sábado, 6 de setembro de 2008

AINDA SINTO UM NÓ BEM CÁ DENTRO DO PEITO!









Propositadamente deixei para depois uma referência especial à participação de Afife nas festas de Viana, porque são aqueles trajes, aqueles olhares, aquela beleza tão característica das mulheres minhotas, para mim em particular das mulheres de Afife, que me fazem ficar sempre a sonhar.

Pedro Homem de Mello, sempre cantou as suas belezas, e ainda hoje os poetas de Afife, lhe continuam a cantar loas. Nem seria preciso, que a terra canta ela própria a sua melodia que nos envolve e nos agarra de tal maneira que dificilmente a poderemos esquecer.


“Tudo aquilo que, até hoje, escrevi ou mostrei, resultou, apenas do que sentiram durante meio século, os meus olhos, os meus ouvidos, os meus pés (e o mesmo será dizer o meu corpo e a minha alma), de bailador” (in Mello, palavras de abertura “Folclore” – Cabanas, 1970)


Foi pois de forma muito digna e distinta que Afife se fez representar no cortejo etnográfico das Festas da Senhora d’Agonia, e eu cumpri mais uma vez com a minha devoção de “eterno apaixonado” de tudo o que se relaciona com a terra de minha Mãe. Foram os trajes, os “triquelitraques” e a beleza Afifense que desfilou e deixou no ar um aroma suave e agradável em todos que assistiam à sua passagem. É sempre bom rever-te minha Afife.













Não é fácil pois a qualquer passante, ficar indiferente à cativante beleza que a freguesia nos oferece, estejamos nós no ponto da aldeia onde estivermos.

Mas, para quem como eu, percorreu na sua juventude aquelas ruas onde a laje era rainha, aqueles becos serpenteando por entre o casario branco e fino, mais difícil se torna a separação. Eu e Afife, temos uma relação amorosa que é vivida em silêncio e à distância que se vai vingando ano após ano quando a visito e lhe levo aqueles que amo igualmente e que também eles já aprenderam a estimá-la.










São alguns os trajes das mulheres de Afife, sete penso eu, e cada um com uma função especifica.


O traje de luxo ou de domingar, de vermelho vivo e lenço amarelo, num contraste fabuloso que sendo de entre todos o mais simples é aquele que na minha modesta opinião mais realçe e beleza tem;


O traje de sargaçeira ou fato do mar, que as mulheres usavam na apanha do sargaço, ou argaço como era chamado em tempos. Saia de "estopa" (linho grosso) de cor branca com "forro de riscado", estreito, aos quadrados azuis e brancos. Colete de pano cuja barra é preta e corpo de "riscado" florido, sem enfeites. Camisa de linho branco sem bordados e bastante decotada. Lenço de peito "franjado" de campo vermelho com ramagens e quadrados. Calçam "alpergatas", acalcanhadas, e sem meias. Este calçado grosseiro de lona, assente sobre corda ou borracha, tem também ps nomes de Alpargata, Alparca e Alparcata. Usam chapéu de palha de aba larga e sobre este uma trouxa de roupa para vestir depois da apanha do sargaço (função). Ao ombro trasportam o redenho (rede para colher sargaço);


O traje de lavradeira, usado nas festas e romarias da terra. Saia de lã, de fundo vermelho com listas vermelhas e filetes pretos e brancos, barra azul escuro. Avental vermelho, com listas pretas divididas a meio no sentido transversal. Camisa branca pouco bordada ou lisa podendo levar rendas na gola e punhos. Colete vermelho, com barra de veludo preto. Lenço na cabeça amarelo vivo, franjado e no peito, meio lenço de cor laranja. Meias brancas e chinelas pretas;


O traje da erva, um traje usado no trabalho. Saia "branquinha" com "forro de riscado" aos quadrados brancos e pretos. O corpo de saia é branco com listas verticais de diferentes larguras de cor preta. Avental de cor vermelha com listas verticais de diferentes larguras de cor preta, tendo a meio barra "de topes" de lã vermelha e rematada por fita "encanudada", da mesma cor. Camisa de linho branco, sem bordados e bastante decotada. Colete com barra de pano grosso preto e corpo de "riscado florido". Algibeira em "riscado" florido, rematada e debruada a fita de lã nos bordados de lã. Este lenço designa-se por "lenço garôto". Usam meio lenço de peito de campo amarelo sem "franjas" e calçam socos pretos sem meias;


O traje de ir ao monte ou de ir ao mato, que é também um traje de trabalho. Saia "avergastada" em vermelho, preto e branco, com "forro" de "riscado" aos quadrados nas duas últimas cores. Avental de cor vermelha com listas pretas verticais de diferentes larguras, tendo a meio barra de "topes" de lã vermelha e rematado por fita "encanudada", da mesma cor. Casaco de tecido grosseiro "faldrilha" (mistura de lã e algodão) cintado e debruado a pano de "riscado". Lenço de cabeça de campo vermelho aos quadrados, e no peito meio lenço de campo amarelo. Chapéu de palha de aba larga e botas de cano alto em couro e sola de madeira. Compõem ainda este fato, o foicinho, a luva em "faldrilha" e a cesta de arco onde é transportada a "merenda" e a respectiva cabaça do vinho;


