domingo, 15 de junho de 2008

ALMADA NEGREIROS

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A 15 de Junho de 1970 faleceu em Lisboa, José Sobral de Almada Negreiros que nasceu em Trindade, S. Tomé a 7 de Abril de 1893. Foi um artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista. Também foi um dos principais colaboradores da Revista Orpheu.



VIDA

Era filho de António Lobo de Almada Negreiros, um tenente de cavalaria que foi administrador do Concelho de São Tomé,e fundador de diversos jornais. Uma parte da sua infância foi passada em São Tomé e Príncipe, terra natal da sua mãe, Elvira Sobral.

Depois da morte da sua mãe, em 1896, veio viver para Portugal; nesta altura, em 1900, o seu pai é nomeado encarregado do Pavilhão das Colónias na Exposição Universal de Paris, deixando os filhos José e António, ao cuidado dos jesuítas no Colégio de Campolide.

Em 1911, após a extinção do Colégio de Campolide dos Jesuítas, José entra para a Escola Internacional de Lisboa, após uma breve passagem pelo Liceu de Coimbra. Nesta escola, consegue um espaço, onde irá desenvolver o seu trabalho, publicando ainda nesse ano, o seu primeiro desenho na revista A Sátira e publica o jornal manuscrito A Paródia, onde é o único redactor e ilustrador.

Em 1913 apresenta na Escola Internacional de Lisboa, a sua primeira exposição individual composta de 90 desenhos; aqui trava conhecimento com Fernando Pessoa, com quem edita a Revista Orpheu juntamente com Mário de Sá Carneiro.

Júlio Dantas, médico, poeta, jornalista e dramaturgo, é a maior figura da intelectualidade da época e afirma que a revista é feita por gente sem juízo. Irónico, mordaz, provocador mesmo, Almada responde com o Manifesto Anti-Dantas, onde escreve: “…uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim!

O manifesto teve algum impacto no meio artístico; é tempo de mudar as mentalidades e a sociedade e Almada fá-lo como poucos, atacando a cultura burguesa instituída e os seus representantes ao mais alto nível.



As duas orientações de busca e criação de Almada Negreiros foram a beleza e a sabedoria. Para ele "a beleza não podia ser ignorante e idiota tal como a sabedoria não podia ser feia e triste" (Freitas, 1985). Almada Negreiros foi um pintor-pensador. Foi praticante de uma arte elaborada que pressupõe uma aprendizagem que não se esgota nas escolas de arte; bem pelo contrário, uma aprendizagem que implica um percurso introspectivo e universal.

O tema principal de Almada foi o número, a geometria (sagrada) e os seus significados, declarando que a sabedoria poética e a sabedoria reflectida têm entre elas a fronteira irredutível do número. Almada revela-se assim um neopitagórico sendo este seu lado a fonte mais profunda da sua inspiração e da sua criatividade e, segundo Lima de Freitas, a sua
loucura central.

Vulto cimeiro da vida cultural portuguesa durante quase meio século, contribuiu mais que ninguém para a criação, prestígio e triunfo do modernismo artístico em Portugal. Na sua evolução como pintor, Almada passou do figurativismo e da representação convencional dos primeiros tempos, para a abstracção geométrica, matemática e numérica que caracteriza as suas últimas obras.

A sua preocupação central foi a determinação do enigmático Ponto de Bauhütte. Essa procura ficou registada por vários textos, por numerosos traçados geométricos e por algumas pinturas a preto e branco que Almada foi acumulando, mas sem tornar público o fundo do seu pensamento. Antes de romper o quase segredo da sua busca, Almada realiza, para o Tribunal de Contas de Lisboa, um dos cartões para tapeçaria intitulado «O Número».



Escreve a novela A Engomadeira, em 1917

Em 1919 vai viver para Paris, onde exerce diversas actividades e escreve a Histoire du Portugal par coeur. Em Paris, fica apenas cerca de um ano e quando regressa, vai colaborar com António Ferro, tendo inclusivamente desenhado a capa do livro deste, Arte de Bem Morrer.

Em 1927 volta a deixar Portugal, indo desta vez para Espanha, onde para além de colaborar com diversas revistas, Almada escreve El Uno, Tragédia de la Unidad, obra dedicada à pintora Sarah Afonso, com quem viria a casar em 1934, já após o seu regresso a Portugal.

Em Portugal já vigora o Estado Novo e Almada, nacionalista convicto, começa a ser solicitado para colaborar com as grandes obras do estado. O Secretariado da Propaganda Nacional – SPN, encomenda-lhe o cartaz de apelo ao voto na nova constituição; o mesmo secretariado, irá organizar mais tarde a exposição Almada – Trinta Anos de Desenho, convidando-o para se apresentar na exposição Artistas Portugueses no Rio de Janeiro em 1942.

O SPN viria ainda a atribuir a Almada Negreiros o Prémio Columbano pela sua tela intitulada Mulher.

A partir daqui, Almada dedica-se principalmente ao desenho e à pintura: Pinta os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que o público, agarrado às tradições, não aprecia; pinta o conhecido retrato de Fernando Pessoa, os painéis das gares marítimas de Alcântara e da Rocha Conde de Óbidos, pelas quais recebe o Prémio Domingos Sequeira; pinta o Edifício da Águas Livres e frescos na Escola Patrício Prazeres; pinta as fachadas dos edifícios da Cidade Universitária e faz tapeçarias para o Tribunal de Contas e para o Palácio da Justiça de Aveiro, entre muitos outros.

Tendo colaborado tanto com o Estado Novo, o que a muita gente causou estranheza, Almada, não deixaria de escrever: “As construções do Estado multiplicam-se, porém, as paredes estão nuas como os seus muros, como um livro aberto sem nenhuma história para o povo ver e fixar”.



Em 1954 Almada pinta o célebre retrato de Fernando Pessoa.

Em 1970 o Retrato de Fernando Pessoa é leiloado. Almada assiste ao leilão. O preço atingido, 1300 contos, causa admiração. Nunca um pintor português conseguira tal proeza.

Os seus últimos trabalhos, já com 75 anos, são o Painel Começar na Fundação Calouste Gulbenkian e os frescos da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.

Almada Negreiros, morre em 14 de Junho de 1970, de falha cardíaca, no mesmo quarto do Hospital de São Luís dos Franceses, onde também tinha morrido Fernando Pessoa.

Em tempos Almada respondera a alguém:

“AS PESSOAS QUE EU MAIS ADMIRO SÃO AQUELAS QUE NUNCA ACABAM”.



Fontes: Textos de Wikipédia e Net Fotos da Net
António Inglês

3 comentários:

Branca disse...

Bom dia amigo António,

Mais um dos teus elucidativos e bem elaborados posts. Almada Negreiros era e é um génio das artes que muito admiro.
Adoro a pintura dele e trouxeste-nos aqui os mais significativos quadros.
Tem um Bom Domingo.
Beijinhos

Isamar disse...

António, Querido Amigo:

Lembro-me de Almada Negreiros desde que apareceu no Zip-Zip,programa de televisão feito por Raul Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia.Nunca mais a sua imagem se me apagou da memória. Usava uma bóina basca como o meu pai e isso tinha um significado especial para mim. Era um homem da Liberdade!A sua obra, sempre a admirei, assim como a da mulher, pouco conhecida, a pintora Sara Afonso.´
Gostei muito deste post e agora diz-me lá se não há coincidências?
Deixo-te beijinhos e desejo-te uma boa semana.
Sabel

Anónimo disse...

Excelentes pinturas as de Almada Negreiros.....
Bom post!Obrigada