quinta-feira, 11 de outubro de 2007

UMA PROCISSÃO NAS FESTAS DA SENHORA DA PENEDA

Foto tirada da Net

Na postagem anterior, relativa ao Santuário da Senhora da Peneda, são evocadas as festividades em honra de Nossa Senhora da Peneda.

Estas festividades, como todas as que pelo nosso país fora são cartaz, têm a sua componente religiosa. Na região minhota, essa componente é marcadamente posta à evidência, sendo em muitos casos o principal evento do programa.

Aparentemente, poderia pensar-se que estas festividades, seriam mais umas, iguais ou parecidas a tantas outras, mas não. Estas têm realmente algo de especial, e disso vos deixo testemunho, através desta pequena descrição de uma procissão a que assisti ocasionalmente numa das muitas visitas que faço à Senhora da Peneda.

Há alguns anos atrás, em passeio por aquelas bandas, resolvemos fazer uma visita a este Santuário. Como o fizemos nos princípios de Setembro, acabámos por encontrar a Peneda em festa.

Na altura, estava a procissão a sair do Santuário, e nós respeitosamente colocámo-nos em local estrategicamente definido por forma a não perder-mos pitada de nada.

A procissão, desenrolou-se normalmente e foi passando diante dos nossos olhos , saltando à vista um pormenor demasiado repetitivo na maioria das mulheres que seguíam devotadamente a procissão. Todas ou quase todas iam vestidas de preto, o que numa primeira análise indiciaria um elevado número de viúvas na localidade.

Intrigados, por serem muitas, e por serem a maioria dos seguidores da procissão, resolvi no final, dirigir-me ao paraco que presidiu às cerimónias e questionei-o sobre o porquê de existir na Peneda tanta viúva. A resposta foi surpreendente:

- Não são viúvas. Nestas bandas, como deve saber, há poucas possibilidades de emprego, por isso os homens emigram e procuram fora da terra o sustento das suas famílias.

Ño dia em que saem, as suas mulheres envergam um traje negro, que simboliza a ausência que os maridos foram forçados a fazer, e só voltam a vestir de cor, quando eles regressarem a casa. Não quer isto dizer que não existam no meio desta multidão de mulheres algumas viúvas, mas essa não é a razão de tanto preto nestas gentes.

Nem precisei de perguntar porque seriam as mulheres a maior percentagem de acompanhantes da procissão. Era óbvio.

José Gonçalves



10 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Mais um curioso pormenor, uma achega.
Um abraço

São disse...

São viúvas, sim. E da pior viuvez, porque são viúvas de vivos. Tive essa experiência na família e, portanto, sei quão cruel essa situação é para as mulheres, em particular.
Li há muito, muito tempo, de autor cujo nome neste momento não recordo, um romance sobre esse drama feminino - justamente intitulado"Viúvas de Vivos", cuja leitura recomendo vivamente.
Saudações!

António Inglês disse...

Elvira

Era um pormenor que no caso acabava sendo um pormaior pois aquele cenário deixou-nos tremendamente intrigados.
Quando construi a postagem anterior era para ter incluído esta pequena indicação que se tinha passado connosco, mas como me esqueci, acabei fazendo a emenda.
Sei que sou muito aborrecido com as minhas postagens porque são grandes e cansativas, mas acho que aquilo que é bom saber, vale a pena contar.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

São

Tem toda a razão, acho mesmo muito cruel as mulheres cumprirem com um estúpido hábito meio medieval...
Mas olhe que aquilo que me disseram na altura é que elas o faziam de livre vontade...
Estranhos hábitos dos nossos avós. Penso que eram os tempos pois na época as mulheres tinham de ser de uma submissão inacreditável, pelo menos na província.
Mas nunca deixaram de acontecer alguns "acidentes" pelo caminho.
Obrigado pela dica do livro. Provavelmente encontrá-lo-ei somente pelo título. Deixou-me curioso.
Um abraço
José Gonçalves

Maria disse...

Mais dois posts com tanto interesse....
Obrigada pela partilha

Beijinho

António Inglês disse...

Obrigado Maria.

Tenha um bom dia

José Gonçalves

Elvira Carvalho disse...

Quem disse que eram cansativas? Grandes são sem dúvida, mas são bem recheadas. Eu também tenho últimamente escrito posts maiores.
Escrevemos como sentimos ou consoante a informação que pretendemos dar. Por mim não se acanhe. Se eu não gostasse de ler não vinha cá 2 vezes por dia. E depois o grange é muito relativo.
Experimente por o seu post mais longo ao pé de "os Miseráveis" de Victor Hugo.
Um abraço. E obrigada pelos comentários que sempre deixa nos meus cantinhos.
Bom fim de semana

António Inglês disse...

Eu sei que está a ser simpática comigo, mas mesmo assim digo-lhe que efectivamente esta é a minha maneira de sentir.
Sempre senti a necessidade de comunicar com os outros, creio que é isso me nos liga à vida.
Depois sinto uma felicidade imensa em transmitir aos outros aquilo que conheço e que sei que deveria ser divulgado, pela sua beleza, pelo seu valor, pela sua grandiosidade.
Não vê nos comentários que faço? Como eu gostaria de ser diferente...
Mas infelizmente não sou... ou talvez não infelizmente quem sabe... Mas olhe que paguei bem caro muitas vezes o facto de falar muito e ser sincero... e de que maneira...
Um abraço
José Gonçalves

avelaneiraflorida disse...

Belíssimo pormenor!!!

"BRIGADOS" mesmo!!!!
Bjks

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Disponha sempre minha amiga

José Gonçalves