quarta-feira, 26 de março de 2008

RAUL SOLNADO 50 ANOS DE CARREIRA

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Raul Solnado um dos mais populares actores de sempre do teatro português, foi ontem, dia 25 de Março de 2008, homenageado no teatro que fundou em 1965 e onde se manteve até 1976. Com essa homenagem reabriu o Teatro Villaret. O actor já foi ver o renovado espaço.




Hoje já não o faria", diz Raul Solnado ao relembrar a abertura inaugural do Teatro Villaret, a 10 de Janeiro de 1965. O primeiro e até ao momento único actor português a mandar construir de raiz um teatro – satisfazendo assim um sonho antigo – admite que a aventura não foi fácil.
"Foram 11 anos duros, 11 anos de grande loucura e hoje já não teria energia para me meter noutra. Mas devo acrescentar que ter erguido – e gerido – o Villaret foi, também, uma experiência que me trouxe momentos de grande felicidade." Até porque, diz, no seu caso a gestão não é incompatível com a arte: "Sou muito mandão! Que o diga a minha empregada", graceja.
Na noite passada, e ao fim de meses de obras, o Teatro Villaret reabriu ao público com novo visual: nova plateia, foyer remodelado, equipamento de segurança instalado como manda a lei. Na reabertura, e logo a seguir à estreia da peça ‘A Gorda’, de Neil LaBute, o actor foi homenageado, numa cerimónia que meteu surpresas.




No entanto, Solnado não aguentou a expectativa e já foi deitar o olho ao novo rosto do Villaret. "Fui ver se está tudo de acordo com o projecto original, do Daciano Costa, e achei-o lindo. Está como novo e espero que lá se faça um bom trabalho", comenta. O comediante, que acompanhou a gestão que a UAU fez naquele espaço, pretende igualmente seguir de perto os cinco anos que o Teatro D. Maria II assegurou.
O conhecido actor deseja boa sorte ao director Carlos Fragateiro, acrescentando que "em teatro nunca se sabe". "É inútil contratar vinte economistas para gerir um teatro: a intuição é que vale. Em teatro não há balizas, não há regras. É preciso é coragem", conclui Raul Solnado.

Ana Maria Ribeiro / Correio da Manhã





"Isto de se fazer humor é uma coisa muito séria. E dá muito trabalho", Quem o diz é Raul Solnado, o actor multifacetado, criativo e empreendedor que, graças à sua fé na arte que decidiu abraçar, conseguiu tornar-se no único actor nacional a abrir um teatro nos difíceis tempos de marasmo cultural que caracterizavam o país em 1965. A esse espaço deu-lhe o nome de Teatro Villaret, em homenagem ao actor que, muitos anos antes, o conseguira emocionar até ás lágrimas.

O lisboeta Teatro Villaret reabriu assim ao público prestando homenagem ao seu fundador, ao mesmo tempo que estreou a peça "A Gorda - Fat Pig", do dramaturgo norte-americano Neil LaBute.
Raul Solnado, que nos últimos tempos tem recusado diversas homenagens, achou justo que se lembrassem dele enquanto figura crucial do Teatro Villaret, por onde passariam grandes espectáculos de autores contemporâneos, cujos temas actuais atraíram o público e outras companhias que aí começaram, gradualmente, a instalar-se."Acho muito bonito que tivessem esta ideia. E sinto-me vaidoso que se tivessem lembrado de mim".





Solnado é um actor versátil mas foi com os papéis cómicos que se impôs e se tornou uma figura mítica na história do teatro em Portugal. A sua carreira está repleta de sucessos que ainda hoje perduram na memória do público e atravessam gerações de fãs. Aos 79 anos, que completará no próximo dia 19 de Outubro, confessa que se há algo de que se orgulhe é de ter público de diferentes gerações a aplaudi-lo. "As crianças hoje ouvem as coisas que gravei e acham graça".

