quarta-feira, 25 de julho de 2007

As Lágrimas São Netas Do Mar




Esta é a terra onde vivo... onde o rebuliço do mar vem descansar... onde o Verão passa o Inverno... onde o casario se mistura com as águas... por quem me bato e a quem presto uma singela homenagem... simples mas sincera...

José Gonçalves


As Lágrimas São Netas Do Mar

Vieram dizer ao Mar
que o Sal
andava a portar-se mal.
.
Quem veio meter
minhocas na cabeça do velho Mar
foi a Areia e a Espuma.
Tudo porque o Sal
era bonito
e não lhes ligava nenhuma.
.
De queixinha em queixinha,
disseram ao Mar
que o Sal
tinha uma namoradinha.
.
Chamava-se Gota de Água.
Era linda,
branca, cristalina
e tinha vindo do Céu Azul.
.
As duas,
com dores de cotovelo,
contaram ao Mar
as conversas de amor
que tinham ouvido
quando o Sal estava a namorar
muito entretido.
.
Então,
a Areia disse que a Gota de Água
falou assim para o Sal:
- Meu bem amado,
..se quiseres casar comigo
..deixarás de ser salgado.
.
E a Espuma disse que o Sal respondeu à Gota de Água:
- Minha ternura,
..por ti deito o salgado fora
..e fico uma doçura.
.
E neste disse-que-disse,
as duas marotas aproveitaram a maré
e
de tal maneira
atazanaram o velho,
que os seus cabelos ficaram em pé.
.
- O Sal virar doçura? – pensou o Pai Mar.
E, ao pensar nisto,
deixou entrar a tristeza e a amargura
no seu imenso coração.
.
O Pai Mar nem queria acreditar.
Então,
ele,
pai,
criou o Sal, desde catraio até homem feito,
feito para conservar
a beleza e a saúde dos habitantes do seu reino
- os peixes –
e o rapaz queria tornar-se doçaria?
Não podia!!!
.
Chamou o filho e disse-lhe:
- Filho, tem paciência,
..se continuas com o namoro,
..considero desobediência.
.

O Sal
fez ouvidos de mercador,
encolheu os ombros,
e continuou o seu grande amor…
pela Gotinha de Água.
.
Ao saber
o que o filho tinha decidido,
o Mar ficou bravo,
enraivecido,
tornou-se turbilhão, e foi grande a aflição:
as Ondas andaram numa fona,
os Mexilhões levaram tapona,
a Baleia veio respirar à tona,
um Cavalo-Marinho
tropeçou num penedo e partiu o focinho.
Até uma Gaivota,
de perna manca,
que era vizinha do Mar,
teve de dar à perna para não se afogar.
.
O velho Mar,
amargurado e furioso,
pôs o filho fora de casa,
em terra.
.
Mas o sal não se importou.
Casou.
Mas, como não havia casas para alugar,
o Sal e a Gota de Água
foram morar
para os olhos das pessoas.
.
É por isso
que, quando estamos tristes e amargurados nos nossos corações,
choramos.
E as nossa lágrimas
são salgadas
porque são filhas do Sal e da Gota de Água
e… netas do Mar.

In “Para Sonhar com Borboletas Azuis”
de José Vaz


7 comentários:

aramis disse...

Querido Amigo,

Gosto muito das fotografias com que ilustras o nosso S.Martinho, boa escolha!

O poema não pode ser mais delicioso... pequenas bulhas de amor,
acabando em conclusão real.

Muitos beijinhos

(Passa no "aramis-cavalgada", tem novo post.)

António Inglês disse...

Olá minha querida amiga


Estás atenta...
Já passei pelo "aramis-cavalgada" e já vi a tua postagem.
Já comentei também e digo-te que gostei da escolha mas o poema acho-o um pouco triste...
Andas assim tão tristinha?
Arrebita aramis que tristezas não pagam dívidas.
Uma beijoca das antigas
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Poema muito adequado à nossa terra.
Boa escolha.
Um abraço.

António Inglês disse...

Olá Ernesto

A "nossa" terra merece isto e muito mais.
Um abraço
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Sem dúvida!

Maria Faia disse...

Fabuloso meu amigo,
Não conhecia esta história poética mas, adorei. Tal como adoro o mar, o meu "habitat" preferido.
Beijo

António Inglês disse...

Maria Faia

Também gostei muito da história e da forma de a contar.
O mar é uma tentação terrível.
E estava na hora de prestar a minha homenagem a São Martinho do Porto.
Simples mas sincera.
Um beijinho
José Gonçalves