segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A VIAGEM AO DOURO



A VIAGEM

Não sou muito dado a viagens de autocarro e por isso quando nos surgiu o convite , vacilei um bocado, confesso. Durante uma horinhas mantive comigo mesmo uma luta sem tréguas. De um lado tinha a cabeça a funcionar (mal) aconselhando-me (mal) para não ir, por outro lado o coração (bem) a obrigar-me a pensar (bem) fazendo-me sentir que os meus receios eram infundados.

A verdade é que o programa era demasiado aliciante e portanto algum deles teria de ficar a perder depois de analisados minuciosamente, todos os pormenores da viagem. Perdeu quem funcionou mal, a cabeça e ainda bem. Hoje consegui até que os dois estivessem de acordo, depois deste fim de semana absolutamente alucinante.

Numa primeira etapa, aquela que me preocupava mais, a viagem de autocarro levou-nos até Vila Real onde, surpresa das surpresas, decorria o Circuito Internacional de Vila Real, prova que já não se realizava há uns bons anos em virtude de ter havido mais um acidente que ceifou a vida a um espectador e mandou para o hospital alguns outros. Emocionantes os treinos livres a que tivemos oportunidade de assistir por mero acaso. Com a adrenalina ao rubro lá fomos almoçar, que o tempo era pouco para tudo aquilo a que nos proponhamos. Como primeiro impacto emocionante não começámos mal.

Já estão a imaginar o estado de espírito que invadiu todos os meus companheiros de viagem, alguns dos quais nunca tinham estado a um kilómetro de tais máquinas voadoras”,
quanto mais poder v
ê-las passar ali tão perto de nós, que estivemos encostadinhos aos " rails " que protegem o circuito. Não era apenas o barulho, também a velocidade que os carros atingiam naquela pequena recta do traçado nos transportavam para outra galáxia.

Depois de almoço, numa rápida viajem até ao Pinhão embarcámos então no " Douro Azul " que nos havia de transportar até à Régua, não sem antes sermos de novo surpreendidos com um turístico comboio de locomotiva a vapor, que estacionado na Estação da CP do Pinhão impedia que cumprisse-mos o horário para o nosso cruzeiro fluvial. Tantas emoções e tão fortes mesmo antes de sentirmos aquela que nos levou a realizar este sonho que eu e minha mulher guardávamos há tanto tempo.

E começou o nosso cruzeiro.
Que vos posso dizer? Que n
ão encontro as palavras certas para descrever todas as imagens que nos foram aparecendo à medida que descíamos o Douro. Simplesmente fabulosas.

O nosso " Douro Azul " estava apinhado de gente que como nós ali foi satisfazer a curiosidade, por isso resolvemos ficar pelo interior do Barco, embora viesse-mos com frequência cá fora, encher as nossa máquinas fotográficas de recordações que irão perdurar ao longo dos tempos. Aqui neste meu cantinho, nada melhor se enquadraria que estas imagens POR ENTRE MONTES E VALES.

A BARRAGEM DE BAGAÚSTE

Foram momentos inesquecíveis, os vinhedos das encostas, as famosas casas do vinho do porto, o rio, a chegada à barragem. Tudo de pé cá fora de olhos bem abertos e com muito respeitinho por tudo aquilo que se iria passar.

Lentamente, o Douro Azul entrou no estreito canal entre comportas onde se imobilizou para que se procede-se ao esvaziamento daquele compartimento. Devagarinho também, o nível da água começou a descer e o nosso barco foi acompanhando esse movimento. A visão que tínhamos até então, deixou de existir e por momentos ficámos com a sensação de que estávamos a entrar num poço, bem fundo. A comporta que se tinha elevado nas nossas costas formava agora uma imensa muralha de onde jorrava água em pequenas quedas que nos davam uma imagem lindíssima.

À nossa frente, pelo contrário, a muralha que nos foi aparecendo lentamente à medida que o nível da água descia, começou devagarinho a subir, abrindo perante nós de novo o Rio Douro em toda a sua magnitude, embora a um nível diferente. Para trás ficara a Barragem de Bagaúste, onde dezenas de pessoas se debruçaram observando toda a manobra do desnivelamento. Um pequeno lanche a bordo e um Porto de estalo, encerraram com distinção esta etapa inesquecível.

