quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

AFIFE, A SARRAÇÃO DA VELHA E OS TRIQUELITRAQUES OU ZICLITRAQUES

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AFIFE

É possível que o topónimo Afife se trate de um genitivo antroponímico árabe, Afif, que inicialmente era utilizado como adjectivo para designar algo ou alguém virtuoso; mais tarde porém, aparecia num documento de 1108, com a designação Afifi, sugerindo a existência de uma Villa Afifi, que adquiriu o nome do seu senhor. Ao longo dos séculos, o topónimo foi apresentando diferentes grafias: Fifi, Affifi, Afifi até culminar em Afife.





Há ainda uma outra versão considerada popular. Segundo o arqueólogo José Bouça, a origem do topónimo é romana, de Aff-hifas, significando sopa de cabelos. Esta definição remonta à época em que a legião de Júlio César invadiu as terras lusas, massacrando as populações e violentando donzelas e damas lusitanas. Estas, para fugir a tal horror, torturaram-se a elas próprias, desfigurando os rostos e cortando os cabelos, cujas madeixas esconderam na corrente de uma fonte, para que não fossem manchadas pelos lábios impuros do inimigo; os soldados, para matar a sede, dirigiram-se à fonte e refrescaram os seus lábios com os cabelos molhados das donzelas, resultando daí a expressão: sopa de cabelos.





Há ainda a considerar, que se pode encontrar a localidade de Afif, que se situa entre Meca e Medina na Arábia Saudita e outra no Gana, com o nome de Afife.




A SARRAÇÃO DA VELHA

A Serração da Velha” é um antigo costume carnavalesco da região Sul do Ocidente Europeu. Este ritual tem proporções verbais que significa o enterro do Inverno e início da Primavera.

É uma tradição popular que ocorre na quarta-feira da terceira semana da Quaresma, marcando um interregno lúdico neste período do calendário religioso. Em Viana, encontra-mo-la em Afife, Carreço, Ponte de Lima e Darque, entre outras, com algumas pequenas diferenças no seu ritual.



Em Afife, podemos assistir a este cortejo. É transportado um boneco (Velha) confeccionado com papel de seda de várias cores, iluminado com velas de estearina e colocam-no sobre uma padiola. Associado a esta festa e usado exclusivamente nela, há um instrumento musical, o triquelitraque, que produz um som característico, parecido com uma gargalhada, que muito contribui para o ambiente geral de sátira. Além do triquelitraque, apenas durante o cortejo, são usados outros instrumentos, conforme a freguesia: é o caso da rela e do corno.



A “Sarração” como é conhecida em Afife, transforma-se num momento de encontro da comunidade, uma vez que é fomentada a participação de todos, inclusivamente da própria velha (uma pessoa idosa da freguesia, conhecida por todos) representada num boneco que, no dia da sua queima, percorre as ruas da freguesia, para ser queimada numa cerimónia em que é lido o seu testamento, um documento satírico, carregado de alusões à vida das pessoas da freguesia e aos acontecimentos mais importantes do ano.



Ao longo da “sarração”, o som do triquelitraque é um dos elementos mais característicos, que acompanha os diferentes passos: no ínicio, na quarta feira de cinzas, anuncia que se está a preparar a cerimónia, depois, no dia da “sarração”, acompanha o cortejo e a leitura do testamento.

A cada um destes momentos corresponde um toque específico: a marcha ( dois batimentos médios – três rápidos – dois médios) é tocada nos cortejos de peditório e no dia da “sarração”; o esgalha ( três batimentos rápidos – pausa pequena – três rápidos) no peditório, como agradecimento e a sarra ( três batimentos médios – pausa pequena – três batimentos médios), tocado no auge da festa, durante a leitura do testamento e na queima da “velha”




TESTAMENTO DA VELHA


Agora que vou morrer

E que me vão queimar

Não posso deixar de vos ler

O que eu vos vou deixar

Para o Alto Minho

A velha decidiu dar

Um museu etnomusicológico

Para as tradições preservar

Estou em juízo perfeito

E no uso das faculdades

E sem coacção nenhuma

Digo as minhas vontades

E para que este trabalho

Não seja cedo esquecido

Este disco vou deixar

Para sempre ser vivido



TRIQUELITRAQUES OU ZACLITRACS


Os zaclitracs, também conhecidos por triquelitraques, são idiofones usados na Quaresma, no Carnaval, Serrações da Velha... São matracas de martelo que constam de uma tábua (+- 40 cm de comprimento) na qual estão aplicados pequenos martelos de madeira, cujo cabo gira num eixo passado entre dois suportes fixos à tábua. Em Afife e Montedor, os zaclitracs têm várias séries de martelos, dispostos quatro a quatro ou cinco a cinco em duas e às vezes três linhas, e com a ponta do cabo enfiado num eixo de arame. Os zaclitracs seguram-se com uma mão no alto e outra em baixo e sacodem-se fortemente e em cadência certa, de modo que os martelos batam na tábua todos ao mesmo tempo e num ritmo variado e regular, o que é por vezes um pouco difícil de realizar com perfeição. Tocam-se em conjunto, por muitos rapazes, ao mesmo tempo (de Oliveira, 2000:311-312).




Desconhece-se a data de criação deste instrumento utilizado na altura do ano que antecede a tradicional "Serração da Velha", sabendo-se todavia que terá pelo menos 200 anos. Se outrora estes instrumentos existiam em qualquer habitação da freguesia, hoje poucos são aqueles que os conservam; alguns foram vendidos a turistas que em grande número visitam a freguesia durante o Verão. O triquelitraque constitui-se por uma tábua e várias fileiras - uma, duas três e até quatro - de martelinhos, sendo que o som do instrumento varia com a espessura da tábua e a quantidade de martelinhos.

Fontes: Texto e fotos do site da Freguesia de Afife, Comunidade Escolar e Net

José Gonçalves

6 comentários:

amigona avó e a neta princesa disse...

Meu querido agora não tenho tempo de ler...voltarei mais tarde...fica o abraço...

Elvira Carvalho disse...

O relato de mais um curioso costume deste nosso Portugal, tão rico de tradições.
Um abraço amigo

Isamar disse...

Parabéns! Parabéns! Parabéns! Isto é serviço público da melhor qualidade.Li com muito gosto embora já conhecesse mas recordei muito do que tinha caído no esquecimento. Estás a conceder-nos um bem e, como tal, és indispensável na blogosfera. Por isso , pela dimensão do ser humano que está dentro de ti, pela amizade que já cultivaste. E tão bom, Zé, chegar aqui e ler estas tradições deste cantinho à beira-mar plantado!
Mil beijinhosssssss

Obrigada!

António Inglês disse...

amigona avó

Um abraço também para ti e não te preocupes, vens quando puderes.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Um costume da minha terra Minhota...
Quem dera lá pudesse estar...
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sophiamar

Um dia tinhas-me falado que gostarias de ver postado algo sobre os Triquelitraque, lembras-te?
Pois aqui está e foi bom recordar...
Um beijinho
José Gonçalves