terça-feira, 15 de abril de 2008

A FILIGRANA EM PORTUGAL

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“Continuo com postagens que dizem directamente respeito ao Norte de Portugal. Vá lá saber-se porque razão não me apetece abandonar os temas desta região.

A verdade é que não me apetece mesmo e assim, falo-vos agora de uma arte portuguesa cujas peças sempre me habituei a ver na bela cidade de Viana do Castelo, quer nas montras, quer nas lindas minhotas que desfilam durante as tradicionais festas em honra da Senhora da Agonia.

O ouro é uma constante e a cidade brilha intensamente sob a sua influência.

Hoje quero deixar-vos de olhos colados às maravilhosas peças que são uma arte da região minhota, não só de Viana. A Filigrana”.


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Remontando ao 3º milénio a.C., no Médio Oriente, a utilização da filigrana foi difundida periodicamente: na época romana mais recente; na Idade Média, na Sicília e em Veneza; na época Barroca; e em finais de 800 e princípios de 900.

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Consiste numa sucessão de grãos, obtidos a partir de um fio ou de uma lâmina de ouro ou prata (com um utensílio apropriado, que pode ser uma matriz com um punção adaptado à forma pretendida), com fins decorativos. Consegue-se o mesmo efeito óptico com uma trança de dois ou mais fios do mesmo diâmetro. Á sucessão de cada grão (granito), soldados em fila segundo a técnica aperfeiçoada ao máximo pelos Etruscos, pode dar-se o nome de “Granulado”.

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Como indica a palavra “fili” e “grana”, o trabalho consiste na utilização de uma trança de dois fios metálicos torcidos e achatados, de forma que se limite, pelos dois lados, a forma primitiva dos dois fios, moldando-os em forma de parafuso.

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Uma vez confeccionado, o fio é empregue no enchimento de uma armação, que constitui o desenho do objecto. Em Génova, cidade de marinheiros, esta estrutura recebeu o nome de “casco”, pela analogia com o casco de um navio que se recheia depois do lançamento; daí também o nome de “armação”.

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A Filigrana, arte de trabalhar metais, é fundamentalmente uma técnica de ourivesaria, e insere-se no tipo de ourivesaria popular. Embora não sendo especifica da nossa tradição cultural, encontramo-la noutros países e culturas, constitui uma das formas mais características das artes portuguesas.


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Lembremos Joaquim de Vasconcelos, o estudioso e erudito revelador da nossa arte popular, que situa a filigrana e o filigraneiro no quadro da arte : «o oleiro, o ourives na filigrana, o feitor de jugos principalmente para citar só três, revelam-se os mais seguros e fieis adeptos da arte nacional. Eles nos conservam o alfabeto de formas decorativas mais rico, mais variado, mais puro, mais genuíno que uma nação pode apresentar» (Joaquim de Vasconcelos, Artes Decorativas, in “Notas sobre Portugal”, 1908).


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Duas correntes têm acompanhado a filigrana ao longo do tempo, em relação à sua produção e uso. Num primeiro momento, aparece como artefacto secundário da jóia, como técnica de primor e de «sentimento artístico», aplicada a adereços de luxo, de uso profano e sagrado, com apurado gosto no desenho, cujo imaginário e configuração artística a integravam num tipo de ourivesaria própria das classes mais elevadas da escala social.


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A filigrana foi aplicada em importantes peças de ourivesaria litúrgica, de que se são apurados exemplos o cálice de prata dourada do Mosteiro de Alcobaça, a Cruz de D. Sancho, exposta no Museu de Arte Antiga, as quais exemplificam o uso da filigrana, como ornato único. A filigrana vive então das jóias, nada valendo sem elas. Conotada como - técnica da aplicação – permanece com esta função até ao século XIX.

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Num segundo momento, no segundo quartel do século XIX, já como - técnica de integração - , a filigrana mais complexa e perfeita, mais segura, liberta-se da chapa de laminar que decorava, ganhando lugar de peça individualizada; sobre um esqueleto, estrutura ou armação, o filigraneiro teceu, ergueu, armou com fios delicados toda a «arquitectura» da sua obra.

