quarta-feira, 23 de abril de 2008

23 DE ABRIL DE 1974

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Entre as 18 e as 20 horas, num banco do Parque Eduardo VII, em Lisboa, Otelo distribui os sobrescritos com a Ordem de Operações aos delegados que os hão-de distribuir pelas unidades revoltosas. "As equipas são formadas por dois elementos", conta este militar no seu livro, que temos vindo a seguir ao longo desta evocação jornalística, iniciada em 16 de Março. Cada um seguirá na sua viatura, "percorrendo, se possível, itinerários diferentes". Deste modo, "se um fosse apanhado, o outro poderia vir a cumprir a missão".

O frio obriga Otelo a recolher-se no carro, estacionado na Avenida Sidónio Pais. Com os sobrescritos vai um exemplar do jornal marcelista "Época", que funciona, por ironia dos golpistas, como identificador dos elementos de ligação.

Os fuzileiros fazem saber que no mínimo serão neutrais, para alívio dos conjurados. A informação é dada por um eufórico Vítor Crespo a Vítor Alves e Otelo, que, em casa do primeiro, efectuam uma rápida reunião com elementos da Armada. A hora H fora entretanto marcada, em definitivo, para as três da madrugada.



"O mês de Abril, tal como sucedera com o de Março, foi, praticamente todo ele, constituído por dias muito confusos. (...) Sentiu o chefe do Estado o perigo e a possibilidade de que alguma coisa de mais grave poderia suceder, embora longe de supor o que, de facto, viria a acontecer. Transmitia frequentemente (...) a sua inquietação e as suas apreensões a quem estava governando o País e não só. Mas apenas em meia dúzia de pessoas, quando muito, encontrava pleno acordo para esse seu estado de espírito. (...) De quanto estaria em curso, o chefe do Estado sentia que o maior risco vinha do chamado movimento dos capitães, cuja evolução no sentido político se tinha acentuado. (...) Os alarmes que chegavam ao chefe do Estado vinham em maior grau do jornalista Luís Lupi e, também, do almirante Henrique Tenreiro, mas, além desses, chegavam-lhe também doutras fontes, sobretudo os oriundos do general Kaúlza de Arriaga e do professor Soares Martinez. Acontecia, porém, que os governantes mais responsáveis pela política e pela defesa da ordem e da Nação lhe afirmavam que o que mais temiam era um golpe da direita e não da esquerda! E encabeçavam esse golpe (...) na pessoa do general Kaúlza de Arriaga e de alguns outros oficiais generais seus amigos, entre os quais o general Luz Cunha, seu cunhado (...)"

http://ideiasemescabeche.blogspot.com


CONTRIBUTOS PARA A REVOLUÇÃO

A Administração das colónias custava a Portugal um aumento percentual anual no seu orçamento e tal contribuiu para o empobrecimento da Economia Portuguesa, pois o dinheiro era desviado de investimentos infraestruturais na metrópole. Até 1960 o país continuou relativamente frágil em termos económicos, o que estimulou a emigração para países em rápido crescimento e de escassa mão-de-obra da Europa Ocidental, como França ou Alemanha principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Para muitos o Governo português estava envelhecido, sem resposta aparente para um mundo em grande mudança cultural e intelectual.



A guerra colonial gerou conflitos entre a sociedade civil e militar, tudo isto ao mesmo tempo que a fraca economia portuguesa gerava uma forte emigração. Em Fevereiro de 1974, Marcelo Caetano é forçado pela velha guarda do regime a destituir o general António Spínola e os seus apoiantes, quando tentava modificar o curso da política colonial portuguesa, que se revelava demasiado dispendiosa para o país. Nesse momento, em que são reveladas as divisões existentes no seio da elite do regime, o MFA, movimento secreto, decide levar adiante um golpe de estado. O movimento nasce secretamente em 1973 da conspiração de alguns oficiais do exército, numa primeira fase unicamente preocupados com questões de carreira militar.

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PREPARAÇÃO

A primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de Agosto de 1973. Uma nova reunião, em 9 de Setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) dá origem ao Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de Março de 1974 é aprovado o primeiro documento do movimento: "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação". Este documento é posto a circular clandestinamente. No dia 14 de Março o governo demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, alegadamente, por estes se terem recusado a participar numa cerimónia de apoio ao regime. No entanto, a verdadeira causa da expulsão dos dois Generais foi o facto do primeiro ter escrito, com a cobertura do segundo, um livro, "Portugal e o Futuro", no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.

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MOVIMENTAÇÕES

No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Às 22h 55m é transmitida a canção ”E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.

O segundo sinal foi dado às 0h20 m, quando foi transmitida a canção ”Grândola Vila Morena“, de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.

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ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA

À Escola Prática de Cavalaria, que partiu de Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática de Cavalaria eram comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcello Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcello Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.

