LENDAS DE PORTUGAL
Meus amigos, acabei de chegar de mais uma confraternização e amanhã, domingo parto para outra.
O tempo não tem facilitado em nada a minha vida blogosférica e como as muitas actividades em que me encontro envolvido se aliaram a estes convívios de fim de semana, a situação piorou drasticamente.
Curiosamente, tinha entrado numa fase em que nada me faria prever tanta azáfama nem tanta solicitação social, politica e profissional.
Conquistei amizades e hábitos dos quais não gostaria de me afastar, mas nem sempre conseguimos controlar os acontecimentos.
Jamais quereria que os meus amigos da blogosfera me considerassem um ingrato ou mais um dos tantos que por aqui passam esporadicamente, e que ao fim de um certo tempo acabam por se afastar sem mais nem menos.
Não o faria, mas também não quero continuar numa situação de membro ausente que apenas gosta de ver os amigos por sua casa, e acaba por não lhes retribuir a amizade e a dedicação que têm demonstrado para comigo.
Desta forma, e por uma questão de coerência, sou obrigado a comunicar a todos, que não obstante a muita amizade que lhes dedico, a muita consideração que todos me merecem, e também o muito carinho que todos me oferecem, me vejo obrigado a repensar toda a minha participação neste mundo tão “nosso”, tão importante na minha vida mas que me tem trazido sob enorme pressão. É que o facto de não ter tempo, não obsta a que não esteja sempre que posso, a deitar o olho de soslaio para aqui, verificando como todos me tratam, me visitam, sem que eu lhes possa corresponder da mesma forma.
É injusto, é incorrecto e massacrante, fazendo com que ande em constante estado de ansiedade, porque não quero perder os amigos, porque não posso vir aqui o que gostaria.
Vou pois entrar numa fase bastante calma, e como penso ter encontrado a forma de conciliar tudo, inicio hoje um ciclo de postagens sobre “Lendas de Portugal” que me permitirá espaçar mais o intervalo sobre elas.
Sei que talvez leve algum tempo, mas este ritmo vai ter de abrandar e permitir-me-á mais e melhor atenção a todos vós.
Deixo a todos os meus agradecimentos por tudo o que me têm dado, prometendo que a pouco e pouco irei respondendo aos vossos comentários e irei passando por casa de cada um, mostrando-vos que continuo convosco no coração. Espero por isso a vossa compreensão.
Um abraço bem fraterno a todos vós meus amigos.
António Inglês
A LENDA DA BOCA DO INFERNO
Um dia, esse homem decidiu casar-se, e para escolher a mais bela mulher das redondezas consultou a sua lâmina de cristal de rocha para identificar o local e a casa onde deveria mandar buscá-la. Quando viu a mulher que os seus cavaleiros trouxeram, ficou estupefacto.
Era estupefactamente mais bela do que imaginara ao vê-la sugerida na lâmina das adivinhações. Diz-se que lhe deu uma fúria de ciúmes e tratou de a esconder da cobiça alheia para preservar o seu amor, mas penso que a escondeu do mundo para se proteger a si mesmo, que não a soubera cativar.
Frente ao mar o tempo passava, cronometrados os dias pelas marés, as semanas pela sucessão dos dias e das noites, os meses pela lua. Tão só se sentia o guardião como a cativa do seu senhor. O horizonte de ambos era o mar eternamente sempre outro e o mesmo. A música que a ambos chegava era a dos seus pensamentos, a do marulhar revolto ou terno das ondas, o sibilo do vento por entre as rochas. Assim passava o tempo e não passava, porque o tempo para ser tempo tem de se referenciar à vida, e ali não se passava nada que fosse vivo.
Meteu-a na fechadura e rodou. A porta rangeu de ferrugem quando o cavaleiro se apoiou nela lentamente. E enquanto subia a escada de caracol que levava à câmara da cativa, talvez mil pensamentos se lhe entrecruzassem silenciosamente no cérebro: o que iria encontrar? Seria bonita ou horrorosa? Se calhar era aleijada! Muda ou doente! E se estivesse morta? Não, na realidade enquanto subia as escadas não pensou nada. Estava apenas expectante e quem vive expectativas não se pergunta nada, ainda que na sua espera hajam inscritas todas as interrogações do mundo.
