EUGÉNIO DE ANDRADE PARTIU HÁ TRÊS ANOS
Eugénio de Andrade foi o pseudónimo de José Fontinhas Rato poeta português do séc. XX, nascido na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe, que entretanto se separara do pai.
Estudou no Liceu Passos Manuel e na Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado "Narciso", publicou três anos mais tarde.
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de inspector administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.
A sua consagração já acontecera dois anos antes, em 1948, com a publicação de "As mãos e os frutos", que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, "Os amantes sem dinheiro" (1950), "As palavras interditas" (1951), "Escrita da Terra" (1974), "Matéria Solar" (1980), "Rente ao dizer" (1992), "Ofício da paciência" (1994), "O sal da língua" (1995) e "Os lugares do lume" (1998).
Em prosa, publicou "Os afluentes do silêncio" (1968), "Rosto precário" (1979) e "À sombra da memória" (1993), além das histórias infantis "História da égua branca" (1977) e "Aquela nuvem e as outras" (1986).
Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny de Vasconcelos, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luís Cernuda, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes, e muitos outros...
Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com "essa debilidade do coração que é a amizade".
Recebeu inúmeras distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube. Viveu em Lisboa de 1932 a 1943. Fixou-se no Porto, a partir de 1950, como funcionário dos Serviços Médico-Sociais. Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.
Estreou-se em 1940 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente, e afirma-se como poeta na colectânea As mãos e os frutos. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.
Eugénio foi galardoado com inúmeras distinções, entre as quais:
- Prémio Pen Clube (1986)
- Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986)
- Prémio D. Dinis (1988)
- Prémio Jean Malrieu (França, 1989)
- Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1989)
- Prémio APCA (Brasil,1991)
- Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996)
- Prémio Vida literária da APE (2000)
- Prémio Celso Emílio Ferreiro (Espanha, 2001)
- Prémio Camões (2001)
- Prémio PEN (2001)
- Doutoramento "Honoris Causa" (2005).
- Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube.
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Texto e Fotos da Net
António Inglês
15 comentários:
António,
associo-me nesta sua bela homenagem ao poeta e, deixo mais um poema.
"O Silêncio
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas"
(Eugénio de Andrade)
Obrigada!
Bjs
António, Querido Amigo, Mano Tó:
Como sabes, gosto muito de poesia embora não seja uma expert no assunto e esteja muito longe disso. O poder encantatótrio das palavras, o mundo onírico para que me remonta, faz com que esses momentos sejam de autêntica felicidade. Em minha casa, quando eu era pequenita e durante toda a juventude, lia-se poesia em voz alta, ao serão, hábito transmitido pelo tal bisavô paterno, natural de Coruche, mestre-escola por esse Alentejo e, mais tarde, no Algarve. Eugénio de Andrade era um dos meus preferidos. E continuou a sê-lo.
Hoje fiquei tão sensibilizade que as lágrimas rolaram sem que o quisesse. Obrigada, António!
Este teu gosto por postar não te deixa passar estes momentos que considero imperdíveis.
Bem hajas!
Beijinhos mil
Já três anos?!
Mas a frescura da sua poesia continua intacta.
Até porque o Amor é eterno, não é?
Que o teu dia tenha a ternura dos poemas que nos ofereceste, Tonico!
Olá Carminda
Gosto de ler Eugénio de Andrade, muito embora ande saturado da leitura. Maus hábitos.
O poema que me deixa é também muito bonito, obrigado.
Um abraço
António
Sabel Mana amiga!
Este termo Sabel é-me muito querido pois era assim que minha avó tratava a irmã dela que tinha o teu nome, coisa que já te contei. Acho-o muito terno, sempre achei, e uma Mana como tu só pode ter um tratamento destes.
Como sabes eu de poesia sou um zero à esquerda de muitos zeros mas gosto de ler Eugénio de Andrade de vez em quando.
Não ando de muito boas relações com a leitura.
Um beijinho
António
São
Obrigado amiga pelos teus desejos.
Mesmo visitando-nos pouco sabemos que podemos contar um com o outro.
Três anos passaram depressa e curiosamente ainda hoje tenho guardada a noticia da sua morte. Não me perguntes porquê que também não sei. E não percebo nadica de nada de poesia, mas....
Um abração
Tonico.
Que bela homenagem António. Mais apreciada ainda se soubermos que o Amigo não é grande fã de poesia.
Fiquei encantada, até porque é um poeta que gosto de ler.
Na verdade também me lembro da notícia da morte dele, e parece que ainda foi há dias.
