domingo, 18 de maio de 2008

MORRE EM SALVADOR, AOS 91 ANOS, A ESCRITORA ZÉLIA GATTAI

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Zélia Gattai


Autora paulistana e viúva de Jorge Amado estava internada desde 30 de Março, após passar por uma cirurgia

Quando internada para ser operada


SALVADOR - Morreu na tarde deste sábado, 17, a escritora Zélia Gattai. A autora e viúva de Jorge Amado estava internada desde 30 de Março, após ser submetida a uma cirurgia para a remoção de um pólipo no intestino. Zélia reagiu lentamente e apresentava desde a madrugada problemas pulmonares, renais e arteriais, que sinalizavam para um quadro de falência múltipla de órgãos, de acordo com avaliação da equipe médica, que a assiste desde sexta-feira, quando o quadro, que era crítico, se agravou.




Zélia Gattai


A estreia tardia da escritora paulistana Zélia Gattai, não impediu que sua produção literária crescesse a uma média de um livro a cada dois anos desde 1979. Filha e neta de imigrantes italianos, a académica, memorialista, romancista e fotógrafa estreou aos 63 anos, justamente com um livro que conta a vida de seus antepassados, Anarquistas Graças a Deus (1979), relato da formação da Colónia Cecília, tentativa de criar uma comunidade anarquista em pleno Brasil do século 19. Seu maior êxito até hoje, o livro já vendeu mais de 200 mil exemplares e foi adaptado por Walter George Durst em uma popular série de televisão, com direcção de Walter Avancini, e com os actores Ney Latorraca e Débora Duarte no elenco. A mini série foi exibida pela Rede Globo em 1984.


Zélia


Nascida em São Paulo em 2 de Julho de 1916, Zélia casou-se aos 20 anos com o intelectual Aldo Veiga, militante do Partido Comunista, o que a tornou próxima dos escritores da Semana de 22, especialmente Oswald e Mário de Andrade. Em 1938, seu pai, Ernesto Gattai, foi preso durante o Estado Novo, atiçando a militância política da futura escritora contra o arbítrio getulista. Com Veiga a escritora teve seu primeiro filho, Luís Carlos Veiga, em 1942.

Três anos depois, em 1945, ela conheceu o segundo marido, Jorge Amado, durante o 1º. Congresso de Escritores. Os dois trabalharam no movimento pela amnistia dos presos políticos e decidiram morar juntos. Um ano depois, quando Amado foi eleito para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio, onde nasceu o filho João Jorge Amado, em 1947. Em 1948, o Partido Comunista foi declarado ilegal, o escritor perdeu seu mandato e o casal partiu para o exílio. Jorge e Zélia viveram na Europa por cinco anos, dois deles em Praga, onde nasceu a filha Paloma, em 1951. Foi nessa época que ela começou a se interessar por fotografia, actividade que renderia, no futuro, a foto biografia do marido, Reportagem Incompleta, em 1987


Zélia de novo


Parte da produção memorialista da escritora, que ocupava a cadeira 23 da Academia Brasileira da Letras - a mesma do marido Jorge Amado -, é dedicada ao período do exílio europeu. Em Jardim de Inverno (1988), seu quarto livro, Zélia reúne lembranças do continente europeu ainda dividido entre leste e oeste. Antes dele, Senhora dona do Baile (1984) retrata esse mundo separado pela cortina de ferro e faz desfilar por suas páginas algumas personalidades históricas do século que passou.

Dois de seus livros contam os 56 anos de convivência com o marido na Bahia, A Casa do Rio Vermelho (1999) e Memorial do Amor (2000). No primeiro, ela relata fatos curiosos sobre os intelectuais amigos que passaram pela famosa casa do casal de escritores no número 33 da rua Alagoinhas, em Salvador, entre eles o poeta Pablo Neruda. Em Memorial do Amor, ela conta a história da casa, desde a compra do terreno (com os direitos de Gabriela, Cravo e Canela, de Amado) até a escolha dos objectos de decoração adquiridos nas inúmeras viagens dos dois.

Um dos livros mais elogiados da escritora foi publicado em 1982. Chama-se Um Chapéu para Viagem Nele, Zélia narra a queda da ditadura de Getúlio Vargas, relembra a luta pela amnistia dos presos políticos e conta como foi o processo de redemocratização do País.