Frente à porta da câmara da sua cativa, o cavaleiro parou para acalmar o coração e tomar coragem. Quando conseguiu dominar a tremura das pernas e das mãos, empurrou a porta. O sol, que entrava por uma das ogivas da torre, bateu-lhe nos olhos e cegou-o por momentos. Pouco a pouco, retomou a visão e a névoa foi-se dissipando até o deixar frente à mulher que a sua expectativa não pudera imaginar.
Semivoltada, a cativa da torre, tão espantada quanto o guardião, olhou-o interrogativa, esperando a palavra que não veio, acabando por perguntar:
-Quem és tu, cavaleiro? Porque vens perturbar-me a solidão?
E o homem, quando achou de novo a sua voz, respondeu finalmente:
-Sou o vosso guardião, senhora! –e baixinho disse para si mesmo: «Agora o compreendo a ele…»
-O meu guardião! Guardião de quê? Desta solidão sem nome e sem razão? Vê, vê como se consomem os meus dias, sem prazer, sem ilusão!... ao menos tu…
-Eu , senhora? Eu estou ali em baixo tão só como vós, e a guardar o quê, para quê?! Mas a partir de hoje talvez possamos partilhar as nossas horas perdidas neste ermo. Tudo o que quiserdes, senhora, ordenai! Levar-vos-ei onde pedirdes!...
Um dia olharam-se, cativa e guardião, e perguntaram-se o que faziam ali. Porque estou eu prisioneira? De que sou eu guardião? Acharam aquela torre uma masmorra absurda. Que guarda um guardião sem chave? Como se sentir prisioneiro de uma prisão aberta?
Partiram.
Esqueceram tudo e esqueceram também o castelão feiticeiro que tudo sabia. Numa noite de luar montaram ambos o cavalo branco do cavaleiro e cavalgaram a toda a brida sobre os rochedos fronteiros ao mar.
No paço, o feiticeiro, louco de ciúmes e de raiva incontrolada, transformou a noite numa concentração de todas as tempestades e malefícios do mundo.
Sob as patas do cavalo abriram-se os rochedos negros de par em par, como se ali fosse uma das entradas do inferno. Cavalo e cavaleiros despenharam-se no abismo redemoinhante e foram engolidos pela boca do mar.
Assim que os dois amantes solitários desapareceram no redemoinhar infernal, acalmou a tempestade e o mar voltou a ficar manso como se nunca tivesse estado diferente. O buraco nos rochedos, porém, nunca mais fechou, como se a ferida da natureza quisesse perpetuar esta história. E talvez assim fosse, já que muitas vezes volta o vento e retoma a fúria do mar, tal como no dia em que morreram a cativa e o guardião da torre.
Por isto mesmo, e porque o povo da região nunca esqueceu a história, se chama àquele local de mistério Boca do Inferno.
Textos e Fotos tirados da Net
António Inglês
19 comentários:
Não têm conta as vezes que já estive na Boca do Inferno. Desconhecia em absoluto esta lenda.... que é bonita, como todas as lendas de amores cativos...
Muito obrigada pela partilha, Amigo António, e boa confraternização amanhã....
Beijinhos
Uma excelente ideia, apostares nas nossas lendas...
E... um pouco atrasada... "25 de Abril Sempre"...
Um excelente domingo...
Olá António.
Sempre achei as lendas muito interessantes!
Vou continuando por qui, à espera de mais
Um abraço
Cheguei aqui em fim de domingo. Também o tempo de que disponho não é muito mas não dispensarei os amigos que aqui fiz. A minha vida está mais complicada, como sabes, daí recorrer aos poemas para não perder o contacto com quem sempre se mostrou tão grato para comigo. Tu foste um grande amigo e assim continuarás a sê-lo. Quanto à lenda, já a conhecia mas relembrá-la aqui foi muito bom.
Beijinhossss mil
António,
Você me desculpa?
Não é para te imitar, mas por essas ordem de ideias teria que pedir muitas desculpas. Este fim de semana prolongado não tive muito tempo para vir cá e hoje já devia estar a descansar mas tinha que fazer um post que já deveria ter saído no último fim de semana.
Por isso agora não vou poder comentar o teu, que já é a segunda vez que venho espreitar. Gosto muito da Boca do Inferno, mas voltarei para falar disso.