A revolução resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política (PIDE) dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

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CAPITÃO SALGUEIRO MAIA

Militar de méritos reconhecidos, dotado de uma inteligência superior e de uma coragem e lealdade invulgares, dele se diz "ter sido o melhor de entre os melhores dos corajosos e generosos Militares de Abril". Natural de Castelo de Vide, fez os estudos secundários no Colégio Nun' Álvares, em Tomar e no Liceu Nacional de Leiria. Entrou para a Academia em 1964 e em 1966 ingressou na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Combateu na Guiné e em Moçambique, já com a patente de capitão. Foi um dos elementos activos do MFA. No dia 25 de Abril de1974, comandou a coluna militar que saiu da EPC de Santarém e marchou sobre Lisboa, ocupando o Terreiro do Paço. Horas mais tarde comanda o cerco ao Quartel do Carmo que termina com a rendição de Marcelo Caetano. Foi membro activo da Assembleia do MFA, durante os governos provisórios, mas não aceitou qualquer cargo político no pós 25 de Abril. Faleceu em Santarém, a 3 de Abril de 1992, vítima de cancro.
Salgueiro Maia, representa para mim, o militar do povo que serve o povo, e que como tal coloca acima de todos os interesses políticos e económicos a defesa da democracia e da liberdade. Salgueiro Maia comanda no terreno a coluna militar que tinha uma das missões mais importantes da revolução portuguesa que se operou no dia 25 de Abril de 1974, tinha a missão de ocupar o Terreiro do Paço, onde se situavam a maioria dos ministérios e varias direcções militares. Tinha ainda que conseguir a rendição da GNR no Quartel do Carmo, assim como a demissão e rendição do presidente do conselho de ministros Dr. Marcelo Caetano, que entretanto se viria a refugiar no referido quartel.


Eu estava lá, junto daqueles militares, junto daquele povo sedento de liberdade que enchia o Largo do Carmo apoiando os militares, exigindo a queda do governo e dando vivas à liberdade. Aqueles homens, comandados por um Capitão que de megafone em punho exigia a rendição de Marcelo Caetano e das forças da Guarda Nacional Republicana que o protegiam, eram a nossa esperança. Já mais me poderei esquecer quando o Capitão Salgueiro Maia deu ordem para abrir fogo, várias rajadas de armas automáticas foram disparadas, fazendo com que todos nós nos lançasse-mos para o chão e rastejando procurasse-mos abrigo. No entanto a expressão que cada um de nós tinha estampada no rosto, não era de medo mas sim de alegria, compreendemos que a determinação daquele Capitão e dos homens que comandava, faria com que a revolução triunfasse. Estas imagens ficaram gravadas na minha memória para sempre. Como aconteceu com muitos outros militares de Abril, homens que pela sua integridade e frontalidade eram incómodos, a hierarquia militar acabou por afastar o Capitão Salgueiro Maia do Continente e das suas tropas. Foi colocado nos Açores, de onde regressou em 1979, para comandar o Presídio Militar de Santa Margarida. Por fim, em 1984 regressou à sua unidade EPC. Faleceu em 4 de Abril de 1992. Está sepultado em Castelo de Vide, no talhão dos combatentes.
Logo após o 25 de Abril, o então largo Oliveira Salazar em Castelo de Vide passou a ser designado por Largo Capitão Maia.
***** Somos Livres! Muito obrigado Capitão Salgueiro Maia! *****

António Lemos / http://marevolto.blogs.sapo.pt/5467.html


OS CRAVOS

O cravo tornou-se o símbolo da Revolução de Abril de 1974; Com o amanhecer as pessoas começaram a juntar-se nas ruas, solidários com os soldados revoltosos; alguém (existem várias versões, sobre quem terá sido, mas uma delas é que uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi vista por um soldado que pôs um cravo na espingarda, e em seguida todos o fizeram), começou a distribuir cravos vermelhos para os soldados, que depressa os colocaram nos canos das espingardas.

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“25 de Abril sempre!”

António Inglês


16 comentários:

Isamar disse...

Meu Querido Amigo, Tó:

Até me pareceu estar a trabalhar enquanto lia o teu post. É que os últimos dias têm sido de grande azáfama a preparar mais uma comemoração desta revolução que veio pôr fim a quarenta e oito anos de ditadura. Começou a 28 de Maio de 1926 e só terminou em 25 de Abril de 1974.Longo período de opressão que jamais será esquecido por quem o viveu. Nós, os mais velhos, temos grande responsabilidade na transmissão dos valores da democracia aos nossos filhos e netos para que o país não caia num regime autoritário que retirará ao cidadão as liberdades, direitos e garantias que lhe pertencem. Acabei de ler estes textos há pouco mais de duas horas e tudo isto foi discutido num amplo debate. Chegar aqui e ver o post deu-me realmente a sensação de estar no outro lado. Também tive o prazer de viver este momento ao vivo e de observar Salgueiro Maia, o meu símbolo do militar íntegro de Abril. Saído do povo devolveu ao povo a Liberdade a que este tinha direito. Sempre que leio algo sobre Fernando Salgueiro Maia, as lágrimas correm-me e ainda o vejo de megafone em punho a comunicar com a GNR do Carmo.
Obrigada, meu querido amigo! Acabaste de dar-me um dos mais bonitos momentos da net.Muito obrigada , Tó!

