terramoto atinge Lisboa e outras localidades portuguesas, provocando entre 12 a 15 mil vítimas mortais. A terra tremeu três vezes, num total de 17 minutos. O sismo teve o epicentro no mar, a oeste do estreito de Gibraltar, atingindo o grau 8,6/9 na escala de Richter.




O sismo fez-se sentir nessa manhã de 1 de Novembro de 1755 às 9:30 ou 9:40, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. O epicentro não é conhecido com exactidão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude terá atingido 9 na escala de Richter.




Com os vários desmoronamentos, os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um tsunami, que actualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura, havendo relatos de ondas com mais de vinte metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado até 250 metros. Nas áreas que não foram afectadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.




Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o tsunami que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se naquela costa, ondas com quase 30 metros de altura.




De uma população de 275 mil habitantes em Lisboa, crê-se que mais de quinze mil morreram, 900 das quais vitimadas directamente pelo tsunami. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por lareiras de cozinha, velas e mais tarde por saqueadores em pilhagens dos destroços.




Na voragem do terramoto de 1755 desapareceram cinquenta e cinco palácios, mais de cinquenta conventos, a Biblioteca Real, vastíssima em livros e manuscritos e as livrarias (como sinónimo de bibliotecas) dos conventos de S. Francisco, Trindade e Boa Hora. As chamas reduziram a cinzas milhares de livros em cinco casas de mercadores de livros franceses, espanhóis e italianos, e em vinte e cinco – contadas por Frei Cláudio da Conceição – lojas e casas de livreiros. Salvou-se o precioso arquivo da Torre dos Tombo, devido aos cuidados do seu guarda-mor Manuel da Maia. Um jovem inglês de apelido Chase, que presenciou tudo, escreveu numa carta á família:



«Porque o povo possuído da ideia de que era o Dia do Juízo, e querendo-se antes empregar em obras pias, tinha-se sobrecarregado de crucifixos e santos, e tanto os homens como as mulheres, durante os intervalos dos tremores, entoavam ladainhas ou atormentavam cruelmente os moribundos com cerimónias religiosas e, cada vez que a terra tremia, todos de joelhos bradavam misericórdia, com a voz mais angustiosa que imaginar se possa.» Balanço da tragédia: entre 12 a 15 mil vítimas mortais, numa população de 260 mil e mais de 10 mil edifícios destruídos. Voltaire, em Genebra, escreve impressionado "Poème sur le désastre de Lisbonne".



Extratos de textos tirados da Net

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António Inglês


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

DIA DE PREVENÇÃO CONTRA O CANCRO DA MAMA


Cancro da mama mata 1800 portuguesas por ano

O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro alertou, esta quarta-feira, para o facto desta doença matar por ano 1.800 mulheres portuguesas. Vítor Veloso referindo ainda que todos os anos surgem cinco mil novos casos no país

O número de casos conhecidos tem aumentado nos últimos cinco anos devido ao alargamento de rastreios, que permitem a detecção precoce da doença, e aos estilos de vida actuais, que incluem stress, má alimentação, sedentarismo e tabaco.

Em declarações à Lusa, o coordenador nacional das doenças oncológicas, Pedro Pimentel, acrescentou, por seu lado, que os números em cinco anos mostram uma taxa de sobrevivência entre os 75 e os 80 por cento.

«Tem-se registado um decréscimo sustentado e consistente na mortalidade, que passa pela cobertura do programa de rastreio e a maior consciencialização das mulheres, que permite um diagnóstico mais precoce» e uma maior taxa de sucesso no tratamento, referiu.

Actualmente, o rastreio está acessível a metade das portuguesas, mas o presidente da Liga acredita que no máximo de dois anos a totalidade da população possa estar abrangida.

Com uma cobertura total do programa, a mortalidade poderá diminuir em 20 por cento num período de cinco a 10 anos, acrescentou à Lusa Vítor Veloso

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A nível de tratamentos, Vítor Veloso referiu as inovações a nível da radioterapia, cujos equipamentos são actualmente «mais dirigidos e mais eficazes», e da hormoterapia e quimioterapia.

VISAO.pt




Vestir cor-de-rosa contra o cancro da mama

A associação Ame e Viva a Vida convida Portugal a vestir-se hoje de cor-de-rosa para assinalar o dia nacional de luta contra o cancro da mama, doença que mata 1.800 mulheres portuguesas por ano.