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O gosto pelas jóias de ouro filigranadas também se manifestou entre as classes superiores da época, assumindo-se como objectos de prestigio social para quem os usava. Porém classificada como arte popular, porque é produzida nos interregnos das tarefas campestres em certos locais, principalmente nos arredores do Porto. Surgem assim, os típicos corações de filigrana, alguns com grandes dimensões, os crucifixos, as cruzes de Malta, as arrecadas, os colares de conta, os brincos de fuso ou à rainha. Todo esse ouro filigranado é, não só um ornamento, como uma capitalização certa e segura de economia caseira, essencialmente rural.

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A filigrana passa a encarnar o lamento de quem ocupou durante séculos o pedestal de gloria, para depois, numa idade mais avançada, se ver destronada, desprezada. Acusam-na de uma arte menor.


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A tecnologia própria à filigrana abrange uma memória e um espaço sociais, isto porque cada técnica vai fixar-se num centro geográfico, numa época que permite tirar o máximo partido das riquezas dos processos e, em simultâneo, realizar uma difusão progressiva dos produtos.

Toda a filigrana portuguesa e consequentemente, a de Gondomar, se desenvolve de uma forma tradicionalista. Por isso, a forma, o modelo, a decoração, pouco tem variado desde há séculos relativamente à sua técnica.


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A Filigrana é um trabalho ornamental feito de fios muito finos e pequeninas bolas de metal soldadas de forma a compor um desenho. O metal é geralmente ouro ou prata mas o bronze e outros metais também são usados. Como arte de trabalhar metais, é fundamentalmente uma técnica de ourivesaria, e insere-se no tipo de ourivesaria popular. Embora não sendo específica da nossa tradição cultural - encontramo-la noutros países e culturas - constitui uma das formas mais características das artes portuguesas.


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Textos de Cardoso do http://trajesdeportugal.blogspot.com e NET.

Fotos da Net

António Inglês


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17 comentários:

Carminda Pinho disse...

Um óptimo post sobre as nossas tradições e cultura.
A filigrana portuguesa é muito apreciada também no estrangeiro.
São óptimos os nossos artesãos do ouro.
Tenho uns desses brincos à minhota,
creio que se chamam arcadas, que comprei em Ponte de Lima. São lindos.

Beijos

Isamar disse...

Querido Amigo António

Uma arte centenária, do Norte, que sempre me deslumbrou. Tenho algumas peças, de que muito me orgulho, oferecidas pela minha mãe que, nas suas viagens ao norte, nunca dispensava a aquisição de alguns presentinhos para a família.
Quanto ao post, lindíssimo, feito com muito cuidado e muito gosto, perco-me a olhar, como sempre, para as imagens.

Obrigada!

Mil beijinhossssss

Anónimo disse...

António eu sou de Viana, por isso gostei do post a dobrar!
É sempre bom que se divulgue a nossa arte e a nossa cultura.
Quem anda mais pela Capital, ainda tem possibilidade de ir a Belém visitar a exposição do ouro de Viana.
Abraço

Branca disse...

Mano António,
Belo post! Esta é uma arte que conheço bem e tenho visto trabalhar ao vivo. Gondomar é uma terra de ourives e de fabrico de filigranas.Se procurares por aqui o símbolo da cidade é mesmo o coração de ouro em filigrana que aparece no centro do seu escado ladeado por espigas de ouro que têm a ver com a parte mais agrícola.
Hoje vim muito tardito aqui ao pc,mas não podia deixar de te vir desejar uma boa noite.
Beijinhos

Isamar disse...

Mano Tó!

Passei para te deixar beijinhos e olhar estas imagens que são de rara beleza. Os atífices do ouro em Portugal são ímpares no mundo. Não tenho conhecimento desta arte em outra parte do mundo e as peças que aqui nos mostras são lindíssimas.

Bem hajas!

Um abraço apertado da sempre amiga

Isabel

p.s. Olha a baía e lá bem ao fundo eu estou a acenar-te, António.
Mil beijinhossss

Joaninha disse...

