domingo, 30 de setembro de 2007

Ricardo Eliecer Neftali Reyes Basoalto.

PABLO NERUDA


De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Nocturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.


Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.







Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíves rodas
e junto a mim és pura como ambâr dormido...
Nenhuma mais, amor, dormira com meus sonhos...
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
sempre viva. sempre sol... sempre lua...
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo...
teus olhos se fecharam como

duas asas cinzas, enquanto eu sigo a água
que levas e me leva.
A noite... o mundo... o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho...


Quem foi Pablo Neruda

Ricardo Eliecer Neftali Reyes Basoalto, dito Pablo Neruda. Poeta chileno (Parral 1904 - Santiago 1973).
Cônsul do Chile na Espanha e no México, eleito senador em 1945, foi embaixador na França (1970). Suas poesias da primeira fase são inspiradas por uma angústia altamente romântica. Passou por uma fase surrealista. Tornou-se marxista e revolucionário, sendo, primeiramente, a voz angustiada da República Espanhola e, depois, das revoluções latino-americanas.
Esteve no Brasil em diversas oportunidades, e, numa delas, declamou poemas seus perante grande massa popular concentrada no estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Obras principais: A canção da festa (1921), Crepusculário (1923), Vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924), Tentativa do homem infinito (1925), Residência na terra [vol. I, 1931; vol.II, 1935; vol.III,1939, que inclui Espanha no coração (1936-1937)], Ode a Stalingrado (1942), Terceira residência (1947), Canto geral (1950), Odes elementares (1954), Navegações e retornos (1959), Canção de gesta (1960), ensaios (Memorial da ilha negra, 1964) e a peça teatral Esplendor e morte de Joaquín Murieta (1967).
Em 1974, foi publicado o volume autobiográfico Confesso que vivi. (Prêmio Nobel de Literatura, 1971).



12 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Emerge tu recuerdo de lá noite em que estoy.
El rio anuda al mar su lamento obstinado.

Abandonado como los muelles en el alba.
Es la hora de partir, oh abandonado!

Sobre mi corazón llueven frías corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cueva de (náufragos!

Penso que conheça. São os primeiros versos desse grande poema que é uma canção desesperada.
E aqui "grande" não se refere só ao tamanho do poema mas a toda a intensidade dramática que ele encerra.
Se não conhece aconselho a sua leitura.
Um abraço, bom domingo?

Elvira Carvalho disse...

Uma correção José e espero que não se importe.
O nome de nascimento é Ricardo Eliecer Neftali Reyes Basoalto.
Um abraço

António Inglês disse...

Olá Elvira

Bom dia
Agradeço-lhe que me corrija sempre que assim o entender.
Neste caso, sabia que Neruda se chamava Neftalí Reyes, o resto do nome desconhecia-o em absoluto, por isso procurei na net e o que encontrei em vários sites foi o nome que postei.
Estas informações que encontramos por esta via já percebi que estão incorrectas.
Agradeço-lhe e irei fazer a correcção.
Obrigado mais uma vez.
José Gonçalves

Elvira Carvalho disse...

José:
Procure na wikipédia. Neste tipo de informações não há como recorrer á enciclopédia, pois muitos dos sites na internete tiram as informações uns dos outros e basta que um não esteja correcto para os outros caírem todos no mesmo erro.
Não leve a mal mas a mim também me ensinaram.
Um abraço

António Inglês disse...

Olá Elvira mais uma vez, acabei de fazer a alteração ao nome correcto de Neruda.

"La canción desesperada"

...Es la hora de partir, la dura y fría hora
que la noche sujeta a todo horario.

El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros...

Conhecia o poema há muito tempo, mas só volto a lembrar-me das coisas quando lhes toco de novo.
Tenho agora, porque mais tempo posso dedicar a estas coisas do blog, nova oportunidade de rever muita coisa que já se apagou em minha memória.
Tem sido bom. Pelo menos voltei a sentir aquela sensação de há uns anos atrás...

Vinte poemas de amor e Canción desesperada foram obras dedicados ao seu primeiro amor de adolescente, Albertina Azócar.
Quanto ao fim de semana, tem estado a ser bom porque tenho cá a minha filha Joana, o meu genro e o meu neto. O tempo é que não ajuda muito mas....
Um bom domingo para si e obrigado pela ajuda que tem sido para mim.
Estou-lhe grato que me visite com tanta amizade. Asseguro-lhe que lhe reconheço o valor que tem representado nestes últimos tempos.
Obrigado amiga.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Estas nossas conversas parecem quase em directo.
Obrigado amiga mais uma vez, mas quero dizer-lhe que mesmo a wikipédia não é segura.
Algumas informações tenho lá consultado que venho a descobrir depois não corresponderem am absoluto à realidade, mas sei que é pelo menos a informação mais fiável.
Obrigado e sempre que verifique que estou a meter o pé na argola, faça o favor... corrija-me, fico-lhe grato e não lhe levo nada a mal, garanto-lhe.
Um abraço.
José Gonçalves

Anónimo disse...

Querido Amigo,

O que eu gosto do Pablo Neruda!...
Ainda na semana passada me deliciei a ver o filme "O Carteiro", pela 5ª ou 6ª vez.
Muitos beijinhos

António Inglês disse...

aramis

A um domingo na Internet? Pensei que andasses a passear pela nossa marginal...
Olha, hoje deu-ma para isto...
Também gosto de Neruda e creio que já em tempos, não muito distantes aqui postei um outro poema dele.
Desta vez, foram dois, que dediquei à minha mulher.
Um beijinho e bom resto de domingo
José Gonçalves

Maria Faia disse...

Querido Amigo,

Adoro o Neruda mas, seguramente, hoje não é dia para discorrer o que quer que seja.

Uma semana feliz para si.
Beijo Amigo

Maria Faia

António Inglês disse...

Boa noite Maria Faia

Lamento que esteja tão em baixo e só espero que a causa dessa melancolia não seja a saúde.
Desejo-lhe uma óptima semana também.
Disponha.
José Gonçalves

avelaneiraflorida disse...

Amigo José Gonçalves,

Um dos poetas que tenho sempre por perto!!!!

Boa evocação!!!
Bjks

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Uma boa noite calma e serena.

Se houver Neruda por perto, tanto melhor.

Beijinhos
José Gonçalves