Agora deixo-te só o desejo de uma boa semana e beijinhos.
Maria
Gosto de lendas e como estive a ler umas quantas lembrei-me que talvez fosse interessante publicar algumas aqui no meu cantinho.
A confraternização foi excelente, pois os motivos prenderam-se com a comemoração da recuperação de uma capela na aldeia de meu pai, que foi fundamental para a sua construção, e agora passados estes anos todos, meu tio, irmão de meu pai, chamou a si, conjuntamente com algumas pessoas da comunidade, esta meritória obra de recuperação do edifício que ameaçava alguma instabilidade.
Não podia faltar e por isso lá estivemos na missa e depois num repasto bem fornecido pelas senhoras da terra.
Beijinhos
António
Alice Matos
Obrigado pela sua visita.
As nossas Lendas sempre me entusiasmaram mas desta vez penso que poderei postar algumas, se calhar menos conhecidas. Vamos ver o que serei capaz de fazer.
Uma excelente semana para si e oportunamente a visitarei se mo permitir.
António
Fátima
Irei postando algumas. Espero que sejam interessantes pois o trabalho de pesquisa foi interessante e ainda não acabou. Já vou com 59 páginas escritas e creio que ainda não cheguei a metade.
Um beijinho
António
Isabel
Mana amiga, sinto-te triste e distante e se calhar terás razões para isso, mas também eu não te esquecerei e por aqui estarei, embora menos vezes.
Há pessoas que já não dispensamos, e tu sabes disso. O que quis transmitir a todos/as é que ando numa roda viva que me rouba tempo e por isso me vejo muito limitado para andar por cá como queria.
Isso tem-me deixado com os nervos em franja, acredita.
Se um dia falasses com a minha mulher. ela dir-te-ia certamente como me faz mal não ter o tempo que tive até há pouco.
Mil beijinhos
António
Branca, mana amiga
Tens razão, eu ando a parecer-me muito com o Calimero lembras-te?
Enfim coisas de velho.
Desejo-te uma boa semana e isto há-de alterar-se.
Beijinhos
António
Muito interessante, pois não conhecia esta lenda!
Pois quando me puderes dar o gosto da tua visita, feliz ficarei, amigo!
Que tudo decorra como pretendes, António!
"Bejinhos"!!
São
Obrigado por nunca teres deixado de me visitar e lá irei ainda hoje fazer-te uma visita. A ti e a todos os amigos e amigas que têm sabido compreender esta minha ausência.
Um grande abraço e um beijinho
António
Um local de que gosto muito mas que num dia de mau tempo me meteu um certo medo. Sou uma apaixonada pelas lendas de portugal, e em tempos andei coleccionando os fascículos que um certo jornal publicou. Creio até, não quero mentir, que tenho por aí um livro de lendas.
Quanto às ausências, por mim não se preocupe. Sempre pensei que se começamos a encarar as coisas como uma obrigação elas deixam de dar prazer. E amigos, aceitam os amigos como eles são, não fazem exigências. Quem exige é patrão.
Daí que sobre esse assunto não se preocupe.
Preocupe-se, se o ritmo, fôr demasiado intenso, e lhe cause problemas de ordem física, ou emocional. Se esses compromissos o afastarem demais da família, especialmente do jovem que está numa idade que precisa da presença do pai. O resto como diz o povo, um dia atrás dpo outro.
Boa semana
Um abraço
Toda a calma e bem-estar do mundo para si Amigo Inglês.
Um beijo amigo,
Maria Faia
Eu não desculpo!
Porque não tenho nada para desculpar ;)
Ideia genial esta das lendas! belos post que vai dar.
Um beijinho.
Elvira
Mais uma vez obrigado pelo seu conselho. As minhas ausências relacionam-se muito com actividades com a família e faço por não ser um pai afastado.
Um abraço
António
Maria Faia
Obrigado pelas suas palavras minha amiga.
Lamento que o seu Querubim tenha acabado.
Uma boa semana
António
Ok Joaninha
Então não tem nada a desculpar ainda bem.
Continuarei a fazer postagens sobre as Lendas de Portugal.
Um beijinho
António
Conheço bem esta "Boca" mas também desconhecia a lenda.. talvez por ser nova... é sempre bom ler... uma historia de amor...
Beijinho
Enviar um comentário