sábado, 3 de janeiro de 2009

2009 COMEÇA ASSIM


Fuga de Peniche foi há 49 anos


Foi no dia 3 de Janeiro de 1960, há precisamente 49 anos, que dez dirigentes comunistas, dando corpo a um plano que levou longos meses a elaborar, fugiram do forte de Peniche, uma das cadeias mais seguras do regime político de Salazar.



Foram eles, Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e, ainda, Francisco Martins Rodrigues que posteriormente abandonaria o PCP e a luta que, afinal, esteve na base da corajosa fuga de Peniche.
O êxito desta evasão, que se tornaria uma das mais conhecidas evasões das prisões fascistas e representou uma humilhante derrota para PIDE, deveu-se, como o de outras fugas colectivas e individuais de militantes comunistas, à firme disposição de regressar à luta pela liberdade e pela democracia, ao anseio dos que as levavam a cabo de se colocarem ao serviço do seu povo e do seu país.
Assim, a fuga de Peniche representou igualmente uma grande vitória para o PCP que, ao reaver um importante número de destacados dirigentes, criou melhores condições para dirigir e desenvolver a luta contra a ditadura fascista e as importantes lutas de massas que tiveram lugar em 1961-1962.



Hoje, a fuga do Forte de Peniche parece fácil, e os que a viveram e a contam fazem-no até com laivos de humor. Mas a verdade é que ela correspondeu a um plano cuidadoso e rigoroso, a uma perfeita coordenação da acção do PCP no interior e exterior do Forte, a uma disciplina e secretismo totais, a grandes riscos e a uma enorme coragem dos que participaram.
Depois de um longo trabalho para aliciar uma sentinela da GNR, José Alves, para a colaboração na fuga, de acertados todos os pormenores de fuga com elementos do PCP no exterior – entre os quais se encontrava o já desaparecido actor Rogério Paulo, a quem caberia a tarefa de dar o sinal de que tudo corria bem, passando de carro em frente do Forte com a tampa da mala levantada -, os onze dirigentes neutralizam com clorofórmio o guarda prisional, então de serviço, e, sob a capa de José Alves, passam, um a um, numa parte muito exposta do percurso. Do piso superior da fortaleza, descem então para o piso seguinte através de uma árvore e, daí, para uma guarita. Finalmente, também um a um, descem através de uma corda feita de lençóis para o fosso exterior do Forte, onde se dividem em três grupos.
Há, porém, ainda um muro a escalar até atingir a praça e as ruas das vilas onde os esperam três carros. Fazem-no com êxito e partem a alta velocidade para os locais previamente estabelecidos



Álvaro Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em São João de Estoril, onde ficaria a viver durante algum tempo Do interior a comissão de fuga era composta por Álvaro Cunhal, Jaime Serra e Joaquim Gomes. Do exterior, organizaram a fuga Pires Jorge e Dias Lourenço, com a ajuda de Octávio Pato, Rui Perdigão e Rogério Paulo. No dia seguinte retomavam o seu lugar na luta. Uma luta de amor que diariamente esbarrava com o ódio fascista mas que acabou por ver os seus frutos, anos mais tarde, em Abril de 1974.
Em Novembro de 1962, o destacado dirigente comunista já falecido, Octávio Pato, que do exterior do Forte ajudou a preparar a fuga, afirmava no seu julgamento: «Serei condenado por amar o meu povo e o meu país e por estar irmanado a todos os patriotas que anseiam libertar Portugal. Tenho, porém, a consciência de que a luta a que me devotei desde a minha juventude e que abrangeu a maior parte dos anos da minha vida não foi em vão».

«Avante!» Nº 1362 - 6.Janeiro.2000

Fotos da Net

António Inglês

...E FALTAM SÓ SETE DIAS...


7 comentários:

Maria disse...

Visitar o Forte de Peniche acompanhada com quem lá passou algum tempo, ouvir as estórias de vida e luta que por lá se viveram é ficar arrepiada por dentro e por fora. Às vezes quase não se aguenta. Se nunca visitaste o Forte com um dos ainda vivos que por lá passaram não percas a experiência, porque é única.

Beijinho, António
(sei que é dia 10, mas provavelmente só te leio dia 12...)

Mare Liberum disse...

Irei estar atenta ao dia 10. Quanto a este post, além de comovente, arrepiou-me. Eu não quero esquecer a ditadura, eu não quero que as gerações actuais não saibam o que é um regime onde os direitos do homem são fortemente reprimidos e ignorados.Estes momentos não podem ser apagados da história. Que deles se tirem lições para o presente e para o futuro.

Já visitei este forte algumas vezes e as histórias que ouvi contar,por quem sentiu na pele os horrores desse hediondo regime,são pungentes, revoltantes.

Beijinhos mil

Bem-hajas!

Elvira Carvalho disse...

Também visitei o forte há dois anos. Meu 2009 não começou em Peniche, pela primeira vez desde há quatro anos.
Mandei-lhe um mail com fotos...
Um abraço e vai-me corroendo a curiosidade.
Bom ano!

gaivota disse...

e foi em peniche, tudo se passou e deixou (deixa) as marcas...
estou curiosa com o dia 10...
bom ano
beijinhos

- Moisés Correia - disse...

“Reencarnação”

Foi em tempos… há muito tempo
Um tempo longínquo que já não sei…
Recordadas no momento de um pensamento
Pergaminhos da memória que furtei

http://pensamanzas.blogspot.com/

Uma boa semana com um abraço amigo…

Alice Matos disse...

Arrepiam as imagens... mas não fazem justiça ao que se sofreu entre aquelas paredes...

Fica bem...
Um excelente 2009...

Anónimo disse...

Conheço de perto estes casos.....