quinta-feira, 19 de julho de 2007

Os Elevadores de Lisboa



Os Elevadores de Lisboa

Tendo vivido quarenta e cinco anos inteirinhos em Lisboa, não podia perder a oportunidade de, através deste meu cantinho, deixar um pouco do muito que vivi desde a minha infância na capital.
Monumentos, bairros, miradouros, meios de transporte. Usos, costumes e tradições de uma cidade que marca a vida da grande maioria de todos nós, merecem ser lembrados, de forma simples e saudosa.
Claro que tive de me socorrer de muita documentação sobre os elevadores, mas se pensam que foi fastidioso, enganam-se. Recordei, aprendi e dei asas à imaginação que andava um pouco arrumada na gaveta.
Não pretendo uma descrição minuciosa, mas ficam mesmo assim alguns dados interessantes que encontrei e que ajudarão quem tenha a ousadia e a paciência de passar os olhos por este meu sítio.
Tenho a certeza que no fim de lerem e verem as fotos que aqui deixo, muitos ficarão por momentos agarrados à memória e à saudade, fazendo mesmo promessas a si próprios que em breve lá voltarão. Outros, os que nunca os viram ou utilizaram, espero neles ter despertado a curiosidade de uma visita um dia destes.
A mim deixou-me a certeza de que em breve lá voltarei para rever estas passagens de toda uma vida. Como diz a canção, recordar é viver.
A Lisboa, onde os mais belos sonhos da minha vida ficaram gravados e onde passei a adolescência e me fiz homem, presto esta homenagem singela, relembrando quatro elevadores que honram a capital e da sua história fazem parte. São eles o Elevador da Glória, O Elevador do Lavra, O Elevador da Bica e O Elevador de Santa Justa. Espero que gostem.

Elevador da Glória

Abriu a 24 de Outubro de 1885 e, desde essa altura, dois elevadores têm feito o percurso nos sentidos ascendente e descendente, transportando turistas e residentes numa viagem que, apesar de não ser rica em paisagem, continua a ser única e muito agradável!
Este elevador é o mais movimentado de Lisboa e também o mais acessível aos turistas, uma vez que fica mesmo ao lado do principal posto de informação do turismo no Palácio da Foz. Funciona todos os dias entre as 07.00 e as 00.55.
O elevador da Glória é um dos poucos elevadores que restam em Lisboa e situa-se na baixa, mais precisamente na Praça dos Restauradores. Faz a ligação entre esta praça e o Bairro Alto numa viagem de 265 metros para cima e para baixo.
Quando sair do elevador, encontra no lado direito o miradouro de S. Pedro de Alcântara, de onde tem vistas excelentes sobre o centro de Lisboa e o mágico Castelo de São Jorge. Mesmo do outro lado da rua, ligeiramente para a direita, na Rua de S. Pedro de Alcântara, nos.39-49, fica o Instituto do Vinho do Porto, onde pode provar e comprar uma grande variedade de vinhos do Porto.

Elevador do Lavra

Dos Restauradores ao Campo de Santana, a este elevador deu-lhe o nome o palácio que, ao tempo da inauguração, ali havia de fronte. A 19 de Abril de 1884, dia da abertura ao público, este ascensor trabalhou 16 horas seguidas e transportou gratuitamente mais de 3 milhares de passageiros. Tanta actividade tendo apenas como combustível a água.
Os bancos corridos de madeira são mobiliário de época e levam 42 pessoas à vontade, só que o tempo das enchentes já lá vai e o turista parece inclinar-se mais para os elevadores da Glória e Santa Justa. Ainda assim eles lá se fazem constar e estes sim, conhecem melhor as nossas relíquias do que nós próprios. Os estudantes de Medicina também se fazem constar e têm como destino o Campo de Santana. Aproveitam o tempo para rever a pouca matéria já dada.
Os 188 metros de comprimento de linha com a maior inclinação de todas (23%) que a serem percorridos pelos nossos próprios pés, podem dar como consequência uma grande estafa e uma “bolhita” ou outra nos pés. Da janela do ascensor dá para ver as cicatrizes da passagem de tantos por esta calçada.
Para ver Lisboa, ainda se tem de andar uns bons metros até ao Jardim do Torel que é também miradouro para a Avenida da Liberdade e Baixa Pombalina. A vista pode ainda descansar no Jardim Botânico. O Tejo avista-se com clareza e ainda um outro miradouro que corresponderá à nossa própria direcção, São Pedro de Alcântara, bem perto do elevador da Glória.

Elevador da Bica

Imortalizado em anúncios, filmado por Wim Wenders, procurado por turistas, ex-líbris de Lisboa, monumento nacional por decreto aprovado em Conselho de Ministros a Novembro de 2001, o elevador da Bica tem 120 anos. Construído pela Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa para ligar a Rua de São Paulo ao Largo do Calhariz, foi inaugurado com pompa a 28 de Junho de 1892. O sistema de tracção original era de cremalheira e cabo por contrapeso de água, mas as frequentes faltas no abastecimento de água levaram a que cedo se substituísse o sistema inicial por máquinas a vapor. O elevador foi electrificado em 1927, numa altura em que já passara para a posse da Carris.
Ao longo destes 120 anos, o elevador da Bica, que funciona das 7h00 às 22h45 e onde cabem 23 pessoas, já assistiu a alguns sobressaltos, como uma perda de travões, sem passageiros dentro, há cerca de 20 anos. No ano passado, o Governo decidiu classificar os elevadores de Lisboa - Lavra, Glória, Carmo e Bica - como monumentos nacionais
in Lazer/Público.pt