Além do pedido para toda a gente vestir uma peça cor-de-rosa, a associação vai distribuir um folheto de sensibilização e informação nas 18 capitais de distrito.

O médico e também fundador da associação Fortuna Campos explicou que o folheto ensina o auto-exame, refere a importância das consultas e de mamografias periódicas.

O auto-exame deve ser feito a partir dos 20 anos e até à menopausa, uma vez por mês, depois do período menstrual. A realização da primeira mamografia deve ser feita por volta dos 35/40 anos e a sua repetição periódica é determinada por factores de risco e avaliação médica.

Entre os factores de risco estão casos de cancro na família, uma primeira menstruação precoce (antes dos 11 anos) e uma menopausa tardia (após os 55 anos).

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Em declarações à Agência Lusa, o coordenador nacional das doenças oncológicas, Pedro Pimentel, acrescentou, por seu lado, que os números em cinco anos mostram uma taxa de sobrevivência entre os 75 e os 80 por cento.

Actualmente, o rastreio está acessível a metade das portuguesas, mas o presidente da Liga acredita que no máximo de dois anos a totalidade da população possa estar abrangida.

Com uma cobertura total do programa, a mortalidade poderá diminuir em 20 por cento num período de cinco a 10 anos, acrescentou à Lusa Vítor Veloso.


dnotícias.pt

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António

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

MOMENTO DE REFLEXÃO E DE RARA BELEZA



Tem alturas na vida que nos faz bem purificar a alma, relaxar, deleitar os olhos com imagens que nos transmitem a paz de que tanto necessitamos.

A minha postagem de hoje, desculpem-me os restantes amigos, é dedicada à minha amiga ISABEL do A Ver o Mar.

Ela foi importante em momentos importantes da minha vida. Deu-me força, transmitiu-me coragem, e ajudou a ultrapassar uma fase em que uma mão, uma palavra amiga fizeram a diferença.

Hoje, lembrei-me de lhe dedicar esta simples lembrança de agradecimento e dizer-lhe que os amigos, mesmo virtuais, desde que verdadeiros, nunca se esqueçem, nunca se abandonam.

Estou ainda por cá, e agradeço-te a quota parte que tiveste nessa minha decisão, mas quero continuar a ver-te por aqui, mesmo que menos vezes!

Obrigado amiga Isabel!

António




terça-feira, 28 de outubro de 2008

DIA NACIONAL DA TERCEIRA IDADE


29 DE OUTUBRO

A população no mundo está ficando cada vez mais velha e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por volta de 2025, pela primeira vez na história, haverá mais idosos do que crianças no planeta.

A existência, em Portugal, de um dia dedicado à Terceira Idade, tem como fim chamar a atenção para a situação financeira, social e afectiva em que vive a maior parte dos cidadãos desta faixa etária. Embora uma pequena parcela da população idosa aufira rendimentos suficientes para levar uma existência minimamente aceitável, a maioria passa bastantes dificuldades, competindo aos filhos suprir as necessidades económicas dos pais idosos e, sobretudo, distribuir-lhes carinho idêntico àquele que deles receberam enquanto foram jovens. As crianças, por sua vez, deverão respeitar e valorizar o papel dos avós na vida familiar. Socialmente, nada há mais triste que abandonar idosos em lares, não permitindo a cooperação e a partilha de saberes entre as diferentes gerações. Conta-se que, há muitos anos, numa terra longínqua, sempre que alguém atingia uma idade avançada, o seu filho entregava-lhe um cobertor e abandonava-o num monte, onde ficava a aguardar a morte. Certo dia, um idoso, ao chegar a sua vez de ser deixado no referido monte, devolveu o cobertor ao filho, dizendo-lhe: "fica com ele, assim já terás dois cobertores para te aqueceres quando também chegar a tua vez de para aqui vires". Só então o filho se apercebeu de quão terrível era aquele costume e trouxe o pai de volta ao seio familiar.

O Leme





Estudos mostram idosos portugueses com pensões baixas e vítimas de violência

Dois estudos sobre os idosos portugueses, hoje conhecidos, traçam um retrato triste da população na velhice. Um inquérito quis conhecer as atitudes em relação à reforma em 26 países em todo o mundo. Outro revelou que triplicaram os casos de violência contra idosos em Portugal.


