sexta-feira, 13 de julho de 2007

O FORCADO PORTUGUÊS

Introdução

Neste país tudo se comemora, tudo se homenageia, tudo se condecora e são várias as personagens e actividades que muito justamente, na maioria dos casos, são delas alvo. Os forcados, esses bravos e destemidos rapazes portugueses que época após época vão deixando nas praças de touros de todo o mundo o retrato da coragem e valentia de uma tradição genuinamente portuguesa, à custa de muitas mazelas que com muita bravura vão suportando, a troco de nada, apenas da sua vontade de estar em praça, no coração da festa brava, de citar o toiro e consumar a pega. A paga vem no fim, na volta à arena, nos aplausos e na alegria de ter cumprido e ... esperar pela próxima.

É hora de, a todos estes bravos rapazes prestarmos a homenagem que lhes devemos há muito tempo, pois nunca foi feita, nem avaliada a verdadeira dimensão do forcado.

Aqui fica a minha singela homenagem ao FORCADO PORTUGUÊS, tendo-me socorrido de algumas fotos e textos encontrados em vários artigos sobre a matéria, pois é preciso perguntar a quem sabe, e disso não me envergonho.

O Forcado e suas origens

Os forcados são grupos amadores de vários homens que numa corrida de touros pegam o touro. Quando se executa uma pega, oito homens entram na arena, o primeiro é o forcado da cara; os outros sete ajudam-no a imobilizar o touro, havendo um (o rabejador) que segura no rabo do touro, para provocar o seu desiquilibrio e para quando os seus companheiros o largarem este não invista sobre eles.

Em 1836, no reinado de D. Maria II, foi decretado a proibição da morte dos toiros na arena, para remate da lide dos cavaleiros, passou-se a pegar o toiro.

Foi assim que no século XIX teve formalmente origem a existência dos forcados como conhecemos nos dias de hoje.

Descendem directamente dos antigos Monteiros da Choca, grupo de moços que, com os seus bastões terminando em forquilha ou forcados, defendiam na arena o acesso à escadaria do camarote do Rei, que com o decreto de D. Maria II passaram a ser eles a pegar o toiro, evoluindo o nome de Monteiros da Choca, para Moços de Forcado ou simplesmente Forcados.

A pega já se praticava sem galardões de espectáculo e a sua técnica seguramente já era conhecida mas como tudo sofreu algumas alterações até aos dias de hoje.

Depois da reunião do primeiro elemento com o touro, cabe aos ajudas a tarefa de imobilizar o touro para que a pega se considere realizada.

O rabejador é o responsável por rematar a pega.

A Pega

A pega, como já vimos, tem reminiscências bem antigas mas só após a década de 30, neste nosso século, e com a imposição do toiro puro, adquire valor estético e artístico que, convenhamos, antes e com toiros corridos não era possível. Da revolução do toureio a cavalo nasce, também, uma outra concepção da pega e um outro valor para o forcado. Existiram três formas de pegar toiros entre nós: de caras, de costas (modalidade já desaparecida) e de cernelha. Consoante as características demonstradas pelo toiro durante a lide, o cabo decidirá qual o forcado que executará a pega e qual a forma de a efectuar: de largo, em curto, com ajudas carregadas ou não, ou de cernelha.

O forcado da cara saltará à arena seguido dos outros sete elementos do Grupo terminada a lide do cavaleiro e após toque de cornetim para a sorte. Citará de largo se vir que o toiro tem uma investida larga e franca, ou em curto se o toiro se tiver revelado difícil durante a lide. Quando o toiro investir, deverá carregar a sorte, recuando o suficiente para se fechar entre os cornos, amortecendo a investida, trazendo o toiro toureado. Consoante se abrace ao pescoço do toiro ou em torno dos cornos, dir-se-á que pegou à barbela ou à córnea. Consumada a pega, e a um grito combinado, apenas o rabejador se manterá agarrado ao rabo do touro, permitindo que os seus colegas saiam em segurança da cara do toiro.

A pega de cernelha é efectuada, normalmente, quando não se pode pegar, por circunstâncias diversas, de caras. Seja porque o toiro tem uma cornamenta que permite que o forcado se fixe, ou porque foi muito manso e sem investida, ou porque o cabo decide que o toiro pode dar uma pega espectacular de cernelha, é sempre uma pega de grande dificuldade de execução. Arroupado o toiro pelos cabrestos, cernelheiro e rabejador deverão aproximar-se rapidamente por forma a surpreender o toiro, o primeiro fixando-se na zona da cernelha e o segundo agarrado ao rabo do toiro, tentarão imobilizá-lo, após o que a pega será dada por concretizada.

Nos dias que correm, e atendendo ao facto de que a generalidade dos toiros lidados investe pronto e de largo, humilhando bem na reunião e nem sempre derrotando com violência, algumas das pegas de caras efectuadas são de grande valor e enorme beleza. Mas, também, quando os toiros investem de forma descomposta, defendendo-se, derrotando com violência mal sentem o Forcado na cara, e o grupo consegue manter um bom nível de entreajuda e de coesão, então a emoção sobe ao rubro quando a investida do nobre bruto é dominada pelo Homem.