Liiinndo post,

Lindo adoro filigrana... Como a minha avó era de Ponte de lima, enfim eu adoro o minho, mas o António já sabia disso ;)

Branca disse...

Voltando a este post, António meu amigo, desculpa um erro que dei atràs e que dificultou a interpretação: escrevi escodo em vez de escudo. O que queria dizer é que o escudo da cidade de Gondomar tem ao centro um coração de filigrana. Houve uma grande fábrica de uma família muito conhecida,durante muitos anos, já no tempo do Antigo Regime, chamada "Os Rosas de Portugal" que daqui exportavam filigrana para todas as partes do mundo, eram vários irmãos mas foram morrendo, nem sei se ainda há algum vivo porque os últimos foram viver para o Porto e essa fábrica entretanto encerrou, mas ainda há grandes ourives por esta terra,no entanto e como deves saber a ourivesaria está em crise...é o sinal dos tempos. Ainda há pouco se fez uma reportagem no Telejornal sobre isso e por mais que uma vez falou um amigo meu e ex-colega de estudos, que está hoje à frente de uma das maiores casas do ramo, que já vem do pai dele mas mesmo assim teve que reduzir ao número de funcionários.
Mas, não falemos de coisas tristes, isso dava outro post.
Até logo
Beijinhos

António Inglês disse...

Carminda

A filigrana sempre foi uma arte que me entusiasmou. Durante a minha vida toda habituei-me a admirar a beleza destas peças em Viana do Castelo.
O Alto-Minho é uma região onde esta arte está bem enraizada, embora a atravessar um período menos bom.
Sinal dos tempos...
Um abraço
António

António Inglês disse...

Isabel

Eu chego a ir a Viana comprar peças em filigrana para oferecer a alguns amigos aqui por baixo.
Esta arte da filigrana é realmente um espectáculo.
Tenho algumas peças também, mas poucas.
Aliás, eu adoro tudo o que se liga ao Norte...
Um grande beijinho
António

António Inglês disse...

Olá Fátima

Obrigado pela sua visita a este meu cantinho e terei oportunidade de lhe retribuir.
Se é de Viana, eu só não nasci em Afife, de resto a minha mãe é de lá e o meu coração está fisicamente comigo, mas hipotecado definitivamente àquelas paragens.
Se Deus quiser lá iremos viver daqui a uns tempos.
Um abraço
António

António Inglês disse...

Branca

Uma das coisas que um dia farei é conhecer melhor Gondomar, terra do ouro como se costuma dizer.
Um abraço e um beijinho
António

António Inglês disse...

Isabel

Estive hoje em frente da minha Baía e ... vi-te claramente...
Obrigado pela visita Sophiamar...
Quanto à arte da filigrana, ela não genuína de Portugal e existem alguns outros países que a têm também...
O que a Internet nos ensina....
Um beijinho
António

António Inglês disse...

Bem Joaninha

A menina tem família espalhada pelo Minho, tal como eu.
Temos mesmo muitas coisas em comum.
Um grande abraço
António

António Inglês disse...

Branca

Não te preocupes pois eu percebi.
Depois de me teres dito que o escudo da cidade de Gondomar tinha um coração de filigrana, fui a correr ver. Desconhecia este facto.
Como já disse anteriormente, terei de conhecer a tua terra melhor um dia destes.
Um beijinho
António

Um Momento disse...

Simplesmente uma arte bela e deveras trabalhosa
LINDO!!!!!

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António Inglês disse...

Um momento

Uma arte não genuinamente portuguesa mas muito enraizada no Norte de Portugal.
São várias as terras que têm artesãos que trabalham a filigrana, mas a montra é Viana mesmo nas Festas em honra da Srª da Agonia.
Um beijinho
António

Unknown disse...

Olá!

Adorei o post sobre essa arte maravilhosa, adoro jóias em filigrana.

Será que alguém poderia me indicar ourivesarias que sejam especialisadas em jóias em filigrana.

Abç