A população portuguesa na reforma tem das pensões mais baixas da Europa, logo a seguir à Hungria e República Checa, com uma diferença de 110 euros entre o valor que recebe e o que necessitaria para saldar as despesas domésticas. Em contra ciclo com outros povos europeus, os portugueses consideram que deveriam trabalhar menos anos.


Os activos apontam que a reforma deveria ser aos 58-59 anos e os reformados estimam que a idade legal deveria ser aos 62. Cinquenta e dois por cento dos portugueses na reforma, e que responderam ao inquérito, obteve a pensão antes da idade estipulada na lei e por vontade própria.

As expectativas dos portugueses, que apontam para um decréscimo da qualidade de vida quando chegar o momento da reforma, acabam por ser confirmadas com a saída do mercado laboral. O estudo revela que o nível de vida dos reformados portugueses está abaixo da média dos países da Europa Ocidental. O facto de seis em dez reformados terem uma pensão inferior ao último salário justifica esta queda de rendimentos.

Estes dados explicam, pois, que os portugueses, tal como italianos, húngaros e japoneses, associem à palavra “reforma” os substantivos “morte, velhice, doença e dificuldades financeiras”.

O quadro sócio-económico influencia o retrato formulado para a idade da reforma, com os meios rurais a apontaram maiores níveis de pessimismo e a classe média-alta com uma abordagem mais positiva. Metade dos respondentes, neste contexto sócio-económico, revela intenção de desempenhar uma actividade profissional remunerada na reforma.



Japão e França acompanham Portugal na baixa expectativa quanto à evolução da qualidade de vida. Para colmatar a questão, 78 por cento da população activa japonesa quer continuar a exercer uma actividade remunerada durante a reforma.

Os franceses são quem mais consegue concretizar os projectos de viajar numa situação de reforma. Projectos comuns à maior parte dos portugueses que participaram no estudo, mas que não chegam a sair do papel. O apoio à família acaba por ser a principal ocupação dos idosos lusos. Contudo, o investimento em planos de baixo risco e um rendimento mínimo, assim como o planeamento da reforma com pouca antecipação (em comparação com outros povos europeus) poderão explicar que sejam os avós portugueses a mais esperarem ajuda financeira dos filhos.

Os futuros reformados portugueses dizem estarem pouco informados quanto ao valor da pensão, consideram que os sistemas sociais são uma tarefa do Estado, mas a partir de um acidente ou problema de saúde acabam por iniciar um plano de poupança acentuado, superior ao efectuado na França e Bélgica, apesar dos mais baixos rendimentos.

A Segurança Social portuguesa está numa situação caótica, com um índice negativo acima da média da Europa Ocidental e Central. O Japão lidera a lista do pessimismo numa avaliação do próprio sistema de Segurança Social, em que 98 por cento dos activos e 94 por cento dos reformados avaliam o seu sistema como caótico.

Os recursos financeiros e a saúde são apontados como factores de felicidade pelos reformados portugueses.

O estudo consistiu em 18.114 entrevistas telefónicas, realizadas em 26 países, pelo quarto ano consecutivo para a AXA Seguros pela GFK Metris, entre meados de Julho e início de Agosto de 2007. O objectivo do estudo é “analisar e perceber as atitudes em relação à reforma, comparar a percepção e a realidade dos activos versus reformados ou em reforma antecipada e analisar os resultados de Portugal de um ponto de vista internacional”.



Violência contra idosos aumenta em Portugal


Os crimes de violência a vítimas com mais de 64 anos aumentaram de oito para 25 mil nos últimos cinco anos revela um outro estudo, que cita dados da Polícia de Segurança Pública (PSP). O aumento das denúncias pode constituir uma explicação para a elevada subida dos números da violência, sustentou fonte da PSP ao "Diário de Notícias".

“Os idosos são vítimas silenciosas, já que não apresentam queixa por medo”, explicou fonte da Procuradoria-Geral da República. O gabinete de Pinto Monteiro recebe centenas de denúncias de casos de violência contra idosos. O procurador vai pedir às distritais de Lisboa, Porto, Évora e Coimbra para alertar autarquias, juntas e Segurança Social que denunciem os casos que cheguem ao seu conhecimento.

Pinto Monteiro disse que em 2008 será prioritário combater a violência nos idosos. “Não há nenhuma crítica que me faça desistir do meu caminho” e o facto de serem poucas as denúncias de violência nos idosos explica que a necessidade e urgência em “tomar medidas”.

