quinta-feira, 25 de outubro de 2007

REFLEXÃO SOBRE O LUTO

REFLEXÃO SOBRE O LUTO

O facto de ter estado ontem no funeral do genro de um amigo, que partiu desta vida com apenas 37 anos, fez-me recuar no tempo, não há muitos anos, em que passámos por situação semelhante com a morte de meu cunhado, então com 40 anos. A vida prega-nos estas rasteiras e sai do seu ciclo normal, levando cedo demais quem merecia e devia, vivê-la mais tempo. As consequências destas mortes são incalculáveis para quem perde os seus ente queridos pois segue-se um período muito conturbado que é preciso saber ultrapassar. Reconhecendo que o pior é de quem parte, não podemos deixar de falar na dor, no sofrimento e na ausência que fica nos mais próximos, sejam eles familiares ou amigos. A dificuldade de suprir a falta de quem parte, mostra-nos que em muitos casos, se torna necessário a ajuda exterior, ou seja de um psicólogo.

É nessa perspectiva que encontrei esta informação do GABINETE DE APOIO PSICOLÓGICO E ACONSELHAMENTO da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa. O documento é bem mais extenso, por isso tirei dele um extracto que penso suficiente para ajudar quem dele precisar. Aqui fica a informação.

Passo a citar:

O LUTO

O luto é uma experiência angustiante mas comum. Mais cedo ou mais tarde, a maioria de nós vai sofrer a perda de alguém próximo. No entanto, no nosso dia-a-dia falamos e pensamos muito pouco acerca da morte, talvez porque hoje em dia nos deparamos com ela com menos frequência do que os nossos avós. Para eles, a morte de um irmão ou irmã, amigo ou familiar era uma experiência comum nos seus primeiros anos de vida ou durante a sua adolescência. Para nós, estas perdas acontecem geralmente mais tarde na nossa vida. Talvez por issoo tenhamos a hipótese de aprender a lidar com o luto - como nos faz sentir, o que devemos fazer, o que é "normal" acontecer - e de o aceitar.

O processo de luto dá-se sempre que há uma perda, mas principalmente depois da morte de alguém que amamos.

...

Com muita frequência, a pessoa em luto sente-se muito zangada e revoltada - contra médicos e enfermeiros que não conseguíram impedir a morte que agora lhe pesa, contra os amigos e familiares que nunca deram o seu máximo ou mesmo contra a pessoa que perdeu e assim a deixou.

Outro sentimento comum é o sentimento de culpa. Nesta altura, começam a pensar em tudo aquilo que podiam ter feito ou dito e que já não tem retorno ou mesmo naquilo que podiam ter feito para impedir essa morte. Naturalmente que a morte é geralmente um acontecimento que está para além do controlo seja de quem for e a pessoa em luto deve ser recordada disto mesmo. A culpa também pode surgir depois de se sentir alívio pela morte de alguém que nos era muito querido mas que sabíamos estar a sofrer. Este sentimento é normal, compreensível e muito comum.

Algumas pessoas podem não conseguir perceber estas crises ou ficar sem saber o que fazer quando isto sucede. Poderá haver uma tendência da parte da pessoa em luto para evitar as outras pessoas mas isto pode trazer problemas futuros e, por isso, será melhor que volte à sua "vida normal" o mais rapidamente possível.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Apesar das crianças não conseguírem perceber o conceito de morte até cerca dos três, quatro anos, elas sentem a perda de alguém próximo da mesma forma que os adultos. É absolutamente certo que também na infância, os sentimentos de angústia e o processo de lutoo fortes. No entanto, as crianças têm uma noção de tempo diferente da dos adultos e o processo de luto poderá "passar" muito rapidamente. Nos seus primeiros anos de escola, as crianças poderão sentir-se responsáveis pela morte ocorrida na sua família e deverão ser asseguradas de que a culpa sentida é infundada. As crianças poderãoo falar do sucedido, por temerem estar a piorar ainda mais a situação e por não quererem fazer sofrer os restantes, mas tanto com as crianças como com os adolescentes, nunca se deve evitar o assunto ou colocá-las à parte. Por isso, também eles devem participar no funeral e em todo o processo.

COMO PODEM AJUDAR OS AMIGOS E FAMILIARES?

A família e os amigos podem ajudar a pessoa em luto passando tempo com ela. Não se trata de falar com ela sobre o sucedido, mas antes de estar com ela e demonstrar que estão presentes para o que for necessário neste período de dor e tristeza. É importante que a pessoa em luto, se necessitar, tenha alguém com quem chorar e falar sobre a perda sentida, sem que o receptor lhe esteja permanentemente a dizer para se recompor e refazer a sua vida. Com o tempo, elas recompor-se-ão, mas antes disso terão de chorar a pessoa perdida e de falar sobre ela. Se algumas pessoas terão dificuldade em perceber porque é que elas se mantêm sempre no mesmo assunto, ao invés de o ultrapassar, o facto é que este processo deve incluir estas fases porque só dessa forma poderá ser ultrapassado. Só desta forma a pessoa em luto terá a oportunidade de nos dizer o que deseja e como se sente.

AQUELES QUE FICAM "PRESOS" AO LUTO

Ocasionalmente a depressão que ocorre com todo e qualquer luto pode agravar-se ao ponto de a pessoa deixar de se alimentar e de pensar em suicidar-se. Em todos estes casos será obviamente necessária ajuda profissional especializada.Se consideras que poderás estar em risco de sofrer desta incapacidade de resolução do luto, se conheces alguém que julgas poder estar nesta situação ou simplesmente se estás a passar por um período de luto e consideras importante partilhar isso com alguém exterior à família ou amigos, podes recorrer ao GAPA. A informação é absolutamente confidencial e o encaminhamento para os locais apropriados, se necessário, será feito de uma forma mais célere.