As rábulas têm o seu ponto alto com um sketch do espanhol Miguel Gila, chamado "A guerra de 1908", que Solnado estreou em 1961 no Teatro Maria Vitória. Este foi o seu maior êxito de sempre.
"Sofri muito na estreia", recorda o actor. "Tinha muitas dúvidas, não em relação ao texto, mas ao gosto do público. Hoje as pessoas riem melhor do que naquela altura, até porque estão mais acostumados a um tipo de humor baseado no non sense. Mas naquela época isto era novidade. Eu não sabia se um texto deste tipo ia funcionar. Aliás, acho que os cómicos têm sempre essa dúvida.





Uma piada pode levar horas a ser construída e depois ser um fiasco quando apresentada em público. Mas aquele texto do Gila era genial. No fundo era uma crítica a todas as guerras. Em Portugal claro que foi logo entendido como uma crítica mordaz à guerra colonial. Foi marcante. Estava cheio de medo porque aquele tipo de humor não era habitual, nem mesmo em revista. E foi precisamente na revista "Bate o pé" que incluí o texto. Não era fácil. No dia da estreia ia morto de medo. Mas achava que tinha que insistir, tentar fazer algo diferente do habitual. E deu certo."

Para Raul Solnado, "o humor é das coisas mais difíceis da escrita. Daí a dificuldade de hoje em dia se encontrarem grandes textos de novos humoristas. As pessoas, por vezes, não levam a sério o humor. Na realidade o humor não é para brincadeiras. Pensa-se que um actor cómico não tem que trabalhar tanto como um actor dramático. Mas não é verdade. As pessoas nem sonham o quão difícil e violento é o trabalho de actor, seja qual for o registo".
Para Solnado, "ser cómico não e fácil ou difícil, mas sim fácil ou impossível. A palavra difícil não existe para um cómico".




Curiosamente, foi com um drama que Raul Solnado pela primeira vez se emocionou no teatro. "Tinha oito anos e fui com o meu pai ver a peça "A recompensa", com o João Vlilaret. Fiquei tão marcado que me emocionei até ás lágrimas. Ver João Villaret a representar foi algo de transcendente. Isto foi de tal modo marcante que, quando tive oportunidade para abrir o meu próprio teatro, decidi dar-lhe o nome do Villaret. E assim fiz".
A ideia de criar uma casa onde tivesse oportunidade de levar o repertório por si escolhido surgiu de um insucesso na sua carreira. "Em 1958 estava a fazer uma revista no Brasil e protagonizei o meu mais glorioso fracasso. Aliás tive vários ao longo da minha vida mas aquele foi a pedra de toque. Naquela altura estava a ser iniciado um movimento fabuloso no teatro brasileiro. Surgiram muitos teatros de bolso. E então tive a ideia de trazer o modelo para Portugal. Não foi fácil concretizar mas acabei por conseguir. E mantive o Villaret aberto durante 11 anos, até 1976".

Ana Vitória / Jornal de Noticias 24.03.2008




PERFIL

Raul Solnado nasceu a 19 de Outubro de 1929 em Lisboa e estreou-se nos palcos da Sociedade Guilherme Cossoul em 1947. Profissionalizou-se em 1952, dedicando-se à comédia, ao teatro de revista e ao cinema, onde desempenhou papéis marcantes em filmes como ‘O Tarzan do Quinto Esquerdo’ ou ‘Dom Roberto’, que lhe valeu o Prémio de Imprensa para Melhor Actor de Cinema. Os sketches ‘A Guerra de 1908’ e ‘A História da Minha Vida’, que gravou em disco, bateram todos os recordes de vendas da época. Em 1963 começou a fazer teatro televisivo, que o torna ainda mais popular, e em 1965 fundou o Teatro Villaret, que gere até 74. Fez telenovelas, teatro dramático e escreveu com a mulher, Leonor Xavier, a biografia ‘A Vida não se Perdeu’.




PEÇA CRUEL DE LABUTE



‘A Gorda’ é o título da peça com que o TNDM II reabre hoje o Villaret. Trata-se de um texto com a assinatura do ‘maldito’ Neil LaBute (norte-americano conhecido, também, como e realizador de cinema) e que aqui nos conta uma história de discriminação. Com a crueldade que normalmente lhe assiste, LaBute mostra-nos o encontro entre um jovem belo e bem sucedido (Ricardo Pereira) e uma jovem gorda (Carla Vasconcelos). Maria João Falcão e Carlos António completam o elenco.

