sábado, 23 de fevereiro de 2008

JOSÉ MANUEL CERQUEIRA AFONSO DOS SANTOS.

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ZECA AFONSO

Em 1987, José Afonso deixou-nos, vítima de doença incurável. Além de ser, juntamente com Adriano Correia de Oliveira, um dos mentores da canção de intervenção em Portugal e um baladeiro/compositor notável, soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto. Zeca trilhou, desde sempre, um percurso de coerência. Na recusa permanente do caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo salazarento, na denúncia dos oportunistas, dos "vampiros" que destroçaram Abril, no canto da cidade sem muros nem ameias, do socialismo, da "utopia".
Injustiçado por estar contra a corrente, morreu pobre e abandonado pelas instituições. Mas não temos dúvidas, a voz de "Grândola" perdurará para lá de todos os chacais.




José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929 — Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), mais conhecido por José Afonso ou Zeca Afonso, foi um cantor e compositor português. Não obstante o seu trabalho com o fado de Coimbra e a música tradicional, José Afonso ficou indelevelmente associado e música de intervenção, através da qual criticava o Estado Novo, regime de ditadura vigente em Portugal entre 1933 e 1974



Foi criado pela tia Gé e pelo tio Xico, numa casa situada no Largo das Cinco Bicas, em Aveiro, até aos 3 anos (1932), altura em que foi viver com os pais e irmãos, que estavam em Angola havia 2 anos. A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda ligação ao continente africano que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas, os grandes rios atravessados em jangadas, a floresta esconderam-lhe a realidade colonial. Só anos mais tarde saberá o quão amarga é essa sociedade, moldada por influências do apartheid.



Em 1937, volta para Aveiro onde é recebido por tias do lado materno, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e irmãos em Lourenço Marques (agora Maputo), com quem viverá pela última vez até 1938, data em que vai viver com o tio Filomeno, em Belmonte. O tio Filomeno era, na altura, presidente da câmara de Belmonte. Lá, completou a instrução primária e viveu o ambiente mais profundo do Salazarismo, de que seu tio era ferveroso admirador. Ele era pró-franquista e pró-hitleriano e levou-o a envergar a farda da Mocidade Portuguesa. «Foi o ano mais desgraçado da minha vida», confidenciou Zeca.



Zeca Afonso vai para Coimbra em 1940 e começa a cantar por volta do quinto ano no Liceu D. João III. Os tradicionalistas reconheciam-no como um bicho que canta bem. Inicia-se em serenatas e canta em «festarolas de aldeia». O fado de Coimbra, lírico e tradicional, era principalmente interpretado por si. Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe para a sua balada «Menino do Bairro Negro». Em 1958, José Afonso grava o seu primeiro disco "Baladas de Coimbra". Grava também, mais tarde, "Os Vampiros" que, juntamente com "Trova do Vento que Passa" (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) se torna um dos símbolos de resistência antifascista da época. Foi neste período (1958-1959) professor de Francês e de História na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.



Em 1964, parte novamente para Moçambique, onde foi professor de Liceu, desenvolvendo uma intensa actividade anticolonialista o que lhe começa a causar problemas com a polícia política pela qual será, mais tarde, detido várias vezes. Quando regressa a Portugal, é colocado como professor em Setúbal, mas, devido ao seu activismo contra o regime, é expulso do ensino e, para sobreviver, dá explicações e grava o seu primeiro álbum, "Baladas e Canções".


Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso torna-se um símbolo da resistência democrática mantém contactos com a LUAR (Liga Unitária de Acção Revolucionária) e o PCP o que lhe custará várias detenções pela PIDE. Continua a cantar e participa, em 1969, no 1º Encontro da "Chanson Portugaise de Combat", em Paris e grava também o LP "Cantares do Andarilho", recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo melhor disco do ano, e o prémio da melhor interpretação. Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa em virtude de ser alvo de censura.


