sábado, 3 de novembro de 2007

VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO



VILA DE SÃO MARTINHO DO PORTO
(Sua História)

PARTE III

O FORAL

Eis a tradução do original, conforme se encontra escrito em língua latina:

“Em nome da Santa e Indivisível Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, Amén”

Porque os dia dos homens são breves e a memória da sua fama passa depressa, se os gestos não ficarem escritos, facilmente passam da memória e o esquecimento impede que as notícias cheguem aos vindouros:

Por isso, nós Frei Estevão, Abade, e o Convento de Alcobaça , queremos fazer conhecer a todos que vivem, o presente documento que, de comum acordo e com o nosso beneplácito, damos e concedemos a nossa herdade que temos no nosso couto no lugar chamado de São Martinho, assim dividido pela foz de Salir por uma parte,e , da outra parte. Começa no Bico da Longara e vem pelo Vale e se estende até ao brejo, a DOMINGOS GONÇALVES, PEDRO MOURO, PEDRO NAZA, DOMINGOS FARROTO, JULIÃO JULIANES, JOÃO HISGUEIRO, e todos os outros, até ao número de 60, que esse lugar querem povoar e nele morar, e aos seus sucessores, que o possuam e herdem perpétuamente, com a condição que eles e todos os seus sucessores nos paguem e aos nossos sucessores, a quinta parte do vinho, trigo cevada, trigo candeal, milho, azeite, legumes e todos os outros frutos que dela colherem. Dos frutos, das hortas que cultivarem, ou possuírem, se acontecer que desses frutos alguma coisa venderem, ou derem, deem-nos a quinta parte.

Igualmente dos pomos que venderem, pagar-nos-ão, e aos nossos sucessores, a quinta parte.

Os pescadores tenham para a tarefa da sua pesca a sua rede, e se suceder que vendam ou deem o peixe, deem-nos e aos nossos sucessores, a quinta parte.

Igualmente de todo o pescado que tiverem, deem-nos e aos nossos sucessores, a décima parte, excepto moreia.

Os lavradores, de todos os frutos que tiverem, deem-nos e aos nossos sucessores, a quinta parte e anualmente no dia de São João Baptista, um alqueire e uma galinha por fogaça.

Mandamos também e lhes concedemos o relego de Santarém, todos os outros foros sejam como uso e o foro da Pederneira, até ao terceiro ano tomem os mesmos posse da sua herdade, do terreno rompido deem-nos a quinta parte, e do não cultivado no primeiro ano em que amanhado nada nos deem; aos quatro anos, e daí por diante, tenham relego de Santarém.

Não lhes é permitido emprazar, vender ou dar a qualquer clérigo, ou religioso, ou a militar secular, ou a qualquer outro, nem ainda de qualquer outro alienar ou constituir algum sucessor ou transferir para outro o domínio pelo qual os supracitados rendimentos possam ser diminuídos ou de qualquer forma prejudicados.

Para dar maior força ao facto, e não poder ser posteriormente renovado, fazemos duas cartas de um e o mesmo teor, escritas em vulgar, das quais uma retemos, e outra ficará para os mesmos povoadores, e fazêmo-las autenticar com a garantia do nosso selo.

Nenhum de todos os homens tem o direito de infrigir esta nossa carta de doação e concessão, ou temerária ousadia de a contrariar.

Se porém algum tiver a presunção de isso tentar, saiba que ficará incurso na maldição de (Jesus) Deus Omnipotente e dos seus Santos.

Feita em Alcobaça, no mês de Junho Era de 1257

Estavam presentes:

D. Estevão Abade;
D. Pelágio Pedro;
D Pedro, notário;
D. Lourenço, testemunhas;
D. Mendo Pedro;
Martinho Pedro, cantor;
Testemunhas
Frei Bento;
Frei João Pelágio, Domingos Pedro Cellarário, escreveu.

(Continua)
José Gonçalves

Da minha amiga Sophiamar recebi esta ajuda preciosa sobre os forais que achei interessante acrescentar ao texto inicial. O meu obrigado à sophiamar pela colaboração.


