O ESTADO DA CULTURA EM PORTUGAL
Numa revista de que já não lembro o nome, retirei este brilhante testemunho do estado do ensino em Portugal.
Numa altura em que se assiste a um braço de ferro entre Professores e a Ministra da Educação, talvez fosse bom que o bom senso imperasse e as partes envolvidas encontrassem os caminhos válidos e necessários para uma melhoria global do nosso ensino, trazendo paz a um sector, que é dos mais importantes da governação. Ganhariam os professores, ganharia o ensino, ganhariam os alunos, ganharia o país.
Não podem os profissionais da classe deixar de ser avaliados nem tão pouco me parece que seja isso que pretendem. Ora se não é esse o cerne da questão, o que os separa da avaliação proposta pela ministra? O conteúdo da proposta? A forma como foi apresentada? O “timing” da mesma?
No meu dia a dia, lido com muita gente nova recém-formada e a verdade tem de ser dita, quando leio alguns textos por eles escritos fico com os cabelos em pé, tais são os erros gramaticais. Santo Deus, são gente com cursos superiores e parecem saber menos de gramática que eu, que o único curso que tenho é o da vida e nada mais.
O ensino tem vindo a modificar-se, em nome da modernização e do progresso, mas de uma coisa estou certo, não sei até que ponto essas alterações trouxeram maior preparação aos nossos jovens. Há claramente, um menor nível de cultura geral na população mais jovem, parece-me.
Em todo este processo, a classe de professores merecia mais respeito, é certo, mas talvez fosse benéfico a quem defende os destinos sindicais da classe, mais flexibilidade e melhor estratégia. O recurso constante à greve, legitimo obviamente, pode ser no entanto, uma arma terrível que pode vir a mudar a opinião pública contra si, e contra a sua luta. Não esqueçamos que estão envolvidos directamente os nossos filhos.
Quanto à Ministra, era bom que o Governo decretasse também uma “avaliação” sobre ela, para que todos ficássemos a saber se realmente a senhora tem ou não razão em bater o pé de forma tão enérgica e radical, ou até perceber-mos se tem condições para continuar à frente de uma pasta que já provou não consegue gerir consensualmente. Mas não uma “avaliação” política, que nestes casos não defende o interesse nacional.
Mas isto sou eu a pensar alto, que sou um ignorante na matéria. E como no meu tempo o ensino não era para todos, é natural que existam muitos ignorantes como eu por esse país fora a pensar do mesmo modo.
Deixo-lhes os textos de que atrás falei, em jeito de mensagem de boa disposição, e temos de brincar com isto, porque a vida não está para muitas brincadeiras.
Oral da cadeira de Anatomia do curso de medicina
Aluno: Os fígados...
Prof: Os fígados??!! Quantos são?
Aluno: Dois. Direito e esquerdo!
Oral da cadeira de psicologia do curso de medicina
- Nos Estados Unidos da América.
Curso de Segurança Social, numa universidade privada lisboeta.
- Porque se trabalha mais do que nos países subdesenvolvidos.
- Ai sim?
- E tem-se menos tempo.
- Menos tempo para quê?
- (o aluno, hesitante e já embaraçado) Menos tempo para fazer amor.
Oral na Faculdade de Medicina de Coimbra
- Minha senhora, qual é o órgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal?
- (a aluna, respondendo prontamente) É a íris, senhor professor.
- (O examinador, com um sorriso largo) Por favor, diga à sua colega que vai ter muitas desilusões ao longo da vida.
Exame numa universidade privada, em Lisboa
- Um mito religioso? Sancho Pança.
(estupefacto, o professor pede ao aluno para este escrever o que acabou de dizer. O aluno escreve no papel: 'S. Xupanssa').
Prova oral da cadeira de Direito Constitucional, numa Universidade privada de Lisboa.
- Quais são as batalhas mais importantes da história portuguesa?
- Antes de mais, senhor doutor, a batalha de Alves Barrota.
O exame terminou aqui.
Num instituto superior da capital, 1º ano de Relações Internacionais.
Outra versão, ainda mais criativa, desta vez numa outra Universidade privada de Lisboa, no 3ºano de Relações Internacionais.
- Foi um golpe levado a cabo pelos militares, liderados por Salazar, contra Marcelino Caetano.
- (o professor, já disposto a divertir-se) E como enquadra o processo de descolonização nesse contexto?
- Bem, a guerra em África acabou quando Sá Carneiro, que, entretanto subiu ao poder, assinou a paz com os líderes negros moderados. Foi por causa disso que ele e esses líderes morreram todos em Camarate.