10 comentários:

Anónimo disse...

Meu querido Amigo,

A morte faz-me sempre reflectir muito, sobretudo quando se trata de mortes repentinas e extemporanias.

Temos de estar atentos e alerta pois nunca sabemos quando é a nossa hora de partir... Devemos tentar encontrar-nos sempre em Paz connosco próprios e com os outros, ou seja, ter sempre o nosso interior (a que eu chamo de alma) "arrumado".

Muitos beijinhos

Elvira Carvalho disse...

Ora bem a morte é a única certeza, que temos desde que nascemos. Mas nem por isso é menos estranhada. Eu tomei conhecimento da morte a primeira vez tinha 5 anos. fui levar a malga das sopas de café á minha avó que estava na cama. Deixei-a a comer e quando a minha mãe me mandou lá ir buscar a malga supostamente vazia, a minha avó estava tombada para o lado direito com o resto das sopas todas derrubadas na cama. Pensei que ela tinha adormecido e fui dizer á minha mãe. E afinal tinha morrido, sem dar um gemido sem nada.
Quando há dias tive várias horas no hospital com a tensão muito alta, ocorreu-me um pensamento um tanto estranho para o momento. E se eu morresse naquele momento. Como saberiam os amigos o que me tinha acontecido?
Estranhariam que eu nunca mais postasse nada? Pensariam o quê?
Gostei do seu post. Um tanto triste mas sempre ficamos elucidados.
Um abraço

António Inglês disse...

Aramis

É sempre uma altura delicada da vida de todos nós.
Eu, sinceramente não sei se estou preparado para ela. Acho que ainda tenho tanta coisa para fazer...
Só que ela não escolhe nem hora, nem idade, nem local...
Há uns anos atrás, eu nem sequer aflorava o tema, e também poucas eram as vezes que tinha de o fazer pois nos meus mais próximos, ela felizmente não se fazia sentir.
Mas... a partir de uma certa idade, minha amiga, foram avós, pais, sogros, cunhado, amigos, alguns cada vez mais novos.... sei lá, parece que tudo tem vindo com uma arrepiante sequência.
Dizia um dia destes ao nosso amigo Ernesto que nos últimos tempos um dos locais onde mais vezes nos temos encontrado tem sido o cemitério. Já reparas-te?
Mas enfim há que enfrentá-la quando chegar a hora. E em paz como dizes, o que graças a Deus acontece comigo.
Um abraço para ti
José Gonçalves

António Inglês disse...

Amiga Elvira.

Eu sou assim mesmo, um homem sentimentalista, que reage muitas vezes por impulso...
Quando a vida me vai aprontando coisas destas fico normalmente muito pensativo e no caso presente, aproveito-me do meu "porentremontresevales" para desabafar em cima dele.
Talvez este não tenha sido um tema muito feliz. Alegre não é certamente, mas como tenho assistido a algumas situações que me fazem pensar, resolvi procurar soluções. E as respostas ou parte delas vieram em alguns artigos que encontrei.
O que me pareceu mais perto do que penso a propósito deste tema, foi este da Universidade Nova, que acima de tudo se destina a ajudar as pessoas, em especial aquelas que sofrem com situações que aqui estão contempladas.
Quanto ao pensamento que teve no hospital da última vez que lá esteve, quero dizer-lhe como se diz por aqui: "vire para lá essa boca".
Uma boa noite, em paz, serena e descansada.
José Gonçalves

avelaneiraflorida disse...

Hoje a morte é escondida dos seus semelhantes!!!!
A História mostra-nos que nem sempre foi assim...
Ela é inevitável...mas que seja condigna e se possível rodeada de quem nos quis bem durante a vida!
para que seja uma serena partida!
Quanto ao luto!!!
Excelente texto!!!! Acho que seria muito importante divulgá-lo pelo maior número de pessoas...
"Brigados" por este post!!!!
Bjks

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

A morte nunca foi um tema agradável e por isso sempre existiu alguma contenção ao falar nela.
É sempre uma altura da vida muito dolorosa. Mas deveria ser falada e encarada como uma etapa à qual nenhum de nós consegue fugir...
Inteiramente de acordo com as suas palavras.
Um abraço
José Gonçalves

Anónimo disse...

Meu querido amigo,

Informo que no próximo Domingo às 12h00 será rezada missa de 7º dia por alma do Prof. Arqto.Gonçalo Seiça Neves, genro do Sr.Dr. Gonçalves Sapinho.
A escolha fa familia foi de que fosse aqui em S.Martinho.

Beijinhos
Paula Monteiro

António Inglês disse...

Paulinha minha amiga

Farei os possíveis por lá estar.
Um abraço e um bom fim de semana.
José Gonçalves

RH disse...

Aconselho a leitura deste artigo:

http://dr-hugo-jorge.blogspot.com/2007/10/o-luto.html

Hugo Jorge
http://dr-hugo-jorge.blogspot.com/

António Inglês disse...

Boa tarde Dr. Hugo Jorge

Agradeço-lhe a sua visita a este meu espaço.
Já consultei o artigo que está no seu blog e verifico que a fonte é a mesma de parte do artigo que partilhei.
Não sei se é da autoria do Doutor Hugo mas a fonte é a mesma.
Agradeço-lhe o conselho, pois no seu espaço o artigo creio, está completo.
Estes problemas são uma constante da nossa vida e há que partilhá-los.
Longe de mim querer insinuar que o artigo era meu, até porque faço alusão à fonte para que os meus amigos o possam consultar na integra.
Fico-lhe grato pela atenção, até porque um dos meus filhos também é psicólogo.
José Gonçalves