A 23 DE OUTUBRO DE 1907 NASCEU (OFICIALMENTE) HERMINIA SILVA
Embora algumas fontes apontem o dia 2 de Outubro de 1913 como a verdadeira data de nascimento da fadista Hermínia Silva, os documentos oficiais indicam que esse acontecimento teve lugar a 23 de Outubro 1907. Seis anos antes do que vulgarmente consta nas biografias oficiais, data comprovado no livro pelo "acento de nascimento".
Hermínia Silva nasceu pois, em 1907, cinco anos depois de Ercília Costa, a primeira fadista que saiu das fronteiras de Portugal. Cedo se tornou presença notada nos retiros de Lisboa, que não hesitaram em contratá-la, pela originalidade com que cantava o Fado. A Canção dos Bairros de Lisboa estava-lhe nas veias, não fora ela nascida, ali mesmo junto ao Castelo de São Jorge. As "histórias" dos amores da Severa com o Conde de Vimioso estavam ainda frescas na memória do povo. O Fado fazia parte do seu quotidiano.
Rapidamente, a sua presença foi notada nos retiros, e passados poucos anos, em 1929, Hermínia Silva estreava-se numa Revista do Parque Mayer. Era a primeira vez que o Fado vendia bilhetes na Revista. Alguns jornais da época, referiam-se a ela, como a grande vedeta nacional, chegando a afirmar-se, que a fadista tinha "uma multidão de admiradores fanáticos". A sua melismática criativa, a inclusão no Fado, de letras menos tristes, por vezes com um forte cunho de crítica social, e o seu empenho em trazer para o Fado e para a guitarra portuguesa, fados não tradicionais, compostos por maestros como Jaime Mendes, compositores como Raul Ferrão, criando assim o chamado "fado musicado", aquele fado cuja música corresponde unicamente a uma letra, se bem que composto segundo a base do Fado, e em especial, tendo em atenção as potencialidades da guitarra portuguesa.
Hermínia Silva torna-se assim, sem o haver planeado, num dos vértices do Fado, tal qual hoje ele existe, enquanto estilo musical: Alfredo Marceneiro foi o primeiro vértice, o da exploração estilística do Fado Tradicional, tendo em Ercília Costa o seu maior ícone; Hermínia viria a trazer o Fado para as grandes salas do Teatro de Revista, e viria a "inaugurar" a futura Canção Nacional, com acompanhamentos de grandes orquestras, dirigidas por maestros, que também eram compositores. A sua fama atingiu um tal ponto que o Cinema, quis aproveitar o seu sucesso como figura de grande plano.
Efectivamente, nove anos depois de se ter estreado na Revista, Hermínia integra o elenco do filme de Chianca de Garcia, Aldeia da Roupa Branca (1938), num papel que lhe permite cantar no filme. Nascera assim, a que viria a ser considerada, a segunda artista mais popular do século XX português, depois de Amália Rodrigues, o terceiro vértice do Fado, ainda por nascer.
Depois de várias presenças no estrangeiro, com especial incidência no Brasil e em Espanha, Hermínia aposta numa carreira mais concentrada em Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de avião, inviabilizou-lhe muitos contratos que surgiam em catadupa. Mas, Hermínia estava no Céu, na sua Lisboa das sete colinas.
Em 1943 é chamada para mais um filme, o Costa do Castelo, em 1946 roda o Homem do Ribatejo, passando regularmente pelos palcos do Parque Mayer, fazendo sucesso com os seus fados e as suas rábulas de Revista. Efectivamente, Hermínia consegue alcançar tal êxito no Teatro, que o SNI, atribui-lhe o "Prémio Nacional do Teatro", um galardão muito cobiçado na época. Até 1969, em "O Diabo era Outro", a popularidade da fadista encheu os écrans dos cinemas de todo o país. Vieram mais Revistas, mais recitais, muitos discos de sucesso...
Mas, para quem quisesse conhecer a grande Hermínia bem mais de perto, tinha a oportunidade de ouro, de vê-la ao vivo e a cores, sem microfone, na sua Casa - o Solar da Hermínia, em Benavente, restaurante que manteve quase até ao fim da sua vida artística, onde tantas tardes de domingo me habituei a ouvi-la. Estudava eu, na época, no Colégio Nossa Senhora da Paz, nessa belíssima terra encostadinha ao Rio Sorraia.
No regresso de casa para o Colégio ao domingo, ou em fins de semana que não íamos a casa, era um hábito para nós jovens estudantes do colégio, passar-mos alguns agradáveis momentos ouvindo a brilhante Hermínia Silva. O “Solar da Hermínia” sempre foi aliás, o grande poiso da rapaziada do meu tempo, mesmo durante a semana e quando os intervalos das aulas davam para isso. Que tempos meu Deus! Que privilégio!