- Já agora, pode dizer-me quem era o presidente da República Portuguesa antes de 1974?
- Samora Machel.
Conta quem assistiu à oral que o professor quase agrediu a aluna.
Uma professora de Direito Constitucional numa universidade privada do Porto questiona o aluno sobre a Constituição de 1933. Esta consagra a impossibilidade de os descendentes da casa de Bragança se candidatarem à presidência da República.
- 'Porque ele é actualmente o presidente português'.
Noutra resposta à mesma pergunta, que esta professora recebeu:
- 'Porque vivemos num sistema monárquico'.
Numa outra prova oral de Direito Constitucional, o examinador pergunta ao aluno:
- A mulher dele, a Maria José Ritta.
Numa universidade privada em Lisboa,
1º e 2º ano do curso de Relações Internacionais, numa universidade privada de Lisboa. 1988/1996. Algumas preciosidades.
- Quem é o actual presidente dos Estados Unidos?
- O Perez Troika.
- Paris é a capital de que país?
- Bruxelas.
- Quando foi a Revolução Liberal em Portugal?
- Em 1640.
- Diga-me, por favor, o que é a Nato.
- É a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
- E a OTAN?
- (o examinado, depois de pensar demoradamente) Bem, aí a doutrina divide-se.
- Então diga-me lá qual era o nome próprio de Hitler?
- Heil.
- Minha senhora, em que época histórica situa Adolfo Hitler?
- No século XVIII, senhor professor.
- Tem a certeza?
- Não! Desculpe. No século XVII.
- Quem foi o grande impulsionador do nazismo?
- (o aluno, rápido e incisivo) O Fura João Hitler.
- O 'Fura'.
- Sim. É a designação hierárquica de Hitler.
Numa outra oral. Cadeira de História das Ideias Políticas e Sociais.
- É a Bíblia alemã.
- Pode dizer-me o que é um genocídio?
- É a morte dos genes.
- Como?
- É a morte dos genes e dos fetos.
Cadeira de Direito Internacional Público, uma universidade privada do Porto.
O professor, desesperado com a vacuidade das respostas de certo aluno em orais da especialidade, resolve tentar ajudar, recorrendo à geografia. Questionado sobre a localização da Escandinávia, o aluno responde que fica algures na Ásia. O examinador, rendido, brinca agora.
- Podemos então passar a chamar-lhe Escandinásia.
- Se calhar, senhor doutor.
- Não sabe que a Escandinávia fica na Europa?
- Pois é, tem razão!
- E fica a Norte ou a Sul?
- A sul.
- E sabe apontar-me alguma característica dos escandinavos?
- (o aluno, depois de longa pausa) Bem, eu acho que eles não são pretos.
Texto de imprensa nacional
Fotos da Net
António Inglês
2 comentários:
Li todo o teu post em RSS, como tantas vezes faço.
Primeiro: duvido que 2009 traga alguma alteração à posição do Governo face à avaliação dos Professores, logo penso que as lutas vão continuar.
Segundo: se não tivesse lido a segunda parte do post aqui, acharia que estava a ler anedotas....
Ainda me ri...
Beijinho, António
António, li com muita atenção o teu post e tal como tu penso que poucas pessoas fora do ensino têm a noção da verdadeira dimensão do problema. Entrámos em 2009 e, naturalmente, porque o modelo de avaliação, embora com alterações, continua o mesmo o diferendo continua. Os professores não querem deixar de ser avaliados, sempre o foram, o que os professores pretendem é a suspensão deste modelo e a discussão de um outro que permita, sem quotas, sem barreiras economicistas, mas pelo mérito, a progressão na carreira. A divisão entre professores titulares e não titulares é outro ponto de discórdia que tem de ser revisto. Creio que o bom senso levará a bom termo este problema que tanto preocupa os pais. Eu também sou mãe e também pretendi para o meu filho o melhor. Além da escola, nunca deixei de dar-lhe o apoio necessário para que aquilo que os professores lhe ensinavam, ficasse consolidado. E assim fizeram os meus pais comigo. E assim fazes tu, com certeza. Os erros que referes têm muito a ver com a falta de gosto pela leitura que os professores tentam incutir e que, na maior parte das vezes, não tem continuidade em casa. Mas isto daria pano para mangas porque também confirmo que muitos dos alunos que têm menores possibilidades económicas lêem e escrevem muito bem graças ao seu empenho, às bibibliotecas escolares e à requisição de livros para casa.
Para terminar, garanto-te que os professores continuam a ensinar com muito gosto, preparam muito bem as suas aulas, dão o seu melhor na formação daqueles que têm nas suas mãos.
Beijinhos , Tó
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