O rei D.Manuel I e D.João II, cunhados e primos, foram os dois mais importantes reis da 2ª dinastia.Os antigos forais apresentavam muitas lacunas, segundo pensavam estes reis, no que ao número de obrigações dizia respeito. Muitos eram os privilégios neles contidos. À medida que se foi procedendo à centralização do poder novas leis foram feitas e outras revistas. Os forais velhos foram sofrendo reformas e isso aconteceu aos nossos forais de Faro e de S.Martinho do Porto.

14 comentários:

vieira calado disse...

Estes documentos são sempre muito interessantes, quer pela linguagem utilizada, quer pelas situações que, por vezes, nada a têm a ver com os nossos dias.
Tenho o Foral de Lagos, publicado luxuosamente pela C.M.L., há uns dois anos.
Quanto às estrelas:
Se tem um quintal pode adquirir uns binóculos e um tripé (indispensável)
porque, com paciência, pode ver as luas de Júpiter, alguns cometas, a Andrómeda e algumas nebulosas.
Arranje uma carta do céu, para poder situar-se e conhecer as constelações que o ajudam a localizar o que procura.
Um abraço.

Maria disse...

Outra fotografia muito bonita de S. Martinho, desta vez vista, talvez, da zona do Facho.
Tenho que confessar que não teria paciência para fazer a pesquisa que andas a fazer, e é curioso ver que sítios como a Pederneira e Óbidos estão ligados a S. Martinho...
Fico a aguardar novos capítulos....

Abraço

António Inglês disse...

Meu caro Vieira Calado

Pois são documentos que povoam algumas das nossas bibliotecas e nem sempre traduzem a realidade pois têm sempre um pouco de imaginação à mistura.
Tenho aliás um comentário de um amigo que contesta alguns dados que estão inseridos numa das partes desta história, pois considera que lendas e história não se podem misturar.
Inteiramente de acordo, mas não deixa de ser história, com floreados ou sem eles.
Quanto ao quintal, por acaso tenho, posso é não ter conhecimentos suficientes para procurar e localizar as constelações tal como as descreve muito bem.
Sempre achei o mundo da astrologia uma espécie de mundo mágico, e um dia destes seguirei os seus conselhos.
Grato pela sua visita.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Maria

Vejo que conheces muito bem São Martinho do Porto.
Realmente é uma foto tirada do Facho, sim senhor.
Pois é, eu também fiquei admirado com muita coisa que tenho aprendido ultimamente, mas asseguro-te que no fim vou ficar com uma "bagagem"...
Um abraço
José Gonçalves

Elvira Carvalho disse...

Ora bem José cá estou como prometido. Já li o texto, que acho muito interessante, aliás gosto de saber o que foram e como foram as localidades noutros tempos. Fico á espera da continuação.
Bom Domingo
Um abraço

à margem. Já enviei o video. Foi feito por mim com fotos que eu tirei. Espero que goste.

Isamar disse...

Belíssimo post! E a história continua.Se tu soubesses quanto este teu trabalho me vai ser útil. Depois fotografo, se o fizer, e postarei aqui.
Amas este teu/nosso País tal como quem te visita e só posso dizer-te que estou muito grata por poder usufruiur da tua companhia. Acrescento aqui que o amigo Vieira Calado, nosso amigo comum,um doce amigo, tem obras publicadas sobre a história do nosso Algarve.Estou de saída mas voltarei para reler.
Bom domingo!
Beijinhos

António Inglês disse...