CASA DE MATEUS

Como o sábado, dada a hora, deixava margem para manobra, entenderam os organizadores nossos amigos que poderíamos ainda visitar a Casa de Mateus que está situada a cerca de 5 km de Vila Real. Não se sabe ao certo quando começou a ser construída, mas sabe-se que em 1760 estavam concluídos os alicerces e as paredes. Esta casa, pertença dos Condes de Vila Real, é considerada um dos mais belos solares de Trás-os-Montes e até mesmo do país, e, segundo alguns, o seu projecto arquitectónico deve-se ao famoso Nicolau Nasoni. Foi mandada erigir por António José Botelho Mourão, avô do Morgado de Mateus D. José Maria de Sousa Botelho e Vasconcelos, embaixador em Paris.

Recheada de belo mobiliário, com os tectos e as sanefas feitos em castanho trabalhado, a Casa de Mateus é, desde 1971, uma fundação privada dirigida pela família, que ali organiza cursos de música, o prémio literário D. Dinis, exposições de artes plásticas, concertos, congressos e seminários. Integrado no solar surge uma biblioteca, onde poderá encontrar uma notável edição de Os Lusíadas de Luís de Camões , o museu riquíssimo e a capela, cuja construção foi concluída em 1750 e, na face frontal sobressai um bonito espelho de água com uma escultura no meio da autoria de João Cutileiro, provavelmente a perspectiva mais conhecida da Casa de Mateus, uma das jóias do período barroco em Portugal. Aqui é produzido o "Mateus Rosé", conhecido em todo o mundo.
Visit
ámos o palácio, brilhantemente descrito por uma amável guia que nos contou minuciosamente tudo o que quisemos saber. De saída passámos pela adega onde já não assistimos ao pisar das uvas que tinha acabado de ali acontecer. Saímos já noite e iniciámos a nossa viagem até Mangualde onde pernoitámos.

MANGUALDE E VISEU

No domingo, a hora de partida foi retardada, que o dia anterior tinha sido fortíssimo pelo esforço físico e pelas emoções que estavam à flor da pele.

Em Mangualde, subimos então à Srª do Castelo onde aquele Santuário ficou registado nas nossas memórias, pelo seu interior e pormenor. Do miradouro que fica no cimo do monte, bem na sua frente, os nossos olhos captaram imagens de uma rara beleza.

Viseu foi a visita que se seguiu e a cidade deixou -nos impressionados pelo seu desenvolvimento e pelas vias de acesso de que a cidade está servida.

A qualidade de vida em Viseu não são palavras vãs, pois dá gosto viver ali, adivinha-se. O comércio está em franca expansão e a parte velha da cidade, com grande parte dos edifícios recuperados, deixa-nos com a certeza de Viseu ser uma cidade cuidada.

A sua lindíssima Sé, o Museu Grão Vasco, e a Igreja da Misericórdia foram visitas a não perder, e a elas voltarei, seguramente com o meu filho que a história escreve-se por ali.

Depois de um almoço bem recheado e bem regado, inicmos a viagem de regresso, e não fora a boa disposição que irradiava da cara de todos, pela satisfação de terem participado em tão belo passeio, e esta última etapa da viagem ter-nos-ia trazido alguma desilusão, uma vez que grande parte do percurso foi feito a passo de caracol, obrigando-nos a chegar a casa tarde e a más horas.

Rapidamente esquecemos o pormenor porque tudo o resto é para lembrar e a avaliar pelas promessas, para repetir.


20 comentários:

avelaneiraflorida disse...

E ...queremos mais,não é????

BJKS

António Inglês disse...

Ai não que não queremos.
Uma noite serena avelaneiraflorida.
Um beijinho
José Gonçalves

Elvira Carvalho disse...

Fui agora ao correio e aqui me tem para lhe dizer que adorei o passeio pelo Douro que me deu a conhecer. Para comentar o post volto amanhã.
Um abraço

António Inglês disse...

Obrigado Elvira

A sua presença é uma honra para mim
Uma noite serena
José Gonçalves

Maria disse...

Até parece que fiz o passeio contigo....
É muito bonita essa zona por onde andaram... em segunda (ou décima) lua de mel...

Abraço

António Inglês disse...

Já conhecíamos a Região mas de carro e já lá iam uns aninhos.
Desta vez foi mesmo para ir bem por dentro.
Não estava particularmente inspirado para escrever, mas paciência...
Andamos sempre em lua de mel, excepto nos intervalos...
Uma boa semana amiga Maria
Um beijinho
José Gonçalves

*Um Momento* disse...

Meu Amigo
Moro no Porto mas sou de Mirandela
Zonas lindas visitas-te
Passei magnifico fizes-te
Hoars não perdes-te ao volante e assim aproveitas te cada minutinho:)))
Adorei o teu Texto, maravilha de imagens
Para quando a próxima viagem???
:)))))))))))

Deixo um beijo a pensar em meter-me num autocarro e ir fazer uma também:)))

Dia lindo!!!

Elvira Carvalho disse...