Felizmente, o Estado Português, o Antigo e o Contemporâneo, reconheceu Hermínia Silva. São vários os Prémios e Condecorações, as distinções e as nomeações, justíssimas para uma artista, que fez escola, e que hoje, constitui um dos três maiores nomes da Canção Nacional, ao lado de Marceneiro e de Amália, que por razões diferentes, pelos "apports" de forma e conteúdo distintos que trouxeram à Canção de Lisboa, fizeram dela, o Fado, tal qual hoje é entendido, cantado, tocado e formatado.
A sacerdotisa cantou quase até partir para a dimensão do Espírito, em 13 de Junho de 1993. Morria assim, uma das maiores vedetas do Fado e do Teatro de Revista Português.
Texto da Wikipédia, com uma pequena parte de minha autoria.
Fotos da Net
António Inglês
9 comentários:
Uma nota para não publicares, António:
A segunda foto, em que dizes que é a Hermínia Silva quando jovem, parece-me mais a Beatriz da Conceição...
Vê lá na net se não te trocaste...
Abraço
Pois Maria, muito grato te estou pelo reparo e confesso-te que também tive dúvidas pois não me pareceu a Hermínia Silva, mas a verdade é que tirei a foto de um blog que afirma que é ela.
Como também tive as minhas dúvidas e agora tu as confirmas-te irei trocar a foto por uma que eu tenha a certeza de que é mesmo a Dª Hermínia.
Obrigado mais uma vez pela ajuda e desculpa ter publicado o teu comentário, mas acho que estas coisas devem ser mesmo assim. Passei vários anos da minha juventude a ouvi-la no Solar em Benavente, terra onde estudei num Colégio Interno (tal era a peste) e para mim são gratas recordações desse tempo que não volta mais.
Um abraço
António
:)))
E eu passei anos a ouvir a Hermínia Silva cantar no Solar da Hermínia, já que tinha reuniões quase diárias, que iam noite dentro, no primeiro andar por cima do Solar...
São tempos que não voltam mais, mesmo.
Outro abraço, António
Obrigado Maria
E pelos vistos temos andado bem perto um do outro. Quem sabe já não nos cruzámos...
Este nosso país é mesmo uma aldeia não achas?
Aqui fica mais um abraço e com este desta vez vão quatro. Não importa, os abraços aos amigos não são para contabilizar porque saem do coração.
António
anda pacheco, toca pacheco...
a hermínia silva é eterna por toda a sua vida e voz, e interpretação do fado!
aparte de benavente, também em lisboa tinha o seu "solar", ali ao chiado, em s. roque, bairro alto
era de facto uma castiça!
linda homenagem
beijinhos
Olá Gaivota
Estou em falta para consigo e talvez nem merecesse as suas visitas, mas tentarei repor tudo no seu lugar porque a vida está a alterar-se.
Fico-lhe grato no entanto por elas.
Eu sei da existência do Solar da Hermínia Silva ali par o Bairro Alto mas confesso que a esse nunca fui, e nem sei se ainda existe.
Optei por falar do "Solar da Hermínia" em Benavente, porque marcou parte da minha juventude, e de que maneira...
Por outro lado, como gosto muito de Fado, foi para mim sempre um prazer ouvi-la aos fins de semana por lá.
Saudades....
Um abraço
António
Sempre achei Hermínia muito especial.
Aqueles fados de faca e alguidar com tragédias passionais e atitudes machistas à mistura nunca me agradaram, mas o jeito com que ela abordava o género, sim.
Inesquecível o seu "Anda, Pacheco".
Passei imensas vezes junto ao seu restaurante em Salvaterra, porque ficava em caminho para a terra do meu ex-marido.
Parabéns pela recolha .
Um abraço, Tonico.
Hermínia Silva é para mim o verdadeiro símbolo do fado.
Abraço António
Olá António!
Mais vale tarde que nunca! Nas minhas pesquisas acerca da maravilhosa Hermínia, deparei-me com este seu artigo, que é também um testemunho. Uma coisa lhe digo, em tudo o que sinto na voz de Hermínia e em tudo o que ela representa, vem-me sempre uma pontinha de ressentimento, por não ter podido ouvi-la cantar e também por não a ter conhecido. São artigos como o seu, estudos como os do Vítor Marceneiro, artigos de blogues, álbuns, que me fazem aproximar e conhecer um pouco melhor essa personalidade marcante que foi Hermínia Silva.
Felicidades!
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