Hoje, deixo-te milhões de beijinhos e um abraço apertadoooo.

Filoxera disse...

Aqui está mais uma pesquisa rica.
De um tema que devemos não só recordar, mas honrar.
Obrigada!
Beijinhos.

Maria disse...

Ler este post é reviver tudo, minuto a minuto...
... e choramingar que nem uma Madalena...
Abril tão perto e tão distante...

Obrigada, António
Beijinhos

Maria Faia disse...

Um beijo Amigo de Liberdade para si.

Maria Faia

Anónimo disse...

António por isso temos bloges e expressamos livremente as nossas opiniões.
Só quem não conheceu o antes, não valoriza o após......
Erros, claro que sim, mas
SOMOS LIVRES|!

Elvira Carvalho disse...

Bom post. Que não serve de recordação a quem como eu não viveu estes momentos. Na altura não estava na Metrópole(era assim que se dizia na época), mas sim em Angola e só no dealbar do dia 26 tivemos a confirmação do que se murmurava em surdina, desde manhã.
A rádio passou todo o dia música clássica, como costumava fazer na Sexta-feira Santa. Talvez um dia escreva sobre essa época vivida longe.
Um abraço e até amanhã

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Amigo António, belíssimo texto, com um exautivo trabalho de pesquisa... Meu querido, tudo parece que aconteceu ontem, mas os anos passaram ... Beijinhos de carinho,
Fernandinha

Branca disse...

Boa noite mano António,
O que eu demorei a chegar a tua casa hoje!
Estava já por aqui ao princípio da noite e de repente entre correio, msn com o filho e uma amiga e mais o que me perdi na surpresa da nossa Elvira, etc,etc, fez tudo isso com que começasse a noite contigo e acabasse também contigo agora(para quem me lê, nada de más interpretações!).Eh!eh!eh! Hoje estou muito engraçadinha,é que vim agora da festa da mana Elvira, e que festa!!!
Abril, António, nem tenho mais palavras para dizer o que representou a noite de 24 para 25 de Abril para a nossa geração! Já tanto foi dito ao longo destes anos, tanto vivemos e nos entusiasmamos com a liberadde conquistada, nós que soubemos o que foi a falta dela! Nós que sofremos com a Guerra Colonial, mais os que foram fazê-la, mas também os que cá ficaram.
Foi bom reviver tudo neste post, mas será sobretudo bom que nos mantenhamos alerta mais que nunca para o que vamos progressivamente perdendo.
É preciso manter acesa a chama de Abril!
Beijinhos

António Inglês disse...

ISABEL:

Como imaginas, vivi estes acontecimentos bem no meio deles, até porque trabalhava na altura na Baixa lisboeta e ninguém me avisou do que se passava. Por isso, quando cheguei à porta do serviço, um companheiro diz-me simplesmente: Vai para casa que está a acontecer uma revolução e hoje não se trabalha. Pira-te que andar aqui vai ser perigoso.
Pois é mas eu não segui o seu conselho e andei pela baixa, estive na Rua do Alecrim quando as tropas se dirigiram para a António Maria Cardoso, e depois fui para o Carmo.
Naquele dia, bastava alguém dizer que era para ali e lá íamos todos atrás, sem medo. O que nós queríamos ver era o derrube do REGIME da Velha Senhora.
Beijinhos, muitos
António

António Inglês disse...

FILOXERA

Este tema toca-me particularmente e não devemos esquecer. Infelizmente, hoje as nossas crianças não sabem o que foi o 25 de Abril.
Beijinhos
António

António Inglês disse...

MARIA

Também eu fui revivendo os acontecimentos por cada palavra que escrevi. E bem que os vivi por dentro.
Beijinhos
António

António Inglês disse...

MARIA FAIA

Um grande beijinho de Liberdade para si também.
António

António Inglês disse...

FATIMA

Sim minha amiga. Somos livres de dizer e de pensar. Nem tudo terá sido conseguído conforme todos queríamos e merecíamos mas acho que o importante foi atingido.
Um beijinho
António

António Inglês disse...

ELVIRA

Pois eu vivi estes acontecimentos bem no seu epicentro. Na baixa lisboeta e no que se seguiu.
É bom recordar, é bom não esquecer.
Um abraço
António

António Inglês disse...

FERNANDINHA

Tens razão, parece que foi ontem mas já lá vão 34 anos minha amiga.
Como o tempo passa...
Um beijinho
António

António Inglês disse...

BRANCA MANA AMIGA

Que a chama nunca se apague e saibamos contar aos nossos filhos o que significou o 25 de Abril para todos nós.
Sei que nem tudo correu da melhor forma, mas no essencial creio que atingimos o que se pretendia.
E é preciso não amolecer, é preciso estar alerta, sempre.
Um grande beijinho
António