Elevador de Santa Justa

A configuração acidentada de Lisboa, com ladeiras abruptas e declives acentuados, foi desde sempre um grave obstáculo à circulação de pessoas e bens entre as partes mais altas e baixas da cidade. Nem mesmo os veículos de tracção animal mais aperfeiçoados, surgidos nos finais do século XIX, conseguiam responder a este problema de um modo completamente satisfatório.
Com o advento da tracção mecânica surge pela primeira vez a possibilidade de o resolver. Aparecem então os ascensores e elevadores, os primeiros funcionando em plano inclinado e os últimos em plano vertical.
Dos três elevadores então construídos, Chiado, Biblioteca e Carmo, apenas este último se mantém em actividade mercê da sua real utilidade.
Pertencendo actualmente à Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A., foi, na origem, propriedade de uma empresa especialmente criada para a sua construção e exploração: a Empresa do Elevador do Carmo.
Fundada no ano de 1899 esta empresa foi consequência lógica de uma concessão dada pela Câmara Municipal de Lisboa ao Engenheiro Mesnier de Ponsard três anos antes e é certamente a partir desta data que podemos dar início à sua história. Assim, em 30 de Abril de 1896 o engenheiro Mesnier de Ponsard obteve da Câmara de Lisboa uma concessão para a construção e exploração de um elevador que, partindo das escadinhas de Santa Justa em movimento vertical, fizesse a ligação com o largo do Carmo por meio de um passadiço colocado sobre a rua do mesmo nome. A 6 de Junho de 1899 foi concedida uma licença provisória para a sua construção e um mês após fundava-se aquela Sociedade.
Lançado o passadiço as obras continuaram o seu ritmo normal. Em Junho de 1902 ensaiaram-se máquinas e cabines e no mês seguinte, a 10 de Julho, o elevador inaugurou o serviço público.
Faltava ainda construir as estruturas destinadas a coroar a ponte e as torres. Mas como essas obras iriam não só interferir com o normal funcionamento do elevador mas também aumentar os custos de construção, já então considerados elevados, decidiu a empresa não os efectuar. Deste modo a cobertura das torres ficou reduzida a um simples terraço.
Com o fim de aumentar as suas receitas a empresa mandara colocar no terraço um telescópio pelo qual as pessoas podiam espreitar, pagando, e com o mesmo objectivo editou uma colecção de postais ilustrados com vistas do elevador, da cidade e dos arredores.
No fim do 1º ano de exploração o elevador transportara já mais de meio milhão de passageiros e ao terraço haviam subido 52.415 curiosos, dos quais 12.551 tinham feito uso do telescópio.
O ano de 1907 foi marcado pela electrificação do sistema, tendo a substituição das primitivas máquinas a vapor por outras eléctricas obrigado a uma paralisação temporária. O novo método foi autorizado por despacho ministerial de 11 de Julho tendo as obras sido iniciadas ainda nesse mês.
Em Fevereiro de 2002, tal como aconteceu com os ascensores do Lavra, da Glória e da Bica, também eles propriedade da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, foi classificado como Monumento Nacional.

"Esta Lisboa que eu amo".



7 comentários:

Anónimo disse...

Amigo José Gonçalves,
Realmente só tu! O artigo está espectacular, mesmo com muito interesse.
Partilho contigo a homenagem a Lisboa, pois penso que de alguma forma não deixou de marcar quem por lá passou algum tempo.
Muitos beijinhos

Ernesto Feliciano disse...

Amigo José,

Os elevadores são imagens de marca da nossa capital.

Recordo com saudade, as viagens que neles fiz.

Um abraço.

António Inglês disse...

aramis

Lisboa sempre Lisboa, em especial para quem lá passou a sua adolescência, quem lá morou, quem lá estudou, quem lá brincou, quem lá namorou e quem lá começou a trabalhar, que certamente terá muito para recordar e contar.
Hoje, como sabes, vivo em São Martinho do Porto, mas isso não me impede de continuar apaixonado pela cidade que comigo compartilhou sonhos, segredos, aventuras, desventuras, alegrias, tristezas, uma vida.
Lá nasceram todos os meus filhos e por isso também lhe devo mais essa abençoada dádiva.
É bom recordá-la e um dia destes vai até lá e dá um passeio pelos elevadores de Lisboa e verás que a nossa Capital é das cidades mais lindas do Mundo.
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Amigo Ernesto

É como diz, os elevadores de Lisboa são famosos em todo o mundo.
Temos tendência em esquecê-los quando só vamos à capital uma vez por outra e na maioria das vezes com muita pressa de voltar a casa. Não porque dela não gostemos, mas sim porque raramente lá vamos em passeio.
A história de Lisboa está intimamente ligada aos seus elevadores e o de Santa Justa, para mim, por ser um elevador vertical, e por estar localizado em plena baixa é o mais bonito deles todos.
Um abraço
José Gonçalves

ANTONIO DELGADO disse...

Lisboa sem os elevadores é como Alcobaça sem o Mosteiro ou São martinho sem a Baia. São formas de identidade e momentos altos da história dos transportes em Portugal, além de representarem formas de uma imensa nostalgia, para quem durante muito tempo circulou neles.

Um abraço forte
Antonio Delgado

ANTONIO DELGADO disse...

Esqueci-me de dizer são muito bonitas as fotos.

Um abraço
António

António Inglês disse...

Amigo António

Concordo plenamente consigo no que diz, até porque foram muitos anos a viajar neles por Lisboa fora.
Que saudades...
José Gonçalves