Ana Maria Ribeiro / Correio da Manhã


E agora ouça uma das mais populares histórias que celebrizaram Raul Solnado “A IDA AO MÉDICO”

14 comentários:

Isamar disse...

Mano Tó, Querido Amigo!

Estive a ler o teu post e comovi-me até às lágrimas. Como sempre!
O Raul merece todas as homenagens que lhe queiram fazer. Desde pequenita que este Grande Homem faz parte da minha vida. Era o seu sketch da guerra que me fazia rir a bandeiras despregadas.E todos os outros. Fui, enquanto estudante, muitas vezes ao Vilaret, ali à esquerda na Fontes Pereira de Melo de quem vinha do Monumental.Onde também ia. Lembro-me dele no Zip-Zip, que era , para mim, a parte mais interessante, devido à idade, na altura, juntamente com as baladas.
Nunca deixei de acompanhar a sua carreira por ser um cómico de excelência, uma actor extraordinário, um ser humano muito grande.Não recorria ao humor fácil, o do palavrão, da brejeirice mais ordinária como acontece com programas que se dizem de humor desde há alguns anos.
Em suma, Saul Solnado é uma "Instituição" do Teatro e como tal, é um dever homenageá-lo. Agora e sempre.

Beijinhosssssss mil e tantossssssss

avelaneiraflorida disse...

Amigo António,
cresci rindo coma a telefonia donde saía uma voz que contava histórias para rir!!!
UM HOMEM que fez o seu percurso na d´ficil arte de fazer RIR, sem exageros, com profissionalismo, com acutilância...
Revejo as imagens a preto e branco de algo novo na televisão de então e encontro o ZIP-ZIP!!! Uma lufada de ar fresco de cuja importância só me apercebi anos mais tarde...

Todas as homenagens a este RAUL SOLNADO!!!!
Brigados por este post!!!
BJKAS!!

Iana disse...

Ola, pam..pam... posso entrar?
bem já entrei...lol e vim deixar um jinho e dizer que adorei seu espaço e:

Estou enviando uma plantinha para você.
Essa plantinha é chamada de AMIZADE!

Você deve regá-la dia após dia, com palavras de Carinho
e Sinceridade adubá-la com Respeito e Dedicação e
deixar que o sol do amanhecer ilumine e
aqueça suas raízes para que ela possa
crescer sempre forte e bonita!

Essa plantinha, quando nova aparenta pouca
importância, ou até mesmo sem vida.

Mas quando começa a crescer você percebe como
suas flores são lindas e suas raízes,

fortes e profundas... Por isso trate essa plantinha da amizade com muito
Amor e Carinho não deixando jamais
de adubá-la e regá-la.

POIS SE ISSO NÃO ACONTECER...

Ela poderá morrer, sem ao menos te dar a chance
de mostrar a essência mais linda que
essa planta possui...

A ESSÊNCIA DA VERDADEIRA AMIZADE!

Beijos
Iana!!!

Maria disse...

Excelente homenagem que aqui fazes ao Raul Solnado.
Lembro-me da construção do Teatro e da inauguração. Fui lá várias vezes, nos tempos de estudante e outros a seguir.
Vi há pouco na TV a homenagem que lhe foi feita lá, e é assim mesmo que deve ser: homenagear os nossos actores enquanto estão vivos, não depois de terem ido embora...

Beijinhos, António

São disse...

Muito pedagógico este teu post, tanto mais que se celebra a 27 deste mês o Dia do Teatro.
Bem hajas, Amigo.

Carminda Pinho disse...

O Raul Solnado é um artista invulgar, se tivesse nascido noutro país...
Mas isso agora não interessa nada, como diz a outra.
Também cresci a ouvir o Raul e as suas histórias na rádio. Quando a televisão transmitia teatro via todos onde ele entrasse.
Tenho os seus discos e cassetes, que o meu sogro já falecido, deixou e tem piada porque os meus 3 filhos, todos eles, habituados que estavam a ouvi-los em casa do avô, adoravam e, mesmo agora, às vezes vou dar com eles a verem as cassetes e a imitarem o próprio.
Este é o efeito que o Raul nos tem dado, o de ser apreciado por 3 gerações, pelo menos...

