quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

DIA INTERNACIONAL DE TOLERÂNCIA ZERO FACE À MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA


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Assinalou-se ontem, dia 6 de Fevereiro, o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. Cerca de 140 milhões de mulheres já foram submetidas ao corte ou mutilação genital feminina (MGF). Encontram-se anualmente em risco mais de dois milhões de jovens, o que corresponde a 5:500 mutilações diárias. Com o fenómeno da imigração, a mutilação genital feminina, também conhecida por excisão, já chegou aos Estados Unidos e à Europa.

A maior parte das excisões são praticadas sem quaisquer condições de higiene e têm graves consequências em futuras gravidezes e partos, aumentando o risco da ocorrência de fístulas obstetrícias, para além de afectar o prazer sexual, havendo mesmo especialistas que afirmam que as relações sexuais passam a ser muito dolorosas.



"Em Portugal, existem casos de mulheres que levam as filhas à Guiné Bissau, durante as férias escolares, para que sejam excisadas", explica Carla Martingo, autora de um mestrado sobre MGF. "Julgam que se algo de mal se passa nas suas vidas, pode ter a ver com o facto de a criança não ter sido excisada", diz.

No Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, a APF apresentou um livro que incluiu as conclusões de um estudo realizado junto das comunidades de migrantes de Loures e cuja amostra são 79 médicos e enfermeiros dos centros de saúde da zona. A sessão de lançamento do livro "Por nascer Mulher.., um outro lado dos Direitos Humanos" decorreu na Maternidade Alfredo da Costa pelas 16:00h.
A sessão de abertura contou com a presença do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, do Presidente da Maternidade Alfredo da Costa, Jorge Branco, e da Presidente da Associação para o Planeamento da Família, Manuela Sampaio.

Cerca de 57 por cento dos profissionais que fizeram parte da amostra mostram insegurança em reconhecer uma situação de mutilação genital", revelou a psicóloga e voluntária da APF, Yasmina Gonçalves.




Segundo o mesmo estudo, 92 por cento dos inquiridos admitiram ter conhecimento do tema, um número semelhante ao obtido no primeiro estudo da APF, realizado no concelho da Amadora. Contudo, apenas 11 por cento tinham formação mais especializada na área.

Profissionais de diferentes sectores, como a saúde, justiça, ou sociologia participam no livro. "O envolvimento da comunidade é muito importante. Além disso, vamos contar com a participação da associação guineense Uallado Folai e a intervenção de uma mulher que vai falar sobre o seu caso", adiantou.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu Portugal na lista dos países de risco com MGF, pela existência de migrantes de várias nações onde é praticada. Além dos 28 países africanos, asiáticos e árabes onde a prática está documentada, a OMS acrescenta que também na Europa e América e existem casos de corte ou MGF.

ACIDI - Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P.



É preciso dizer "não" à excisão. A ablação do clítoris é uma prática que não pode ser justificada por qualquer razão cultural ou tradicional. A Comissão Europeia condenou assim, a prática da excisão, por ocasião do Dia Internacional de Tolerância Zero face à Mutilação Genital Feminina, que se comemorou esta quarta-feira. A data foi decretada pela ONU, em 2003.

A maior parte das excisões é praticada sem quaisquer cuidados médicos. Além de serem a negação do prazer do feminino, estas práticas têm consequências graves em caso de gravidez e parto.

A ablação do clítoris é praticada em 28 países africanos, alguns asiáticos e em certas comunidades africanas que vivem na Europa e nos Estados Unidos. Catorze países africanos já adoptaram leis que penalizam a excisão. Mas, na maior parte dos casos, as leis ficaram no papel. A ONU estima que 130 milhões de mulheres tenham sido excisadas.
Euronews



Livros que falam da mutilação genital feminina

"Flor do Deserto", de Waris Dirie

O livro mais conhecido sobre o tema foi escrito pela modelo somali Waris Dirie, a primeira figura pública a admitir ter sido excisada e a avançar no combate à prática.
Waris Dirie tinha apenas cinco anos quando foi mutilada no deserto da Somália.
No dia 5 de Julho de 2007, a modelo anunciou o abandono das "passerelles" para se dedicar exclusivamente ao combate contra a MGF, como embaixadora das Nações Unidas. A modelo criou a Desert Dawn Foundation (www.desertdawn.org) para fazer campanha contra a prática e recolher fundos para a construção de um centro médico na Somália.

"É difícil saber o que me teria acontecido se não tivesse sido mutilada. Faz parte de mim, não conheço outra realidade", declarou à Reuters. Também Dirie confirma ter querido realizar o ritual. "Não sabia o que ia acontecer, mas estava contente porque me ia tornar mulher".
Aos 13 anos, Dirie andou quase 500 quilómetros a pé pelo deserto, em direcção a Mogadíscio, a capital somali, para fugir ao casamento com um homem mais velho. Acabou por voar para Londres, onde trabalhou como empregada de limpeza num McDonald’s, onde foi descoberta pelo fotógrafo Terence Donovan e catapultada para o mundo da moda
Retirado da net: Diálogos Lusófonos

Fotos e textos tirados da net
José Gonçalves

10 comentários:

Isamar disse...

"É preciso dizer "não" à excisão. A ablação do clítoris é uma prática que não pode ser justificada por qualquer razão cultural ou tradicional."