Jorge Amado


Dois de seus livros, Città di Roma (2000) e Códigos de Família (2001), são dedicados a rememorar a formação das famílias Gattai e Amado. No primeiro, Zélia relata a chegada de seus avós italianos ao Brasil no século 19, a bordo do navio que dá título ao livro, Città di Roma. No segundo, Códigos de Família, ela conta histórias divertidas e comoventes de suas duas famílias e descodifica as mensagens dos parentes. Zélia Gattai ainda escreveu livros infantis, como Pipistrelo das Mil Cores (1989), O Segredo da Rua 18 (1991) e Jonas e a Sereia (2000).


Casa Museu Jorge Amado


BIOGRAFIA

Filha de imigrantes italianos, a escritora Zélia Gattai (Zélia Gattai Amado) nasceu em 2 de Julho de 1916, na capital de São Paulo, onde viveu toda a sua infância e adolescência. Zélia participava, com a família, do movimento político-operário que tinha lugar entre os imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, no início do século XX. Aos 20 anos, casou-se com Aldo Veiga. Deste casamento, que durou oito anos, teve um filho, Luiz Carlos, nascido em São Paulo, em 1942.

Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conheceu em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela amnistia dos presos políticos. A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão.

Em 1946, com a eleição de Jorge Amado para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, Jorge Amado perdeu o mandato, e a família teve que se exilar.

Viveram em Paris por três anos, período em que Zélia Gattai fez os cursos de Civilização Francesa, Fonética e Língua Francesa , na Sorbonne. De 1950 a 1952, a família viveu na Checoslováquia, onde nasceu a filha Paloma. Foi neste tempo de exílio que Zélia Gattai começou a fazer fotografias, tornando-se responsável pelo registro, em imagens, de cada um dos momentos importantes da vida do escritor baiano.

Em 1963, mudou-se com a família para a casa do Rio Vermelho, em Salvador na Bahia, onde tinha um laboratório e se dedicava à fotografia, tendo lançado a foto biografia de Jorge Amado intitulada Reportagem incompleta.

Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estreia, Anarquistas, graças a Deus , ao completar 20 anos da primeira edição, já contava mais de duzentos mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma foto biografia e um romance. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo.

Seu livro, Anarquistas, graças a Deus, foi adaptado para mini série pela Rede Globo de Televisão e as memórias, Um chapéu para viagem , foram adaptadas para o teatro.

Baiana por merecimento, Zélia Gattai, em 1984, recebeu o título de Cidadã da Cidade do Salvador.

Na França, recebeu o título de Cidadã de Honra da Comuna de Mirabeau (1985) e a Comenda des Arts et des Lettres, do governo francês (1998). Recebeu ainda, no grau de comendadora, as ordens do Mérito da Bahia (1994) e do Infante Dom Henrique (Portugal, 1986).


Jorge Amado e Zélia Gattai em momento de descontracção


Zélia Gattai

“Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores”.


Jorge Amado, Zélia Gattai e os filhos Jorge e Paloma



Fontes

Texto O Estado de São Paulo

Fotos tiradas da Net

António Inglês

5 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Soube pela minha irmã à hora do almoço. E o mundo ficou culturalmente mais pobre.
Desejo-lhe uma óptima semana.
Um abraço

Dalinha Catunda disse...

Antonio,
O Brasil reamente ficou mais triste e sentido com a morte de Zália Gattai. Ela e Jorge Amado foram e serão sempre o grande orgulho do nosso Brasil, pois escreveram páginas maravilhosas em nossa literatura.
Um abraço,
Dalinha

Isamar disse...

António, Amigo, Mano!

As pessoas de quem gostamos permanecem para sempre connosco.É o caso de Jorge Amado e de Zélia Gattai de quem muito gostei e continuarei gostando.Ele , um escritor admirável, cuja escrita, fabulosa, lia de um trago porque me cativava tanto que não descansava enquanto não acabasse o livro. Dela nada li , mas tenho a biografia que publicou.
Uma página de amor que se encerra. Que os frutos que das cinzas renasçam sejam tão bons ou melhores ainda do que os seus progenitores. Se isso for possível.

Beijinhos

Tem uma boa semana!

Rita Galante disse...

Querido doce amigo!

A razão da minha ausência, nestes últimos dias, já está à vista. Passe pelo meu último post e leve o que é SEU! Obrigada mais uma vez lindo ser de luz pela sua participação e partilha.

Beijinhos de Amor, Paz e Luz!

Joaninha disse...

O Jorge Amado (li muitos livros dele) foi provavemente um dos melhores escritores do sec 20, da mulher nunca li nada, mas vou por no meu to read list imediatamente.