Bonito passeio. Há uns três anos eu fiaz o passeio de automóvel pela encosta das vinhas, ladeando o rio. Saímos na Régua, fomos a Lamego, terra da minha mãe, e seguimos para Viseu. Visitámos a Catedral, e o Museu, Naquela altura não deixavam fotografar os interiores, por causa dos flashs que dizem estragam irremediávelmente peças muito Antigas. Fomos á Senhora do Castelo, e ao São Macário. E acabámos nas Termas de S. Pedro do Sul, terra do meu pai.
Um abraço

Rui Caetano disse...

Lembrar-se apenas do que nos alegrou.

São disse...

Venho retribuir a semi-visita.
Recordou-me a minha subida do Douro e a imponência da paisagem, tão marcada pela mão humana.
Só no Pico me foi dado admirar algo superior:as chamadas "curraletas", também elas - muito justamente! - Património Mundial.
Quando dominar melhor estas tecnologias partilharei as fotos açoreanas, para que se possam extasiar peranta a incrível beleza daquelas ilhas.
Noutro registo: a CIA assassinou faz hoje 40 anos (e aos 39) Guevara:paz à sua alma e vida à Democracia!
Boa tarde!

António Inglês disse...

Um momento

Estou a começar a habituar-me a esta ideia de juntamente com mais amigos viajar-mos pelo país que só conhecemos superficialmente.
Acho que deves fazê-lo minha amiga.
Garanto-te que é bom em todos os aspectos...
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Elvira minha amiga

Ainda se mantém a interdição das fotos no interior, mas algumas conseguem-se. Outras estão nos sites oficiais.
Ainda estou em recuperação, pois gostámos muito deste passeio.
Há anos que eu e minha mulher esperávamos por ele. Desta vez deu para o concretizar.
De uma coisa fiquei com a certeza, voltarei a fazer tudo de novo mas desta vez com o meu filho mais novo.
Um abraço para vós
José Gonçalves

António Inglês disse...

Meu caro Rui Caetano

Obrigado pela sua visita.
Estou inteiramente de acordo consigo. as coisas boas devem sempre sobrepor-se às más.
Tudo fica mais fácil
Um abraço,
José Gonçalves

António Inglês disse...

São

Como lhe disse irei com mais calma até ao seu cantinho.
Fico à espera dessas fotos do Pico.
Já lá estive, mas há muitos anos e já mal me recordo dos pormenores.
Será bom recordar.
Pois é verdade hoje comemora-se a morte de Che Guevara barbaramente assassinado como tantos outros combatentes da Liberdade. Páginas vergonhosas da humanidade.
Lembrar-me eu que muitos dos autores destes atentados, são aqueles que apregoam aos quatro ventos a paz...
Um abraço
José Gonçalves

Anónimo disse...

Meu querido amigo,

Mas que excelente descrição!
Fico bem contente por voçes terem dado este lindissimo passeio, pois é na realidade uma beleza.
Hoje em dia os barcos já tem uma boa qualidade!
Muitos beijinhos

António Inglês disse...

Olá aramis

Foi um passeio maravilhoso.
O Douro é muito bonito e visto por ali ainda o é mais.
É para não esquecer
Um beijinho,
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Amigo José,

O seu artigo acompanhado das fotos que nos mostra, é significativo do excelente fim-de-semana que passou.

De certeza que ficou com vontade de novas viagens.

Vamos combinar uma viagem para um grupo de pessoas da nossa terra?

Um abraço.

António Inglês disse...

Boa tarde Ernesto

Foi um excelente passeio.
Fica já combinado que será a próxima iniciativa que tiver-mos.
Estou inteiramente disponível para isso. Mãos à obra.
Um abraço
José Gonçalves

Maria Faia disse...

Olá Amigo,

Ver as fotos com que nos brinda e ler o texto que as acompanha, trouxe-me à memória um passeio muito semelhante que adorei verdadeiramente.
Descer o Douro é simplesmente maravilhoso sobretudo quando em boa companhia disfrutamos da beleza imensa que nos circunda. A Régua, Viseu e outras tantas paragens de que tanto gosto....
Adorei voltar a fazer esta voagem convosco...

Beijo Amigo
Maria Faia

António Inglês disse...

Obrigado Maria Faia pelas palavras bonitas que nos dedicou. Efectivamente eu tive a felicidade de poder fazer tudo isso que afirma.
Voltarei lá seguramente e prepare-se porque está convocada desta vez para ir connosco! E agora não vai arranjar desculpas para não ir!
Eu sei que é uma mulher super ocupada, mas o descanso bem acompanhada por amigos só lhe fará bem.
Um beijinho
José Gonçalves