A agressão a idosos reveste-se de variadas formas: negligência nos cuidados de saúde e abandono, abusos físicos, maus tratos psicológicos, negligência por abandono, negligência por administração de doses erradas de medicamentos para acalmar o idoso, negligência nos cuidados de saúde, abuso sexual e tentativas de extorsão de dinheiro (em casos de filhos com pais pouco lúcidos)

O estudo “Violência contra os mais velhos. Uma realidade escondida” foi realizado pelas psicólogas Cristina Verde e Ana Almeida. Citadas pelo “Diário de Notícias”, as investigadoras concluíram que “quanto maior for o índice de dependência do idoso e a precariedade social, mais provável é ocorrerem situações de maus tratos”.

Notícias .rtp.pt

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António Inglês


O VELHO DA HORTA


Vª PARTE

Vem um Alcaide com quatro Beleguins, e diz: Dona, levantai-vos daí!

Alcoviteira: Que quereis vós assim?

Alcaide: À cadeia!

Velho: Senhores, homens de bem, escutem vossas senhorias.

Alcaide: Deixai essas cortesias!

Alcoviteira: Não hei medo de ninguém, viste ora!

Alcaide: Levantai-vos daí, senhora, daí ao demo esse rezar! Quem vos dez tão rezadora?

Alcoviteira: Deixar-me ora, na má-hora, aqui acabar.

Alcaide: Vinde da parte de el-Rei!

Alcoviteira: Muita vida seja a sua. Não me leveis pela rua; deixar-me vós, que eu me irei.

Beleguins: Sus! Andar!



Alcoviteira: Onde me quereis levar, ou quem me manda prender? Nunca havedes de acabar de me prender e soltar? Não há poder!

Alcaide: Nada se pode fazer.

Alcoviteira: Está já a carocha aviada?!... Três vezes fui já açoitada, e, enfim, hei de viver.

Levam-na presa e fica o Velho dizendo: Oh! Que má-hora! Ah! Santa Maria! Senhora! Já não posso livrar bem. Cada passo se empiora! Oh! Triste quem se namora de alguém!

Vem uma Mocinha à horta e diz: Vedes aqui o dinheiro? Manda-me cá minha tia, que, assim como no outro dia, lhe mandeis a couve e o cheiro. Está pasmado?

Velho: Mas estou desatinado.

Mocinha: Estais doente, ou que haveis?

Velho: Ai! Não sei! Desconsolado, que nasci desventurado!

Mocinha: Não choreis! Mais mal fadada vai aquela!

Velho: Quem ?

Mocinha: Branca Gil.

Velho: Como?

Mocinha: Com cem açoites no lombo, uma carocha por capela, e atenção! Leva tão bom coração, como se fosse em folia. Que pancadas que lhe dão! E o triste do pregão - porque dizia: "Por mui grande Alcoviteira e para sempre degredada", vai tão desavergonhada, como ia a feiticeira. E, quando estava, uma Moça que passava na rua, para ir casar, e a coitada que chegava a folia começava de cantar: "ua Moça tão fermosa que vivia ali à Sé..."

Velho: Oh coitado! A minha é!




Mocinha: Agora, má hora e vossa! Vossa é a treva. Mas ela o noivo leva. Vai tão leda, tão contente, uns cabelos como Eva; por certo que não se atreva toda a gente! O Noivo, moço polido, não tirava os olhos dela, e ela dele. Oh que estrela! É ele um par bem escolhido!

Velho: Ó roubado, da vaidade enganado, da vida e da fazenda! Ó Velho, siso enleado! Quem te meteu desastrado em tal contenda? Se os jovens amores, os mais têm fins desastrados, que farão as cãs lançadas no conto dos amadores? Que sentias, triste Velho, em fim dos dias? Se a ti mesmo contemplaras, souberas que não vias, e acertaras.Quero-me ir buscar a morte, pois que tanto mal busquei. Quatro filhas que criei eu as pus em pobre sorte. Vou morrer. Elas hão de padecer, porque não lhe deixo nada; da quantia riqueza e haver fui sem razão despender, mal gastada.

FIM


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O VELHO DA HORTA


IVª PARTE

Entra Branca Gil, Alcoviteira, e diz: Mantenha Deus vossa Mercê.

Velho: Olá! Venhais em boa hora! Ah! Santa Maria! Senhora. Como logo Deus provê!

Alcoviteira: Certo, oh fadas! Mas venho por misturadas, e muito depressa ainda.