Infelizmente a injustiça, a desigualdade de direitos, a crueldade continuam a grassar nos dias de hoje. Uma situação que tem tanto de incompreensível, quanto de injusta como de intolerante. Não se aceita,não se pode aceitar, apesar de se dizer cultural, que a MGF continue a fazer-se nos dias de hoje. Desconhecia que algumas mães saíssem do país para fazer uma crueldade destas mas tinha conhecimento que muitas mulheres emigravam para que esta crueldade não afectasse as suas filhas. É a saúde que está em causa mas o prazer sexual por parte da mulher não pode ser considerado um crime, um pecado, um devaneio.O sexo, para a mulher, não pode, não deve ser apenas procriação. Injustiças de que o mundo padece, desigualdades baseadas em costumes que têm tanto de ancestral como de desumano.
Mereces mais um abençoado bem hajas por trazeres para o teu blog temas tão interessantes quanto este e que não são, felizmente, tabu nos dias de hoje.

Beijinhosssss mil

Elvira Carvalho disse...

Um assunto por demais actual. A mutilação genital feminina, é revoltante e aviltante da condição da mulher. E perigosa, já que põe em risco não só a vida futura da mulher, mas a sua própria vida no imediato.
Parabéns pelo artigo. Muito bom.
Um abraço

Isamar disse...

"A ablação do clítoris é praticada em 28 países africanos, alguns asiáticos e em certas comunidades africanas que vivem na Europa e nos Estados Unidos. Catorze países africanos já adoptaram leis que penalizam a excisão. Mas, na maior parte dos casos, as leis ficaram no papel. A ONU estima que 130 milhões de mulheres tenham sido excisadas."

Voltei a reler o teu post e comovi-me de novo.130 milhões de mulheres desrespeitadas nos seus mais elementares direitos, sacrificadas, mutiladas. Não fazia ideia que fossem assim tantos os países onde esta prática ainda fosse levada a efeito.Verifico que ,por incrível que pareça, continua implantada, em maior ou menor escala, em todo o mundo o que me deixada muito revoltada pelo que de aviltante, abusivo tem contra os direitos da mulher.Usos e costumes, tradições, crenças que já não têm justificação para a maior parte dos países mas que alguns,irracionalmente, continuam
a querer preservar. Não há justificação para que tal se mantenha.
Quanto à passagem pelo meu blog, não te preocupes, Zé. Sei que não tens tempo e verifico que não passas por outros blogues. Não é apenas pelo meu que o não fazes. É por todos e nisso demonstras, mais uma vez, o teu sentido de justiça e humanidade. Fico muito satisfeita com as postagens, pela oportunidade que têm, pela informação que contêm, pelo serviço que nos prestas.
Deixo-te mil beijinhos envolvidos num abraço de grande amizade.
Bom trabalho!

aramis disse...

Excelente este teu artigo meu amigo!
Muitos Parabens pela qualidade a que já nos vais habituando...
Beijinhos e um grande xi coração,

Branca disse...

José,
Mesmo não tendo muito tempo, ao vir aqui não pude deixar de comentar este post. Informação muito importante que nos trazes, pois tal como outros aqui afirmam não fazia ideia que fosse tão elevado o número de mulheres mutiladas e muito menos que a prática se espalhasse pela Europa,incluindo Portugal, habituados que estamos a ouvir falar dela mais entre as mulheres somalis e de outras zonas de África.Uma das minhas prendas de aniversário este último ano, em Dezembro, oferecida por uma colega de trabalho, está aqui mesmo à minha frente e é um livro que conta na primeira pessoa a história de uma dessas raparigas que fugiu da Somália para a Europa, chama-se "Lágrimas na Areia" de Nura Abdi. Há pouco tempo enviaram-me por mail um vídeo de uma mutilação que não consegui ver até ao fim, bastou-me ver a cara de sofrimento da jovem agarrada por várias pessoas para já não conseguir ver o resto.Horroroso as condições em que é feito e todo o sofrimneto que causa pela vida fora.A intenção do vídeo penso que é mesmno chocar para combater, porque me foi enviado por pessoa de extraordinária sensibilidade e boas intenções, porque de outra forma nem entenderia a crueldade das imagens.
Obrigada por mais este extraordinário texto, é também ele uma forma de combater esta crueldade.
Beijinhos.

António Inglês disse...

Sophiamar

Nem sei que te responda pois todo este costume me é difícil de aceitar.
Creio que diversas culturas se aproveitaram de desigualdades que não o eram, nomeadamente entre homens e mulheres.
Penso que este acto atinge as raias do sadismo e da indignação, e não consigo entender como o mundo continua a aceitar tal coisa.
Os homens que "isto" impõem são cobardes e hipócritas e nada existe que justifique este sacrifício humano.
O castigo que lhes dava era cortar-lhes também metade dos órgãos, assim ficavam em igualdade de circunstância.
Um beijinho José Gonçalves

António Inglês disse...

Elvira

Para mim é a indignação total minha cara amiga.
Ainda existem hábitos que não lembram ao diabo.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sophiamar

Faço minhas as tuas palavras e ainda acrescento que fiquei deveras admirado pois em Portugal existem mulheres que levam as filhas ao seu país para que lhes seja feita tamanha crueldade.
Se a isso fossem obrigadas eu até perceberia, agora irem de livre e espontânea vontade meu Deus, é preciso ter um grande temor das consequências seguramente.
Terrível nos dias de hoje.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Aramis

Faço apenas aquilo de que me lembro minha querida amiga, nada mais que isso.
Depois, tenho andado muito em cima dos acontecimentos e aproveito aqueles que me parecem mais oportunos.
Obrigado pelas tuas palavras.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Branca

Por mais que te queira dizer não encontro palavras para a revolta que sinto em mim.
Este costume é cobarde, aviltante, horrível, vergonhoso....
Quando será que o mundo entra em paz?
Quando será que o homem deixará de pensar que é mais que a mulher? Quando será que deixará de a usar de forma aberrante?
Sinto vergonha desta humanidade, acreditas?
Um grande beijinho
José Gonçalves