O traje de trabalho do homem, usado na lavoura. Calça de "faldrilha" (mistura de lã e algodão), camisa de linho grosseiro branco, sem bordados e de "cabeção". Chapéu de palha ou carapuço de lã preta; faixa de baetilha preta, sem pontas (peça que nem todos os homens usavam); socos ou "chancas", para o campo, de cabedal e sola de madeira; meias grosseiras de "lã de ovelha". Por vezes e para se abrigarem do frio e chuva utilizavam sobre este traje a "caroça";


E o traje de Dó lavradeira, usado para as festas e romarias. Neste traje de festa predominam as cores escuras como sinal de luto. Saia de fundo preto com barra azul escuro e na roda, listas brancas e azuis. Avental de fundo preto com listas verticais; colete azul com barra preta; camisa branca; lenço franjado cor de pinhão, e meio lenço no peito. Meias brancas e chinelas pretas.

Naturalmente que outras terras terão os seus trajes, mas desconheço se alguma terá uma diversidade tão rica no trajar.

Aqui vos deixo as fotos dos diferentes trajes que obtive de alguém que os fez, mas de quem o meu ciúmento amigo “alemão” não me deixa lembrar o nome.

Um dia descobrirei através de família o nome da autora de tais lindíssimos e importantes “bonecos”.

Fiquem bem! Fiquem com Afife!


Texto da descrição dos trajes do espaço da Casa de Santa Ana

Fotos minhas

António Inglês

11 comentários:

Anónimo disse...

António boa tarde.
Não sei que dizer..... o Minho....é como eu costumo dizer, quem o visita, apaixona-se e volta sempre....!
Afife... Praia do Bico... tudo é tão bom!
Obrigada por mais este bocadinho.
Bom fim de semana

Elvira Carvalho disse...

Boa noite amigo. Caramba com um post destes até fico sem fala. Cada foto, mais linda que a anterior, e os trajes tão bem descritos. Fiquei encantada.
Tenha um Santo Domingo.
Um abraço

Elvira Carvalho disse...

Hoje vim só deixar um abraço e desejar uma boa semana

São disse...

Afife: até o nome é melodioso!
Interessante post o teu.E muito bem ilustrado, claro.
Bem hajas, Tonico.

Filoxera disse...

Boa reportagem!
E o amigo, como está? Parece-me desparecido...
Beijinhos.

Isamar disse...

O Minho é, sem dúvida, uma das mais bonitas regiões de Portugal. Consegue conciliar uma paisagem verdejante, esplendorosa, com o mar que eu tanto amo. Costumo dizer que o meu coração tem duas cores: o verde serrano e o azul marinho. Refugio-me neste canto serrano, onde dou comida aos melros e aos pequenos passarinhos,mas desço ao mar sempre que a saudade aperta. E quase não há dia em que isso não aconteça.
As minhotas têm uma beleza, natural, quase incomparável. É um prazer olhar estas moçoilas na Romaria da Senhora da Agonia. Quando lá voltar, estarei atenta às de Afife. E aos de Afife.
Deixo-te beijinhos e um abração

Sabel

Isamar disse...

O Minho é, sem dúvida, uma das mais bonitas regiões de Portugal. Consegue conciliar uma paisagem verdejante, esplendorosa, com o mar que eu tanto amo. Costumo dizer que o meu coração tem duas cores: o verde serrano e o azul marinho. Refugio-me neste canto serrano, onde dou comida aos melros e aos pequenos passarinhos,mas desço ao mar sempre que a saudade aperta. E quase não há dia em que isso não aconteça.
As minhotas têm uma beleza, natural, quase incomparável. É um prazer olhar estas moçoilas na Romaria da Senhora da Agonia. Quando lá voltar, estarei atenta às de Afife. E aos de Afife.
Deixo-te beijinhos e um abração

Sabel

Joaninha disse...

António,

Agora já estou cheia de saudades outra vez. A praia é linda a aldeia é linda, tudo aquilo é lindo...

Beijinhos.

Menina Marota disse...

Fizeste-me voltar a um tempo ido, as memórias soltam-se em lugares e momentos tão felizes! Durante alguns anos, pontualmente, fui a essas festas, carregadas de memórias das pessoas lindas que me acompanhavam ainda... e sinto um nó... de saudade, de ternura, das lágrimas que derramo ainda.

Grata por este momento. Por estas imagens maravilhosas.

Um abraço

gaivota disse...

oh meu amigo, que lindas fotos do nosso minho e das festas e trajes minhotos, que são lindíssimos e ricos!
é uma paz diferente em sintonia com as férias, mais campo verde, gentes e modos de vida inigualáveis
beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Amigo António,

estive no outro lado...lá para o sul!!!!
mas ao aqui chegar, e vendo todas estas fotos, vou ao meu baú e recordo fotos da Sra da Agonia a que me levaram bem petiza!!!!
Relembro também Braga, Tadim...locais de férias e que adoraria revisitar!!!!
assim a vida mo permita!!!!
Quanto a si, AMIGO ANTÒNIO, que todos os dias sejam de intensa felicidade nestas e em outras paragens que tanta beleza transmitem e "BRIGADOS" pela partilha!!!!
Bjkas!