terça-feira, 2 de outubro de 2007

UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR




Um dia, eu minha mulher e meu filho, resolvemos que havíamos de ter um gato. Ainda não vivíamos nesta casa onde moramos agora. Das palavras passámos à acção e tratámos de o arranjar.

Era cinza, olho escuro e pouco dado a amizades.

Resolvemos entre nós que se o tínhamos, era porque o queríamos e por isso, como tivemos medo, prende-mo-lo no quintal, antes que fugisse, dado não estar ainda habituado a nós.

Esta situação tornou-se num verdadeiro martírio. O nosso Óscar (foi assim que baptizámos) ali preso... não podia ser.

Ao fim da luta que travei comigo mesmo, desconfiado de que não iria fazer a coisa certa, resolvi num dia meio encoberto, devolver o nosso Óscar à liberdade. Soltei-o.

Fiquei apreensivo com a liberdade que estávamos a dar ao Óscar, mas ele quis mostrar-me que eu podia ficar descansado. Por isso, passeava durante todo o santo dia mas vinha comer e dormir na sua camita. Para nós foi uma vitória.

Foi assim durante meses, só que o nosso amigo Óscar, de cada vez que saía, ia mais longe nos seus passeios, e em alguns deles chegou a estar fora de casa, dois ou três dias. Era uma agonia entre nós.

Sempre reapareceu, até ao dia em que uma escapadela demorou um pouco mais. Perdera-se de amores por uma gata do quintal da frente, e deixou de nos passar “cartuxo”.

A dona do quintal, lembrou-se então, que o Óscar poderia ser o gato que nós apregoámos aos vizinhos que tinha desaparecido. E era.

Lá o trouxemos de regresso a casa, mas o maroto estava decidido em ir viver definitivamente com a gata da vizinha e um dia desapareceu de vez, creio que com a sua amada pois deixámos de os ver por ali. Até hoje.

O desgosto ficou marcado em todos nós e foi assim que já vivendo onde estamos agora, dei conhecimento ao meu pessoal de que iríamos buscar um novo gatinho, pois já tinha quem mo oferecesse.

Chegados a casa da nossa amiga, que amávelmente nos iria dar o bichano, ela informou-nos que os gatinhos novos para dar estavam cá fora junto da mãe, e que nos podíamos abeirar com facilidade que eles não fugiriam. Por isso a escolha era fácil. Pois foi.

Foi tão fácil que, gostando eu de um e o meu filho de outro, acabámos por trazer dois, ou melhor duas. A Micas e a Licas. A Micas cinza tigrada, a Licas branca e preta malhada.

Foi uma festa, embora a minha mulher não tenha gostado muito desta aventura. Um ainda vá que não vá, agora dois? É que o trabalho de os tratar e cuidar iria cair em cima dela, como de costume.

Passadas as primeiras impressões, Lá nos fomos todos habituando às nossas novas inquilinas.

Era giríssimo de manhã ao sairmos, vê-las encostadinhas à porta, à espera de um afago e de comida que a fome aperta durante a noite.

Os tempos foram correndo, e as nossas gatas crescendo. É a ordem normal das coisas.

Um dia, começaram a sair do nosso quintal e a aventurarem-se para outras paragens. Nada que não previsse-mos, dada a quantidade de gatos que nos começaram a aparecer cá por casa. Como não mostrávamos boa cara, as nossas Micas e Licas, resolveram que namoro era fora dali. Ficaram prenhas. A Licas teve seis lindíssimos gatinhos, que oferecemos aos amigos, na altura própria, mas a Micas abortou.

Passaram os tempos, e em nova época de namoro, o inevitável aconteceu de novo. As duas prenhas.

Quis o destino que a Micas não conseguísse parir nenhum. E foi assim que acabou atropelada no fim da rua. Mesmo com uma barriga enorme cheia de filhos, com parte do corpo imobilizado, a nossa Micas arrastou-se até ao nosso portão e ali deixou o mundo dos vivos. Bem juntinho a casa. Bem pertinho de nós, a quem ela, por ser a mais meiga, procurava com frequência com o mais lindo ronron que possam imaginar.

A nossa Licas, passou três dias junto da nossa cadela pastor alemão, a Tita. A ela se foi aconchegar, parecendo querer encontrar refúgio por entre as suas patas. São grandes amigas.

Perto do parto da Licas, deixámos de a ver e pensámos que tinha partido. Foram juras de nunca mais. Nunca mais queriamos outros gatos. Era demais. Sempre que nos afeiçoamos aos animais, é uma dor imensa se nos desaparecem.

Dois dias após o seu desaparecimento, minha mulher chamou-me e disse-me:

- Julgo que estou a ouvir uns miados ali atrás da nossa churrasqueira, perto do forno do pão.

Lá fui pesquisar se era verdade e como ouvi os mesmo miados, fraquinhos, adivinhei que a Licas se tinha escondido lá por detrás para ter os filhos.

Como não podíamos deixar para o dia seguinte e ela não respondesse ao nosso chamamento, resolvi partir a parede que nos separava da direcção dos miados.

Lá estava a nossa Licas, orgulhosa dos seus meninos, a quem lambia com amor de mãe.

