domingo, 11 de novembro de 2007

SÃO MARTINHO DO PORTO


FESTAS EM HONRA DE SÃO MARTINHO DO PORTO

Estão a decorrer em São Martinho do Porto, as Festas em honra do Santo que deu nome à terra. São três dias de pequenos festejos que a vida não está para muita animação.

Mesmo assim, por entre bailes, castanhas, água-pé, fados, missa e procissão, a população lá vai respondendo conforme pode.

Ontem foi dia de bailareco, bem à moda da aldeia, com uma razoável participação dançarina, e pela noite dentro uma sessão de fados para animar a malta.

Correu bem a tarde e noite de ontem, com o Presidente da Junta a participar nas cantorias, alegrando o povo, que é disto que ele gosta, ele e o povo. Por alguma razão já vai no terceiro ou quarto mandato, nem me lembro, o que para o caso pouco importa.

Estes festejos, aos quais me sinto particularmente ligado, perderam o seu cariz inicial e aparecem aos nossos olhos como uns festejos menores, pobres e sem grande projecção. São mais uns para cumprir calendário e tradição, que nem é muita. Louve-se a iniciativa da Junta de Freguesia e do novo pároco da Vila, que fez questão de ver e sentir ao vivo e a cores, o pulsar do seu rebanho.

A propósito de pároco, tive ontem a oportunidade de o conhecer pessoalmente, pois confesso ainda não pus os pés na Igreja desde a sua chegada. Jovem e participativo, pareceu-me boa pessoa e empenhado na unificação do povo. Bons indícios, particularmente porque a sua atitude de se manter até ao fim da sessão de fados me deixou positivamente agradado. Promete este Padre Joaquim Gonçalves.

Mas, se como disse os festejos são pobres, ontem ficaram enriquecidos porque se prestou homenagem, de forma expontanea, a um casal de naturais de São Martinho do Porto, mais propriamente do Bom Jesus, Serra dos Mangues, um dos Lugares da Freguesia, onde sempre viveram.

O Ti Laré e a Tia Agostinha, como são conhecidos, são figuras incontronaveis e de uma simpatia marcante. No meu caso particular, grandes e queridos amigos e vizinhos pois tive uma casa quase encostadinha à deles naquela Serra, e ainda hoje guardo gratas recordações de muitas tardes bem passadas, ouvindo histórias desta terra, das suas gentes, dos seus usos e costumes e do seu folclore, que os dois fizeram parte do que eles chamam Rancho Folclórico, mas que eu considero mais “marcha popular” dado o trajar que usavam ser todo igual. Este facto nem sequer é relevante, porque o que é verdade é que o povo se juntava e cantava e dançava, mesmo vivendo com dificuldades.

Quantas e quantas tardes o Ti Laré me trauteou dezenas de “modas” do seu tempo de menino e moço, à mistura com um ou outro fadito. De vez em quando a Tia Agostinha lá o emendava, e ele concordando umas vezes outras nem tanto, lá emendava e voltava a cantar do mesmo jeito.

Quero-vos dizer, que o Ti Laré tem 93 anos de idade, e a Tia Agostinha 89.

Pese embora alguns problemas de saúde, que o acumular dos anos vem trazendo, à mistura com um acidente que pôs o Ti Laré meio cá meio lá, pois foi atropelado, e do qual recuperou, lá vão os dois fazendo companhia um ao outro, tendo agora também a viver consigo o José da Costa, seu único e orgulhoso filho. Na casa ao lado da que moram, netos e bisnetos vão sendo testemunhas de um exemplo de vida que irá perdurar para lá da existência destes dois seres maravilhosos da nossa comunidade.

Pois é meus amigos,dizia-vos há pouco que as festas de ontem ficaram enriquecidas com a homenagem que todos de pé prestámos a este casal, e agora digo-vos qual o motivo que nos levou a cantar os parabéns aos dois. É que ontem faziam 68 anos de casados, 68 anos de casados repito, uma vida cheia de força e de coragem.

Foi bonito de ver e de sentir. O abraço sentido que o filho José Costa me deu, com a lágrima ao canto do olho, embrulhou-me de novo as palavras em soluços, sinal de que os meus anitos também já vão fazendo mossa.

Deixo nestas colunas os meus PARABÉNS aos noivos, aqueles eternos noivos que ainda hoje com a idade que têm, pela manhã se entretêm a tratar das suas terras de enxada na mão, cavando-a ou tratando do milho. A terra que os há-de receber só terá de os tratar bem, pois ao longo destes anos o Ti Laré e a Tia Agostinha não fizeram outra coisa senão tratar bem dela e de todos os que os rodearam.