Velho: Misturadas preparadas, que hão de fazer bem guisadas vossa vinda! Justamente nestes dias, em tempo contra a razão, veio amor, sem intenção, e fez de mim outro Macias tão penado, que de muito namorado creio que culpareis porque tomei tal cuidado; e do Velho destampado zombareis.

Alcoviteira: Mas, antes, senhor agora na velhice anda o amor; o de idade de amador por acaso se namora; e na corte nenhum mancebo de sorte não ama como soía. Tudo vai em zombaria! Nunca morrem desta morte nenhum dia. E folgo ora de ver vossa mercê namorado, que o homem bem criado até à morte o há de ser, por direito. Não por modo contrafeito, mas firme, sem ir atrás, que a todo homem perfeito mandou Deus no seu preceito: amarás.

Velho: Isso é o que sempre brado, Branca Gil, e não me vai, que eu não daria um real por homem desnamorado. Porém, amiga, se nesta minha fadiga vós não sois medianeira, não sei que maneira siga, nem que faça, nem que diga, nem que queira.

Alcoviteira: Ando agora tão ditosa (louvores a Virgem Maria!), que logro mais do que queria pela minha vida e vossa. De antemão, faço uma esconjuração c’um dente de negra morta antes que entre pela porta qualquer duro coração que a exorta.

Velho: Dizede-me: quem é ela?

Alcoviteira: Vive junto com a Sé. Já! Já! Já! Bem sei quem é! É bonita como estrela, uma rosinha de abril, uma frescura de maio, tão manhosa, tão sutil!...

Velho: Acudi-me Branca Gil, que desmaio.



Esmorece o Velho e a Alcoviteira começa a ladainha:

Ó precioso Santo Areliano, mártir bem-aventurado,

Tu que foste marteirado neste mundo cento e um ano;

Ó São Garcia Moniz, tu que hoje em dia

Fazes milagres dobrados, dá-lhe esforço e alegria,

Pois que és da companhia dos penados!

Ó Apóstolo São João Fogaça, tu que sabes a verdade,

Pela tua piedade, que tanto mal não se faça!

Ó Senhor Tristão da Cunha, confessor,

Ó mártir Simão de Sousa, pelo vosso santo amor.

Livrai o Velho pecador de tal cousa!

Ó Santo Martim Afonso de Melo, tão namorado.

Dá remédio a este coitado, e eu te direi um responso com devoção!

Eu prometo uma oração, todo dia, em quatro meses,

Por que lhe deis força, então, meu senhor São Dom João de Meneses!

Ó mártir Santo Amador Gonçalo da Silva, vós, que sois o melhor de nós,

Porfioso em amador tão despachado, chamai o martirizado

Dom Jorge de Eça a conselho!

Dois casados num cuidado, socorrei a este coitado deste Velho!

Arcanjo São Comendador Mor de Avis, mui inflamado,

Que antes que fosseis nado, fostes santo no amor!

E não fique o precioso Dom Anrique, outro Mor de Santiago;

Socorrei-lhe muito a pique, antes que demo repique com tal pago.

Glorioso São Dom Martinho, apóstolo e Evangelista, passai o fato em revista,

Porque leva mau caminho, e daí-lhe espírito!

Ó Santo Barão de Alvito, Serafim do deus Cupido, consolai o Velho aflito,

Porque, inda que contrito, vai perdido!

Todos santos marteirados, socorrei ao marteirado, que morre de namorado,

Pois morreis de namorados.

Para o livrar, as virgens quero chamar,

Que lhe queiram socorrer, ajudar e consolar,

Que está já para acabar de morrer.

Ó Santa Dona Maria Anriques tão preciosa,

Queirais-lhe ser piedosa, por vossa santa alegria!

E vossa vista, que todo o mundo conquista,

Esforce seu coração, porque à sua dor resista,

Por vossa graça e benquista condição.

Ó Santa Dona Joana de Mendonça, tão fermosa,

Preciosa e mui lustrosa mui querida e mui ufana!

Daí-lhe vida com outra santa escolhida que tenho in voluntas mea;

Seja de vós socorrida como de Deus foi ouvida a Cananea.

Ó Santa Dona Joana Manuel, pois que podeis, e sabeis, e mereceis.

Ser angélica e humana, socorrei!

E vós, senhora, por mercê, ó Santa Dona Maria de Calataúd,

Por que vossa perfeição lhe dê alegria.