Em 1971, edita "Cantigas do Maio", no qual surge "Grândola Vila Morena", que será mais tarde imortalizada como um dos símbolos da revolução de Abril. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP "Eu vou ser como a toupeira". Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum "Venham mais cinco". Após a Revolução dos Cravos continua a cantar, grava o LP "Coro dos tribunais" e participa em numerosos "cantos livres". A sua intervenção política não pára, tornou-se um admirador do período do PREC e em 1976 apoia Otelo Saraiva de Carvalho na sua candidatura à presidência da república.


Os seus últimos espectáculos decorreram no Coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983, quando Zeca Afonso já se encontrava doente. No final desse mesmo ano, é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa. Em 1985 é editado o seu último álbum de originais, "Galinhas do Mato", em que, devido ao avançado estado da doença, José Afonso não consegue cantar na totalidade. Em 1986, já em fase terminal da sua doença, apoia a candidatura de Maria de Lurdes Pintassilgo à presidência da república.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Será certamente recordado como um resistente que conseguiu trazer a palavra de protesto antifascista para a música popular portuguesa e também pelas suas outras músicas, de que são exemplo as suas baladas.




Enquanto Há Força


Enquanto há força
No braço que vinga
Que venham ventos
Virar-nos as quilhas
Seremos muitos
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
Levanta o braço
Faz dele uma barra
Que venha a brisa
Lavar-nos a cara
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas

Cantai também



“não sei se existes
mundo de cantares solidários
mas sei que não me habituei
a esquecer-me de ti”



Fazem hoje 21 anos que Zeca Afonso nos deixou, e é com esta quadra de Constança Lucas que evoco sua a memória. Jamais o esqueceremos. Jamais perderemos de vista a palavra liberdade!

Fontes: Textos de Wikipédia e outras da Net

Fotos da Net

José Gonçalves



26 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido amigo Zé, bela homenagem a um grande Homem, da nossa história recente.
Beijinhos de carinho e amizade.
Fernandinha

Branca disse...

Que emoção José!
Tu não te esqueces de nada!
Estou a trabalhar, ainda às voltas com desafios, mas de repente recebi um mail para visitar uma homenagem a Zeca Afonso, visita também Zé. É de um outro José aqui da Maia, por onde andaste,vê em: http://chuviscos.blogspot.com/
e depois do mail, chego aqui e deparo-me com imagens tão saudosas e um belo texto que virei de novo comentar.
Beijinhos
Beijinhos

Isamar disse...

Parabéns e muitas lágrimas por um amigo inesquecível.

Estive com ele, há 21 anos! Em Setúbal.

A Saudade dói,Zé.

Beijinhossssss

Branca disse...

José,
Já respondi a um dos teus desafios.Isto doeu! Mas valeu a pena! Foi a primeira vez que consegui fazer um poema a partir de palavras já selecionadas.
Ainda faltam outros desafios e prémios, mas agora vou respirar fundo, volto para a semana.
Logo venho falar novamente do Zeca Afonso.
Beijinhos
Branca

Elvira Carvalho disse...

21 amigo vinte e um. Ontem à noite, andei vasculhando a net para o post, mas depois pus-me na conversa com alguém e hoje decidi fazer uma coisa mais simples. Coloquei apenas a sua voz nos dois blogues e uma pequenina homenagem por baixo da música. Mas imende lá os anos faz favor. Foi em 87 e estamos em 2008.
Bom Fim de semana
Um abraço

António Inglês disse...

Fernandinha

Grande homem diz bem.
É bom relembrá-lo sempre,
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Branca

Obrigado pelas palavras e pela dica do site que irei visitar oportunamente.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Olá Sophiamar

Nunca o conheci pessoalmente e verifiquei agora por curiosidade que foi professor em Alcobaça, coisa que nem me passaria pela cabeça.
Um beijinho e bom fim de semana.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Branca

Obrigado pelo esforço. Logo irei lá ver.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Elvira

Que seria de mim sem os amigos? Que seria de mim se a sua preciosa ajuda? Este erro deve-se ao facto de o meu amigo alemão não me ajudar e de eu ter feito contas partindo do principio de que ainda estamos em 2007.
Obrigado Elvira.
Um abraço
José Gonçalves

São disse...