Bem hajam meus amigos, pelo exemplo de vida, verticalidade e humildade, que nos têm transmitido nestes anos todos e que Deus nos dê a graça de podermos ir contando convosco entre nós, que essa graça é vossa também, mas somos nós que temos esse privilégio.

Um grande abraço deste vosso amigo.

José Gonçalves

24 comentários:

Isamar disse...

E porque o post é lindíssimo,pleno de ternura, gratidão e amizade, passarei à tardinha, quando regressar a casa , para te deixar mais palavras.Por agora, deixo beijinhos a estes amigos, desejo-te um bom domingo de S. Martinho, com bailarico, castanhas e água-pé, deixo-te um abraço apertado e beijinhos.

António Inglês disse...

Bom dia minha amiga

Vejo que estás atenta e ainda bem.
Estou hoje muito feliz por ter tido a possibilidade de estar com estes meus amigos.
São de uma ternura que não encontro palavras que os descrevam.
Hoje, o meu domingo vai ser de outro cariz...
Missa e procissão a que não poderei de deixar de ir, pois claro.
Sei que iria mesmo sem ser obrigação, mas assim nem me sinto muito bem.
Um abraço bem apertadinho também e passa um bom domingo com em família e nesse Algarve de fazer inveja.
José Gonçalves

Izelda Maia disse...

Olá querido amigo!

Estive fora da internet por alguns muitos dias. Por motivos alheios a minha vontade fiquei sem poder acessar o blog. Mas nada grave, cá estou de volta e com muitas saudades...

Caro José Gonçalves, parabéns pelo blog e pelo post, estes festejos são sempre muito bonitos e rico em cultura regional, deve ser mesmo festas muito lindas.

Um grande abraço, um domingo iluminado para você e sua família.

Amigo, não se assuste nem se preocupe se eu ficar algum tempo sem aparecer, pois no momento estou com muito trabalho, com isso o tempo para o blog fica muito reduzido. Mas sempre que der apareço...

António Inglês disse...

Olá Izelda

O que é preciso é que a sua ausência não se tenha ficado a dever a problemas de saúde, seus e de sua família.
O resto vamos resolvendo. Vá aparecendo quando lhe apetecer ou puder.
De vez em quando tenho ido ao seu canto, e irei continuar se assim não se importar.
Desejo-lhe um bom domingo
e tudo de bom para si.
Cá deste lado do Atlântico, mando-lhe um "xi-coração" apertadinho de muita amizade.
José Gonçalves

Anónimo disse...

Meu querido Amigo,
Pois tambem partilho contigo o sentimento de gratidão e de Parabens ao nosso Tio Laré e À Tia Agostinha! Foi mesmo oportuno...

Quanto às Festas que aqui estão a decorrer, não posso esconder que tambem tenho muita pena que não se tivesse dado continuidade àquelas que reáctivámos juntos.Boas lembranças ficaram...

Tenho tentado estar presente e pensar positivo, ou seja, mesmo com este tipo de "festejos" pelo menos, que a data não passe em branco nunca...
Gostei do serão de ontem à noite, pelo menos vi uma certa alegria a brilhar nalguns olhos...
Do meu agrado também a presença extremamente positiva do novo pároco. Espero que o Sr.Pe. Joaquim não perca a coragem e leve para a frente todos os seus projectos...
Sinto-o muito perto das pessoas, o que é extremamente importante, o chamado ser uma pessoa simples, humilde e de fácil convivencia.

Gostei bastante da Missa de hoje, achei que foi muito participativa, particularmente a parte das oferendas. Foi diferente! Os simbolos fazem e farão parte da nossa vida e são importantes...

Muitos beijinhos e continuação de um dom domingo de S.Martinho para o "trio" unido!

Geo Schumacher disse...

Que lindo casal!! História bonita de conhecer, exemplo de se admirar...difícil mensurar 68 anos de casado vista a "modernidade" que se apresenta, e que na verdade as vezes é míope para o amor.
Adorei passar aqui novamente, sobre o caso do pai coxo, só tenho a concordar com o comentário...bem se vê, em preto e branco, a justiça cega sendo apresentada ao povo, na verdade queria dizer a juíza cega..rsrsrsrs...ou coxa?
Obrigada pelo carinho e um bom fim de domingo!!
Beijo
Geo

António Inglês disse...