Beijos

Branca disse...

Olá António,
Este post tem quilómetros, li-o em três partes, três dias seguidos, desculpa mas teve que ser, ontem estive a fazer uma crónica para o site de um amigo até quase às 3h30m, com umas visitas pelo meio, ainda vim cá, fui ver a tua mão, no post claro...e hoje é que revi este texto todo e ouvi o sketch, que me fez relembrar velhos tempos. O Raul Solnado merece tudo...
Lembro-me perfeitamente da fase do Teatro Villaret, do Zip-Zip, que fazia parar o país e das dificuldades para manter esse teatro, mas ele conseguiu levar o seu sonho a bom porto. Um homem fantástico e solidário!
Parabéns António, mais uma vez fizeste aqui uma linda e justa homenagem, senti que também foi muito especial para ti, se pudesses ainda dizias mais...e não havia espaço no blogger que chegasse...ah!ah!ah!
Como eu sou mázinha...e logo agora que não te podes defender...!
Desejo que estejas melhor.
Mil beijinhos
Branca

António Inglês disse...

Isabel

Raul Solnado foi o expoente máximo do comediante do "meu tempo" de menino e moço.
Habituei-me às suas paródias e corria sempre para a televisão para o ver.
Tenho gravados todos os seus sucessos, falados e até cantados, só não tenho os filmes em que entrou.
Merece esta homenagem ainda em vida, porque é realmente um homem de H grande, de coragem e fé.
Solidário a ele se ficou a dever em muito a Casa do Artista que hoje é o orgulho das gentes do Teatro, tão mal tratado no nosso país.
Um beijinho
António

António Inglês disse...

Avelaneiraflorida

Na arte de fazer rir e não só, mas foi nessa que mais ficou ligado.
Vi-o em outros papeis, mas nunca consegui desligá-lo de uma certa forma de estar que só de o ver me fazia rir.
A sua própria forma de se expressar fizeram dele o homem que sempre foi e que sempre me fez rir a bom rir. Sem precisar de entrar por caminhos menos próprios, hoje muito em voga...
Um abraço
António

António Inglês disse...

Iana

Bem vinda a esta humilda casa e não pense que este meu silêncio significou que deixei morrer a linda planta que me enviou.
Só teve menos sorte em receber minha resposta pois estive uns dias sem poder mexer uma mão por um estúpido incidente.
Cá venho agora, dizer-lhe que por aqui tenho feito muitos amigos e espero poder contar consigo também nesta roda de amizades que temos andado a promover por aqui.
Volte sempre que quiser e puder e nem precisa de bater, deixo a porta sempre aberta, especialmente a quem vem por bem.
Um grande beijinho e em breve a visitarei.
António

António Inglês disse...

Maria

Também eu me lembro da construção do Teatro e de lá ter ido algumas vezes.
Como vês, percorremos tantos caminhos em comum que terá sido impossível não nos termos cruzado em algum lugar.
Raul Solnado, representou para a minha geração, um marco do Teatro, um marco na arte de fazer rir, mas um fazer rir com inteligência e educação.
À primeira vista pareceria uma forma simples de comédia, mas se estivesse-mos atentos veríamos como muitas das suas peças traziam ocultas tantas mensagens... Era só preciso estar atento e perceber o sentido de muitas...
Um grande beijinho
António

António Inglês disse...

São

Amiga, o dia do Teatro passou e eu, embora não o esquecendo, não pude a ele chegar pois a minha mão não deixou.
Raul é... Raul... está tudo dito...
Um abraço
António

António Inglês disse...

Carminda

Nem mais, o Raul tem esse condão de ter realmente três gerações a dele gostarem, o que não é muito normal.
Tenho para mim que quando existe qualidade, nunca mais a poderemos esquecer, esteja ela onde estiver.
Um grande beijinho
António

António Inglês disse...

Branca

Não me pude defender naquela altura que fizeste o teu comentário mas agora posso. Quero no entanto dizer-te que tens toda a razão, se deixasse falar a alma e o coração não existiria blogger que chegasse mesmo.
Beijocas mana.
António