O comentário a este teu post está no meu espaço.
Bom fim de semana, amigo!

aramis disse...

Meu amigo, excelente artigo!
Como é possivel esquecer algum dia o "nosso" Zeca Afonso???
Muitos beijinhos e um bom fim de semana para os meus "3 maravilhas"!

avelaneiraflorida disse...

BRIGADOS POR ESTE POST, AMIGO!!!!!

SERÂO sempre lembradas e CANTADAS as palavras do nosso ZECA!!!!
BJKAS1

Carminda Pinho disse...

Saudades, que vamos matando com as suas baladas, com os seus poemas, com as imagens.
Esta sua homenagem Zé, é uma das mais completas que por aqui vi na blogos, espero que os mais novos por aqui passem e retenham quem foi e o que representa José Afonso.
Nós, os que o conhecemos desde a nossa adolescência cumprimos o nosso dever de cidadania homenagendo-o cada um à sua maneira.

Beijinhos

Branca disse...

Voltei José,
Mais uma vez para ler o teu texto sobre o Zeca Afonso de forma mais cuidada. És um pesquisador nato, nada te escapa.Gostei de conhecer aqui pela tua mão alguns aspectos da biografia de José Afonso que desconhecia, como por exemplo o ter vivido em Belmonte.O resto, aquilo que foi e a forma como interviu na sociedade é algo que ninguém que viveu na sua geração e em todas as outras próximas vai alguma vez esquecer.
Já passei hoje por algumas outras homenagens a este grande homem e todas têm um tom de gratidão e de muito afecto, um tom mesmo emocionado.
Beijinhos

Maria disse...

Amigo José

É uma verdadeira emoção ler o texto que publicaste.
Fico, ficamos sem palavras. Porque não há palavras que consigam exprimir a saudade e a falta que ele nos faz.
Deixo-te, aqui, a Balada que emocionou o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, naquele que foi o seu último espectáculo ao vivo....

Balada do Outono

Águas
E pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Águas
Do rio correndo
Poentes morrendo
P'ràs bandas do mar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar


Beijinhos

Anónimo disse...

Merecida homenagem ao Homem das palavras livres...
O que faz falta é avisar a malta...O que faz falta é acordar a malta...O que faz falta...

Maria Faia disse...

Gostei da evocação amigo.
Muito.

Desejo-lhe uma semana feliz,

Beijo amigo,

Maria Faia

António Inglês disse...

Olá São

Já fui ver o comentário do teu blog.
Muito bem.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Aramis

Eu não esqueço Zeca Afonso porque marcou a minha juventude que foi muito mal tratada pelo estado como decerto te lembras.
Para além de tudo o mais. eu gosto muito das canções do Zeca.
A data, arranjei forma de me ir lembrando destas coisas.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Sempre serão lembrados e cantados até que a voz nos doa.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Carminda

Cada um de nós dedica-lhe um espaço da sua memória de onde vai saindo de vez em quando.
Obrigado pelas suas palavras.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Branca
Sabes que vou descobrindo coisas que jamais me passariam pela cabeça. Para além de Belmonte, também Alcobaça tev o privilégio de o ter tido por cá.
Um abraço e um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Maria

Aqui ficará registada também a tua sentida homenagem de gratidão a esse cantor da Liberdade, e para sempre.
O Zeca merecia todas estas homenagens e muitas mais. A vida foi ingrata e levou-o cedo demais.
Um beijinho e obrigado pelo teu valioso contributo para engrandecer a minha homenagem ao Zeca.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Ludo Rex

Antes de mais um agradecimento pela sua visita.
Zeca Afonso faz parte dos homens e mulheres da minha geração.
Jamais partirá do nosso seio.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Maria Faia

Viva minha amiga. Bem vinda a esta singela homenagem a Zeca Afonso, cantor da Liberdade e que marcou a minha geração.
Um beijinho
José Gonçalves