Aramis

Olá mina querida amiga.
Tal como tu, fico satisfeito que pelo menos a data seja relembrada.
No entanto não me resigno assim tanto pois se não se fazem outras festas é porque não se quer. É testemunha de que várias vezes tenho chamado a atenção do executivo de que estas festas tiveram finalidades e objectivos, obedecendo a um determinado padrão de programa que nem sequer hoje é minimamente respeitado.
Bailarecos e mais bailarecos é o que se faz, o que lamento. Eles também fazem falta à população, mas falta o resto.
Enfim, cada povo tem o que merece.
Também gostei muita da missa, trouxe novidade e o Padre Joaquim parece-me ser um homem conciliador o que só fará bem à paróquia e à igreja que precisava de vir até ao povo, o que me parece o Padre já começou a fazer.
Era para ter ido à procissão, mas quando chegámos a casa deparei-me com o meu Pedro cheio de febre.
Uma constipaçãozita.
Um beijinho
José Gonçalves

amigona avó e a neta princesa disse...

Que bonito Zé! Que bom haver amor, amizade, família orgulhosa! Que bom! Fico tão feliz...amanhã perceberás melhor quando der conta de algumas histórias de vida...parabéns a todos! Aos dois, ao amor que os une, à família, aos amigos! Beijos...

avelaneiraflorida disse...

Amigo José Gonçalves,

Que bem se sente aqui a AMIZADE!!!!
"BRIGADOS" por este testemunho...

UM resto de bom "S. MARTINHO" e as melhoras do menino!!!!!!

Bjks

Vieira Calado disse...

Olá, amigo.
Estou a adicionar o seu blog,
aos meus links.
Obrigado pela gentil antecipação.
Um abraço.

Isamar disse...

E o prometido é devido. Cá estou eu a reler, agora com tempo, esta longa história de amor e a descrição dos festejos de S. Martinho. Deveriam ser de festa rija e organizados de maneira a respeitar a tradição e a agradar à generalidade da população. Pelo que sinto não estás contente. Agradavam-te outro tipo de comemorações, um programa mais adequado ao espírito do dia. Não desistas porque, como dizia o Zeca, o povo é quem mais ordena. Quanto ao ti Laré e à tia Agostinha fiquei emocionada. Que linda história de amor num contexto familiar muito amigo, muito terno e cuja coesão se deve a este casal exemplar. Ainda trabalham a terra que lhes dá o pão, a saúde, o amor...
Bem hajas, Zé por ter trazido ao nosso conhecimento um caso que, nos dias de hoje, prima pela invulgaridade.

Beijinhossss

Maria disse...

Que bonita e comovente homenagem...

Um abraço

António Inglês disse...

Geo

Este casal tem mais anos de casados que eu tenho de vida.
Além de tudo mais, são dois grandes amigos que guardo bem no fundo do coração.
Toda a família dos dois, fazem o favor de ser nossos amigos.
Têm dois bisnetos que conheço desde
pequeninos e com quem me dou lindamente.
São lições de vida, pois como dizes, nos tempos que correm a maioria dos casamentos nem chegam a 68 semanas, quanto mais 68 anos.
Uma boa semana para ti amiga.
José Gonçalves

António Inglês disse...

amigona avó e a neta princesa

Fico à espera dessas histórias que tens para nos contar.
São elas que nos fazem crescer.
Um abraço e uma boa semana.
José Gonçalves

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Obrigado pelas melhoras que bem precisa pois as indicações do médico que acabamos de consultar no Hospital das Caldas apontam para um principio de pneumonia.
Vamos ver como as coisas irão correr.
Ele é forte e isso é uma ajuda.
Uma boa semana e um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Vieira Calado

Obrigado amigo.
Se mo permitir continuarei a visitá-lo e a esperar a sua visita quando assim o entender.
Boa semana.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Sophiamar