Bom fim de semana
Um abraço
Sabe, aquele "É urgente o amor" é um dos poemas que me vem logo à lembrança quando se fala de Eugénio de Andrade.
E também aqui vejo uma foto do poeta na praia. Lembro-me de, numa entrevista, o jornalista referir que Eugénio de Andrade exclamou, ao chegarem junto ao mar "Que belas gaivotas! A ver se não as assustamos..."- lindo, não é?
Beijinhos.
Uma bonita homenagem a um Poeta Maior que partiu há 3 anos e de quem já tenho tantas saudades.....
Obrigada, António.
Beijinho
Olá António; As palavras parecem já gastas como ele diz, mas não estão...
Eugénio de Andrade pouco ou quase nada o li, mas vejo poesias dele aqui e acolá, emprestam-me livros dele e a pouco vou entrando no seu mundo. Lindo e verdadeiro...
Eu só comecei a escrever poesia aos 54 e nunca é tarde... já escrevia, mas coisa pouca e nem os guardava. Agora, desde que cheguei do hospital fiz apenas uma meia dúzia d epoemas, rascunho no bloco mas nem os passei ainda, ainda não me sinto bem de todo para fazer o que gosto; escrever...
Compreendo-te com a greve da leitura. Há momentos para tudo e temos de fazer pausas também...
Que o Eugénio de Andrade esteja bem lá no mundo onde pertence, que eu acredito que vamos para lá!...e continuamos a nossa cmainhada rumo ao infinito... Uma poesia que fiz sobre poetas...
Ó Poetas e Poetisas de outrora...
Ó poetas e poetisas de outrora
Que fostes como eu
Moldados na dor e nos desgostos
E que só sabíeis produzir
Quando a dor vos estava a consumir...
São tantas as nossas dores
É tanto o amargor que sentimos
Ao ver que se vive a vida
Sem dela nos apercebermos
E sem dela usufruirmos...
Ó Poetas de antes e de agora,
Que vivestes presos ao amor
E dele nunca desfrutastes
E apenas colhestes dores
Que foram só desamores...
Que os amores esses apenas existiam
Para nos trazer mais dores
E quando deles fugíamos
Mais dores recolhíamos
E mais da vida nos perdíamos...
Que lá nos mundos onde viveis agora,
Haja corações a derramar sobre vós o amor
Que vos façam retemperar a glória
E vos acompanhem a toda a hora
Já que aqui não fostes merecedores...
Um grande abraço da laura que gosta de passar por cá...
Gosto muito do Eugénio de Andrada e, em geral, de toda a poesia portuguesa.
POSTEI HJ SOBRE STARDUST, O MISTÉRIO DA ESTRELA E SOBRE A II PARTE DA DAMA E O UNICÓRNIO. VÁ LÁ E DEIXE O SEU COMENTÁRIO. SE AINDA NÃO PÔS COMENTÁRIO EM PARIS, EU TE AMO, APROVEITE A OCASIÃO.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
BEIJOS, QUERIDA, CADA VEZ GOSTO MAIS DE VCS
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO
Meu querido amigo vim da Maria (cheiro da ilha) onde encontrei um poema lindíssimo de Eugénio Andrade.Aqui uma bela homenagem...bom domingo...
Passei. Deixo um abraço e votos de bom Domingo.
Olá amigo António,
Já tinha lido hoje pela manhãzinha esta tua bela homenagem a Eugénio de Andrade que muito me diz, não só por ser um dos meus poetas preferidos, senão o preferido, mas porque como muito bem dizes trabalhamos na mesma casa e tive o raro previlégio de o conhecer.
Morou num dos sítios do Porto que mais gosto, durante largos anos e mesmo depois de se aposentar era frequente vê-lo passar pela Livraria Latina, no início da Rua de Santa Catarina, até que se mudou para o local que passou a ser a Fundação Eugénio de Andrade, também um do sítios mais bonitos do Porto, onde o rio encontra o mar e portanto ele tinha uma paisagem impressionante.
Já me estendi.
Matei um bocadinho da minha saudade deste grande poeta.
Obrigada António.
Beijinhos
António, Meu Querido Amigo
Passei para te desejar um bom Domingo e aproveitei para me deliciar com os poemas e as imagens que aqui nos proporcionas. A poesia é uma das paixões que me alimenta a alma e Eugénio de Andrade, que eu tive o privilégio de conhecer, é um vulto proeminente da poesia contemporânea portuguesa.
Beijinhos
Bem Hajas!
Sabel
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