Mas nem sempre se podem, ou devem, efectuar pegas de caras de largo, deixando o toiro investir, dando-lhe terreno e aguentando a meia praça a sua investida para recuar e fechar-se-lhe na cara. O Forcado deve analisar o comportamento do toiro durante a lide e em função desse comportamento deverá ser realizada a pega. A pega será efectuada em curto, ou seja, diminuindo as distâncias entre o toiro e o forcado da cara, sempre que o toiro seja tardo de investida ou tenha tendência a refugiar-se em tábuas, para se defender. Nesta situação o Grupo tenderá a concentrar mais a sua atenção ao movimento dos segundos-ajudas, conhecidos por pontas-de-bola, os quais deverão segurar o forcado da cara e o primeiro ajuda na cabeça do toiro, sustendo a investida agarrando-se aos cornos.

Outra das modalidades que se praticam quando os toiros se defendem muito e quase sempre após algumas tentativas frustradas, é a da pega a sesgo, aproveitando o facto de ser mais fácil ao toiro investir ao correr das tábuas do que para diante, para o centro da arena. Esta modalidade é de recurso e aplica-se em última análise a toiros muito complicados. Acontece, por vezes, e partindo do princípio de que o toiro vai ter uma investida muito franca e clara, de largo, com imensa nobreza, e que o forcado da cara é um forcado de reconhecidos méritos e em bom momento de forma física e psicológica, que apenas esse forcado da cara se coloque no centro da arena para desafiar a investida do morlaco. Mal se feche na cara do toiro, os restantes sete elementos saltarão a trincheira para consumarem as ajudas e dar por concluída a pega.

Os Forcados são considerados, muito justamente, os últimos românticos da Festa e também têm contribuido para a divulgação desta modalidade genuinamente portuguesa além-fronteiras, sendo presença assídua em Espanha e França e com algumas incursões no México. Santarém, Montemor, Lisboa, Vila Franca, Évora, Tomar, Alcochete, Coruche, Moita, Terceira, Cascais entre muitas outras cidades e vilas aficionadas têm nos seus Grupos de Forcados Amadores verdadeiros embaixadores.

8 comentários:

Anónimo disse...

Querido Amigo,
Concordo plenamente contigo ao fazeres esta homenagem!
Os Forcados são homens mesmo valentes.
Gostei muito de ler o teu artigo, pois fiquei a saber coisas que desconhecia mesmo.
Viva a Festa Brava, a bela Corrida à Portuguesa!
Beijinhos

António Inglês disse...

Aramis

Pois é minha amiga, mais uma tradição à portuguesa.
É um tema controverso, mas eu sou apaixonado pela Festa Brava, pena que os bilhetes sejam caros para poder assistir a todas.
O "bichinho" dos toiros ficou cá dentro.
Ainda ontem vi na TVI um grande amigo que já não via há uns bons anos e que foi um cavaleiro tauromático de verdade, José João Zoio que prematuramente teve de abandonar os toiros por questões de saúde.
Grandes amigos, dos bons tempos gostava de voltar a ver. Alguns ainda vou encontrando, mas é a vida.
Um abraço e obrigado pela tua visita
José Gonçalves

aramis disse...

Novo artigo no blog aramis-cavalgada.
Espero a vossa visita!

António Inglês disse...

aramis

Lá irei como de costume e obrigado pela tua visita aqui ao meu escondidinho.
Beijinhos
José Gonçalves

Maria Faia disse...

Querido Amigo José Gonçalves,

Desta vez, não lhe posso seguir as pegadas...
Na verdade, o tema que escolheu e, pese embora o enorme respeito que tenho, quer pelos profissionais da tauromaquia, quer pelos seus aficcionados, não corresponde aos meus gostos pessoais.
Pela simples razão de que DETESTO ver espicaçar os animais em arena, para gáudio dos presentes. Chego mesmo a pensar que, se calhar, sou eu que não sou normal...
Mas, que quer? Não me dá mesmo nenhum prazer, pelo contrário, ver os animais sofre...

Um beijinho para si.

António Inglês disse...

Amiga Maria Faia

Nem tudo nos agrada neste mundo.
Eu talvez sofra a influência que tive de viver durante algum tempo bem no meio do Ribatejo e fiquei um aficionado dos toiros, que vivi de forma intensa. Coisas de juventude.
Não podemos ter todos os mesmos gostos e ainda bem. É por isso que o Mundo não tomba...
Também eu respeito quem não gosta de touradas e aliás disso dou conta na postagem, pois que considero realmente o tema controverso e polémico.
Também não serei eu a convencê-la a gostar de toiros porque se o tentasse, ficaríamos certamente muitas horas a discutir o assunto.
Mas mesmo sabendo que não gosta aqui lhe deixo o meu obrigado por ter visitado este cantinho onde já se notava a sua falta.
Um abraço
José Gonçalves

Ernesto Feliciano disse...

Amigo José,

Sou um aficionado da festa brava, em especial do toureio a cavalo e dos grupos de forcados.

Com um espírito de grupo fortíssimo revelam a coragem de ultrapassar obstáculos difíceis. Nem após ter corrido menos bem algumas tentativas, e mesmo após alguns traumatismos desistem, e avançam para nova tentativa.

Bem hajam.

Um abraço.

António Inglês disse...

Amigo Ernesto

Talvez durante os anos que passei ligado aos toiros me tenha transmitido esse espírito de não virar a cara à luta. Quem me conhece bem sabe que sou assim, daí ir arranjando muitos "amigos" ao longo da vida.
O problema está nas "ajudas" que nem sempre lá estão.
Mas é a lei da vida e essa nós temos mesmo de a pegar pelos cornos. Não acha?
Ainda não me esqueci da combinação de irmos ao Campo Pequeno... será em breve.
Um abraço
José Gonçalves