As festas de São Martinho, foram por mim e por mais uns quantos amigos, entre eles a nossa amiga aramis, reatadas há oito/nove anos, e pretendia em primeiro lugar, recompensar os comerciantes da parte velha e nobre da Vila pois queixavam-se que só se faziam festas na marginal, na parte baixa da localidade. Em segundo lugar, pretendemos recrear uma festa bem à moda dos anos 50/60. A iluminação era fraquinha, como era hábito na altura e os altifalantes eram aquelas cornetas antigas que se usavam. Combinámos nomear um juiz da festa, para o que pedimos a um artista plástico da região que nos fizesse uma pequena estatueta para servir de testemunho e ficaria nas mãos do juiz da festa eleito. Também mandámos fazer uma capa pra o mesmo juiz.
Depois combinámos que os festejos teriam sempre, tasquinhas, artesanato, frutos secos e animação claro.
No que diz respeito à animação, ficou decidido que esta festa, de cariz muito especial, teria no seu programa, sempre animação diferente de dia para dia.
Muito embora tivessem havido bailes, creio que um ou dois, a abrir e a encerrar as festas, achámos por bem incluir, fados de Coimbra, teatro, folclore, Tunas Académicas, Orquestras e muita outra animação que já nem me lembro.
Introduzimos no inicio das festas uma reposição histórica sobre a outorga do foral a São Martinho, que era recreada pelo grupo de teatro da Casa da Cultura.
Com o andar dos tempos,e depois de um determinado juiz ter sido nomeado, as festas foram interrompidas durante um ano, tendo sido retomadas mas com um programa que nada tem a ver com a origem destes festejos.
É pena. Os homens deixam-se cegar por interesses que a razão desconhece. Mas é o que dizia anteriormente, cada povo tem as festas que merece.
Quanto a este casal amigo e vizinho, tenho por eles uma profunda e terna amizade há muitos anos.
Já não existem exemplos destes.
Uma boa semana para ti
José Gonçalves

12:45 AM
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Elvira Carvalho disse...

Muito bonito este seu post, bem como o casal de "noivos" seus amigos. Só por curiosidade sabe que meus pais fizeram no dia 9 62 anos de casados?
Gostei de ver a sua alegria e a felicidade com que falava destes seus amigos. E de tudo em geral. Aposto que foi dar um pezinho de dança com a sua esposa no bailarico da festa.Eheheh
Um abraço e uma boa semana.

Izelda Maia disse...

Caríssimo amigo, obrigada pelo carinho e amizade.
Saiba que sua presença ao meu cantinho é coisa que não dispenso, portanto quero vê-lo sempre por lá.

Um grande e afetuoso abraço e uma feliz semana junto aos seus.

António Inglês disse...

Olá Elvira

Por acaso não dei o tal pezinho de dança com a minha mulher porque ela não estava para aí virada. Ainda a convidei mas deu-me "tampa".
Mas vinguei-me nas castanhas e na água-pé.
Quanto a este casal meu amigo, tenho por eles um carinho muito especial.
Os seus pais, estão no bom caminho também. Dê-lhes um grande beijinho por mim.
Desejo-lhe uma boa semana
José Gonçalves

António Inglês disse...

Izelda

Obrigado pelas suas palavras, e asseguro-lhe que a continuarei a visitar pois claro.
Essa é a forma de dar um pulinho de vez em quando ao outro lado do Atlântico de forma rápida e sem custos.
Uma boa semana para si e um grande abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Maria

Foi realmente uma homenagem bonita, pois foi expontânea e feita com muito amor e carinho por todos nós.
Uma boa semana
José Gonçalves

Branca disse...

Mais uma bela reportagem dos usos e costumes do nosso belo país.Mas, mais que os usos e costumes a imagem deste casal com 93 e 89 anos de idade e 68 de casados e ainda a cavarem a sua terrinha é algo que enternece qualquer um.Parabéns para eles e para quem pode beber da sua sabedoria de vida.
Uma boa semana e um grande abraço para o meu amigo.
Quando puder vá ao meu blog e explique-me por favor o que lá lhe pergunto sobre as bolas de Berlim a que se referiu no seu comentário.O meu amigo é um poço de conhecimentos sobre todas as regiões, desde os costumes à gastronomia e gostaria de ficar mais elucidada.Obrigada.
Um grande abraço.

António Inglês disse...

Olá Brancamar

Pois é, este fim de semana, São Martinho do Porto esteve em festa e nela foi aproveitada a oportunidade para homenagear este lindíssimo casal "jovem" com 68 anos de casados, mais do que eu tenho de vida.
Não sou esse poço de conhecimentos com que me apelidou, mas o facto é que durante anos, fui obrigado por razões profissionais a percorrer o país todo, e quando digo todo, foi mesmo quase todo, daí ter ficado a conhecer muitos dos usos e costumes do nosso povo, dos quais sou um defensor.
O povo que não sabe reconhecer os usos e costumes dos seus antepassados não me parece que se dignifique.
Por serem regiões às quais estou mais ligado por laços familiares, o Alto Minho e agora o Oeste são as que mais me têm surpreendido. Por alguma razão cheguei aos 140 quilos.
Com força de vontade e com um bom médico recuperei felizmente.
Quanto às Bolas de Berlim, referia-me às de Vila Praia de Âncora, mas já fui ao seu espaço esclarecê-la.
Um abraço
José Gonçalves