sábado, 12 de janeiro de 2008

POR FALAR EM HISTÓRIA

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OS ÚLTIMOS EXECUTADOS NA FORCA EM VIANA

PARTE II

A segunda e última execução ocorrida em Viana, teve lugar, como já se disse, no Campo do Castelo, a 22 de Março de 1843, sendo enforcado Jacinto José da Silva, de 37 anos, natural da freguesia de Giela, concelho de Arcos de Valdevez, casado com Antónia Maria, filho de João da Silva e de Maria Angélica

Era acusado de ter assassinado Maria Gaia, solteira, que na altura estava em estado de gravidez, e um rapaz de três anos de idade, filho de ambos.

Esta mulher, muito pobre, que vivia na freguesia de Ázere, concelho de Arcos de Valdevez, tinha desaparecido desde o dia 3 de Fevereiro de 1840, ignorando-se o seu destino. Uma ausência tão prolongada induziu os vizinhos a suspeitar de algo de anormal. E então, alguns deles mais chegados, encontrando a chave da porta de casa no sítio que ela tinha por costume deixá-la, entraram com o cabo da polícia. O estado desta dava a entender que a sua moradora a havia deixado por pouca demora.

Entretanto, vozes correram então de que a mencionada Maria Gaia fora assassinada por Jacinto José da Silva, o qual, segundo ela dissera na véspera do dia em que desapareceu, a mandara aparecer em determinado sítio que não revelou.

Tendo tudo isto sido levado ao conhecimento do Administrador do Concelho, mandou este proceder às necessárias buscas nos locais das redondezas e nas freguesias circunvizinhas. Em resultado destas diligências conseguíram encontrar, no dia 5, a infeliz grávida e o filho de três anos mortos dentro de uma furna num sítio ermo bastante altaneiro, densamente arborizado e coroado por alguns colossais rochedos, denominado S. Miguel o Anjo, da freguesia de Ázere.

Instaurado o respectivo processo jurídico pelo Juiz de Direito da Comarca, e em virtude dos indícios e das bem fundadas suspeitas, foi preso o dito Jacinto.

Julgado e condenado à pena capital em 2 de Agosto de 1840, pelo mesmo juiz dos Arcos de Valdevez, que três anos antes condenara a igual pena o afamado Antoninho, viu a sentença confirmada pelo Tribunal da Relação do Porto, em 17 de Fevereiro de 1841.

Por fim, foi por Portaria de 15 de Fevereiro de 1843, participado ao presidente do Tribunal de Relação do Porto que Sua Majestade a Rainha D. Maria II, não se dignou usar a sua real clemência em favor do réu, pelo que a sentença se cumpriu no citado dia 22 de Março de 1843, em forca erguida no Campo do Castelo, em Viana, procedendo-se a este terrível suplício todas as formalidades do costume e , ao qual assistiu grande quantidade de povo, sem contudo alterar, nem levemente, a tranquilidade pública.

Mas a forca tornara-se cada vez mais aos olhos de todos, um odiosos instrumento de morte chocante, cruel e desumano.

Por tal motivo, e sendo os portugueses um povo de profundo sentimento de paz e de uma moral forte assente nos ensinamentos doutrinários da religião, levou a que os movimentos humanistas oriundos da Europa viessem a repercutir tanto os seus ideais em Portugal que levaram mesmo o nosso país a ser o primeiro a tomar a histórica e honrosa decisão de abolir a Pena de Morte, inicialmente, no reinado de D. Maria II, por Lei de 5 de Julho de 1852, para os crimes políticos e, finalmente, em 1 de Julho de 1867, já no reinado de D. Luís, para todos os crimes civis, tendo obviamente a partir desta data. Deixado de existir para sempre a forca em Viana do Castelo como em todo o país.


Documento de autoria de ANTÓNIO DE CARVALHO, investigador da história local e autor de várias obras sobre o Concelho, com especial relevo para Viana do Castelo.

Este documento faz parte de um livro intitulado “Acontecimentos Que Viana Sentiu II” e editado pela Junta de Freguesia de Viana do Castelo, Santa Maria Maior em 2005.

José Gonçalves

6 comentários:

Isamar disse...

À noite voltarei para ler com atenção e comentar. Estes posts são muito interessantes pelo que prefiro lê-los sossegadamente. Aprendo com eles.Obrigada.

Beijinhosssss

Isamar disse...

E aqui estou a comentar conforme o prometido.Interessantes posts estes que nos trazem aspectos da História de Portugal que muitos de nós desconhecemos. Não defendo a pena de morte seja em que circunstância for mas não aceito a redução de penas. Todos deveriam ser obrigados ao seu cumprimento integral e à realização de trabalhos para a comunidade onde estão inseridos.Ao tempo era assim e o acto da execução não deixava de constituir um momento muito doloroso.
Beijinhossss

Elvira Carvalho disse...

Sou contra a pena de morte. Mas como a nossa amiga Sophiamar também acho mal a redução de penas. Salvo raras excepções, acabam por vir fazer o mesmo.
Um abraço

António Inglês disse...

Sophiamar

Cá te espero.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sophiamar

Eu também não sou a favor da pena de morte, mas olha que às vezes...
O pior é mesmo quando as penas são reduzidas, ou quando os deixam sair em liberdade, ou quando os mandam para casa à espera.... do crime seguinte.
Estas histórias são conhecidas normalmente de pouca gente e são graças a alguns estudiosos que ficamos a conhecer partes dela que de todo nos eram desconhecidas.
Eu desconhecia também por completo que a forca em Viana do Castelo tivesse sido alguma vez colocada no mesmo local onde hoje está a Igreja da Senhora d'Agonia.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Elvira

Também não defendo a pena de morte e penso que pelo menos por esse lado a humanidade tem vindo a melhorar pois ela tem vindo a desaparecer.
Infelizmente há países onde a vida humana tem pouco valor e a morte acontece ao virar da esquina, não sendo preciso aguardar julgamento...
Um abraço
José Gonçalves