Santa Dona Catarina de Figueiró, a Real,

Por vossa graça especial que os mais altos inclina!

E ajudará Santa Dona Beatriz de Sá:

Daí-lhe, senhora, conforto, porque está seu corpo já quase morto.

Santa Dona Beatriz da Silva, que sois aquela mais estrela que donzela,

Como todo o mundo diz!

E vós, sentida Santa Dona Margarida de Sousa, lhe socorrei,

Se lhe puderdes dar vida, porque está já de partida sem porquê!

Santa Dona Violante de Lima, de grande estima,

Mui subida, muito acima de estimar nenhum galante!

Peço-vos eu, e a Dona Isabel de Abreu, co siso que Deus vos deu,

Que não morra de sandeu em tal idade!...

Ó Santa Dona Maria de Ataíde, fresca rosa, nascida em hora ditosa,

Quando Júpiter se ria!

E, se ajudar Santa Dona Ana, sem par de, Eça, bem aventurada,

Podei-lo ressuscitar, que sua vida vejo estar desesperada.

Santas virgens, conservadas em mui santo e limpo estado,

Socorrei ao namorado, que vos vejais namoradas!

Velho:

Óh! Coitado!

Ai triste desatinado!

Ainda torno a viver?

Cuidei que já era livrado.

Alcoviteira: Que esforço de namorado e que prazer! Que hora foi aquela!

Velho: Que remédio me dais vós?

Alcoviteira: Vivereis, prazendo a Deus, e casar-vos-ei com ela.

Velho: É vento isso!

Alcoviteira: Assim seja o paraíso. Que isso não é tão extremo! Não curedes vós de riso, que eu farei tão de improviso como o demo. E também doutra maneira se eu me quiser trabalhar.

Velho: Ide-lhe, logo, falar e fazei com que me queira, pois pereço; e dizei-lhe que lhe peço se lembre que tal fiquei estimado em pouco preço, e, se tanto mal mereço, não no sei! E, se tenho esta vontade, não deve ela s’agastar; antes deve de folgar ver-nos morto nesta idade. E, se reclama que sendo tão linda dama por ser Velho me aborrece, dizei-lhe: é um mal quem desama porque minh’alma que a ama não envelhece.

Alcoviteira: Sus! Nome de Jesus Cristo! Olhai-me pela cestinha.

Velho: Tornai logo, fada minha, que eu pagarei bem isto.



Vai-se a Alcoviteira, e fica o Velho tangendo e cantando a cantiga seguinte:

Pues tengo razón, señora,

Razón es que me laa oiga!

Vem a Alcoviteira e diz o Velho: Venhais em boa hora, amiga!

Alcoviteira: Já ela fica de bom jeito; mas, para isto andar direito, é razão que vo-lo diga: eu já, senhor meu, não posso, sem gastardes bem do vosso, vencer uma Moça tal.

Velho: Eu lhe pagarei em grosso.

Alcoviteira: Aí está o feito nosso, e não em al. Perca-se toda a fazenda, por salvardes vossa vida!

Velho: Seja ela disso servida, que escusada é mais contenda.

Alcoviteira: Deus vos ajude, e vos dê mais saúde, que assim o haveis de fazer, que viola nem alaúde nem quantos amores pude não quer ver. Falou-me lá num brial de seda e uns trocados...

Velho: Eis aqui trinta cruzados, Que lhe façam mui real!

Enquanto a Alcoviteira vai, Velho torna a prosseguir o seu cantar e tanger e, acabado, torna ela e diz: Está tão saudosa de vós que se perde a coitadinha! Há mister uma saiazinha e três onças de retroz.

Velho: Tomai.

Alcoviteira: A benção de vosso pai. (Bom namorado é o tal!) pois gastais, descansai. Namorados de al! Ai! Não valem real!Ui! Tal fora, se me fora! Sabeis vós que me esquecia? Uma amiga me vendia um broche de uma senhora. Com um rubi para o colo, de marfi, lavrado de mil lavores, por cem cruzados. Ei-los aí! Isto, má hora, isto sim são amores!

Vai-se o Velho torna a prosseguir a sua música e, acabada, torna a Alcoviteira e diz: Dei, má-hora, uma topada. Trago as sapatas rompidas destas vindas, destas idas, e enfim não ganho nada.

Velho: Eis aqui dez cruzados para ti.

Alcoviteira: Começo com boa estréia!

Continua...