Bom dia Elvira

Ainda faltam uns tantos textos para finalizar o que propus, mas isto com calma vai.
Ainda não vi o vídeo porque acabei de chegar agora, mas vou já de seguida vê-lo. A propósito, já vi o outro e embora inicialmente me tenha feito confusão, percebi depois o vídeo. Obrigado amiga por me enviar estas pequenas delicias.
Um bom domingo.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Bom dia Sophiamar

Fico satisfeito por estares a gostar e mais uma vez te digo, tal como o fiz no início destas crónicas, que estes documentos poderão não ser 100% fiáveis, sobretudo por terem alguns textos em jeito de lenda, mas quanto ao resto é muito semelhante a muitos outros trabalhos que encontrei.
O Vieira Calado é um amigo recente e tem uma paixão de que gosto muito que é a astrologia. Um dia destes irei perguntar-lhe quais as obras que tem publicadas sobre o Algarve. Não sou um grande amante da leitura, mas leio o meu livrinho de vez em quando e quando se trata de história sobre o nosso país ainda melhor.
Um beijinho e um bom domingo.
José Gonçalves

Anónimo disse...

Meu querido Amigo,
Pois continuo a gostar muito destas tuas crónicas sobre a História de S. Martinho.
Sim, porque para mim a História é feita de Lendas, Realidades e porque não uns floreados? Não podemos ser tão "terra a terra" e tão duros e frios para com os documentos que nos chegam à mão. Isto, a propósito do comentário que o Joaquim Marques fez...
Pela minha parte, obrigada pelo trabalho que estás a fazer e a partilhar connosco!
Muitos beijinhos e um bom Domingo para todos aí em casa.

António Inglês disse...

Olá Aramis

Sabes como sou amigo do Joaquim Marques, mas também sabes como sou.
O Joaquim é assim mesmo, um homem de muito valor mas que leva as coisas na ponta da espada.
Claro que estou de acordo com o que ele diz, as lendas não podem interferir com a história. Mas, a grande maioria dos nossos escritores, e historiadores, sempre introduziram algumas lendas e fábulas, porque a história também se faz de crenças.
Neste caso particular, o documento que consultei, terá esta lenda do voto a Cristo, que na minha óptica não altera em nada a história, mas de resto, no que a história de São Martinho diz respeito, não está muito longe da grande maioria dos outros documentos que conheço.
Também não pretendo que os documentos que possuo sejam a verdade absoluta, até porque no início destas crónicas dei exactamente essa informação.
Paciência, pelo menos acho que quem me lê poderá ter uma versão da história de São Martinho do Porto, ainda que não exacta, pelo menos aproximada.
É que também não conheço nenhuma outra que seja aquela que se poderá intitular a real.
Tem um bom domingo, e estas coisas até é bom que aconteçam pois assim aprendemos todos.
Um grande abraço
José Gonçalves

Isamar disse...

E assim se foram formando concelhos e póvoas por este reino fora para que as terras fosssem povoadas, cultivadas e defendidas.Papel relevante, para além do clero regular, tiveram o clero secular e os nobres a quem os reis foram fazendo as doações com o mesmo objectivo.
O teu blogue está a desempenhar um importante serviço público. Continua!
Beijinhosss

Isamar disse...

Mas as lendas, desculpa estar a comentar mais uma vez, fazem parte dos documentos históricos sobre os quais assenta a verdade dos factos históricos.Há, de facto, uma parte que não passa de ficção mas outra parte é inteiramente verdadeira. São os documentos históricos tradicionais que juntamente com os documentos escritos ( o foral que nos apresentas) e os documentos monumentais ( Castelos, conventos, muralhas) comprovam a verdade histórica.
Beijinhos

António Inglês disse...

Sophiamar

Estas pequenas histórias fazem a história do nosso país.
Obrigado pelas palavras, mas serviço público não acho que esteja a fazer, é muita bondade tua.
Uma boa semana.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sophimamar

Não tinha reparado que tinhas feito dois comentários.
É verdade o que dizes, e podemos lembrar-nos por exemplo de uma terra aqui bem perto de mim, a Nazaré.
De que se lembram as pessoas quando se fala na Nazaré? Não é de uma lenda? Pois é, mas faz parte da história desta terra. Sem essa lenda nem parecia que a Nazaré era o que é.
E há mais exemplos que poderia citar. No entanto também concordo que não podemos misturar as águas. São coisas diferentes, mas acabem por se completar.
Uma boa semana e um beijinho
José Gonçalves