Conseguimos tirá-la de lá e arranjámos-lhe um espaço confortável para os criar nos tempos que se seguíram. Nasceram seis. Ficaram dois. O Romeu e a Julieta. Os tempos não dão para mais.

Já são grandes, mas não deixam a mãe por nada deste mundo. Ainda dormem em cima dela e é vê-los uma vez por outra a mamar nas tetas da progenitora. Creio que para matar saudades desses tempos de bébé.

Hoje são três os felinos que temos cá em casa. A mãe Licas, a filha Julieta e o filho Romeu. Ficam em cima os seus retratos.

Não são os únicos animais que temos. Ainda existe a cadela Tita de que já vos dei conta, o pequeno Jimmy, um Yorkshire malandreco, duas fracas e três pombos.

É obra.


16 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Ora bem, fui ver o correio, fui apresentada á família, e aí venho eu á procura da estória dos bichinhos. E acredite que fiquei enternecida. Muito bonita a estória. Um abraço


Á margem ando aqui ás voltas com um trojan que n~eo tem pilhéria nenhuma. Há dois dias que ando a tentar exterminá-lo e ele qual camaleão a esconder-se

António Inglês disse...

Bom dia Elvira

Mais uma vez o meu slide lá foi para ao seu mail.
Temos de resolver isto. Provavelmente hoje terei aqui em casa um entendido na matéria que é capaz de verificar se eu fiz algo de errado.
Se não conseguir terei de deixar de fazer slides...
Um trojan? pois são uma das pragas da net...
Estou solidário nessa guerra...
Peço de novo desculpa pelo sucedido, espero que acredite que não o faço de propósito.
Um abraço

Elvira Carvalho disse...

Não peça desculpa nem se preocupe com isso. Assim quando eu não puder visitá-lo, vejo no mail o que por la tem. Em slides claro.
E quem sabe não fui eu quando não conseguia entrar naquelas primeiras fotos lembra-se?
Um abraço

sonhadora disse...

Uma semana de sonho.

Beijinhos embrulhados em abraçosssss

Anónimo disse...

Meu querido amigo,

Olha que é mesmo uma bonita história de amor!

Quando vejo maltratatar animais, lembro-me sempre de S. Francisco de Assis, que dizia que os deviamos tratar como "irmãos".

Muitos beijinhos,

Isamar disse...

Também tenho dois cães. Adoro animais e se tivesse na cidade o espaço que tenho na serra, teria muitos mais.
A história que nos contas é linda.E comovente.

beijinhos

António Inglês disse...

elvira

Pode ter sido sim, a Elvira que f3ez qualquer coisa quando quis entrar nas fotos e não conseguia.
Mas tudo bem, se não se importar de levar com os meus slides, eles lá vão direitinhos.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

aramis

Amiga, eu sempre gostei de animais mas nunca tive vida para os ter comigo.
Em casa dos meus pais e dos meus avós sempre existiram, mas para quem vivia em Lisboa, num apartamento, saindo de manhã para trabalhar e regressando à noite era difícil tê-los.
Mesmo assim ainda fizemos duas tentativas mas fracassaram. Agora que temos espaço, a nossa casa parece um zoológico.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

sophiamar

Fizeste-me hoje voltar aos meus tempos de menino, quando te visitei na tua casa. Obrigada por isso.
A Nazaré é daquelas terras que se aprende a amar e depois é um problema muito grande para a deixar-mos.
Foi lá que passei a minha lua de mel. Por todas as razões e mais uma.
Quanto aos nossos animais, pois minha amiga, são os que descrevi e eram mais, mas alguns não se adaptaram infelizmente.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sonhadora

Fico feliz por te encontrar por aqui. Volta sempre e em breve te farei uma visita.
Uma semana cheia de vida.
José Gonçalves

avelaneiraflorida disse...

UMA TERNURA!!!!

BRIGADOS, por esta linda história de amor!!!!!
Bjks

António Inglês disse...

Avelaneiraflorida

São pequenas histórias da nossa vida que me fazem reviver momentos inesquecíveis.
Uma boa noite
José Gonçalves

Anónimo disse...

Izelda regina disse:

Olá, caríssimo José!
Realmente "uma linda história de amor", você fez uma bela narrativa dessa história. Adorei o post.
Obrigada pelo verso deixado ao córrego de areia, fico contente com vossa visita, apareça sempre
Grande abraço, amigo.

António Inglês disse...

Olá Izelda regina

Espero que tenha feito uma boa e rápida viagem até Portugal.
Obrigado pela sua visita.
Se me permitir irei mais vezes até sua casa.
Vou enviar-te as fotos.
Obrigado amiga pela confiança.
Um abraço
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Mais um brilhante capitulo do seu diário.
Também sempre tive animais por perto, nomeadamente cães, e eles são realmente especiais nas famílias.

Um abraço.

António Inglês disse...

Ernesto

Eu gosto de cães e gatos e aves e sei lá que mais. Bem existem alguns animais de quem não gosto mesmo nada, mas é por isso que a natureza se equilibra.
Não podemos gostar todos das mesmas coisas.
Tenho uma particular paixão por gatos e não lhe sei dizer porquê.
Um abraço
José Gonçalves