domingo, 2 de dezembro de 2007

AS NOVAS REGRAS PARA MEDITAR

Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.

AS REGRAS, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta "produto não válido", mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados,
como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois.

Ass: Valdemar Rodrigues, Prof. Universitário (por enquanto... os saneamentos "democráticos" não hão-de tardar aí).

Do : http://alcobacagentesefrentes.blogspot.com/
José Gonçalves

19 comentários:

avelaneiraflorida disse...

AMIGO José Gonçalves,

Só me ocorre uma frase de um poema:
"PROIBIDO...Proibir!"

De repente passamos todos a ser assépticos???????

Na minha casa, mando eu! Cumpro as regras de higiene que sempre foram cumpridas!
Também me querem colar um selo na testa...com prazo de validade????

UM BOM RESTO DE DOMINGO!!!!
Bjks, Amigo!!!!

aramis disse...

Meu querido Amigo,
E se eles fossem todos para o "caraças" com estes "Nãos" todos, na maioria perfeitamente despropositados?
E esta "gajada" a perder tempo com toda esta legislação em vez de tratar de assuntos mais importantes e que estão de rastos no nosso País?
Não ha pachorra....
Faço ideia os nervos que tiveste ao elaborar este post! Penso que te conheço um bocadinho...
Muitos beijinhos e bom domingo para o meu querido "trio"!

amigona avó e a neta princesa disse...

Ai Zé que um dia destes proibem-nos a nós!!!

Não sei que te diga...tenho uma Instituição de idosos e sei que um dia destes - é dia!!!As exigências são muitas,algumas MUITO estúpidas! beijo amigo...

São disse...

AH!AH!AH!
O que vale é que em Prtugal nada se cumpre...
Agora a sério, esta estupidez é a nova Inquisição?!
Abraços.

Elvira Carvalho disse...

Ainda há dias ouvi um médico dizer na TV, que hoje em dia os pais não deixam os filhos brincar na areia, ou na relva, que tudo é esterilizado e que por isso as crianças não teem anticorpos que as protejam, adoecem mais, e é mais difícil a cura. Dizia ele que precisamos estar em contacto com certos germes para termos anticorpos que nos protejam.
Ora a julgar pelas novas leis, não sei não. Como eu não gosto de bebidas em plástico certamente nunca mais me apanham numa esplanada. Por acaso esta aí uma coisa engraçada. Vamos pagar os sacos plásticos porque o plástico é um agente altamente poluidor do ambiente,. E vamos beber o café num copo de plástico de usar e deitar fora...
Um abraço e uma boa semana.
Ah! Se quiser dar uma voltinha pelo seu Minho dê um salto até ao "Coisas Minhas"

Isamar disse...

Li o teu post e até reli. Não posso crer no que nos vai acontecer a todos nós. Tão higiénicos, tão higiénicos, tão higiénicos que se não morrermos da doença, morremos da cura. Mas isto tem lá ponta por onde se lhe pegue? Que haja medidas, todos nós sabemos que fazem falta, mas isto é matar o comércio tradicional e à força enfiam-nos aquela comida senaborona feita de plástico. Deus me valha. É que se não prevalecer o bom senso isto não vai ter graça nenhuma. E já a vai perdendo! Ai Zé, que será da minha comida serrana, do pão caseiro, do vinho da pipa a correr, do meus bolinhos de amêndoa caseirinhos comprados lá na mercearia da vizinha ... olha se me ponho a desfiar ainda fico pior do que já estou.Não quero sofrer tanto. Vai uma ginjinha de Óbidos? Ou essa também vai acabar como eu a conheço? E os doces conventuais de Alcobaça e por aí fora?
Valha-nos Deus! Vou à janta que estou quase a ter um ataque de fúria.

Beijinhosssss

*Um Momento* disse...

Bem... para quem???

Bom post
(*)

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Vamos num lindo caminho vamos....
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Aramis

Por momentos pensei que tinhas feito uma visita pelo Alcobaça Gentes e Frentes, mas depois vi que não.
Saiu-te expontaneamente como a mim me apetecia fazer...
Vou gostar de encontrar estes "senhores" um dia destes...
Um beijinho
José Gonçalves

António Inglês disse...

Amigona avó

Mas nós já andamos proibidos há muito tempo, ainda não tinhas dado por isso?
Quanto à tua Instituição, força amiga que a causa é nobre.
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

São

Se não é parece ou vai a caminho...
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Elvira

Pois é não sei onde nos leva este excesso de zelo.
Tudo vai ficar sem o verdadeiro sabor que as coisas tinham quando eram feitas sem todos os zelos que lhes querem impor.
Já dei uma voltinha no meu Minho e adorei. Obrigado amiga, mas isso não se faz aos amigos...
Um abraço
José Gonçalves

António Inglês disse...

Olha Sophiamar

Eu irei continuar a procurar a comidinha feita onde ela melhor me souber e quero que estes senhores vão dar uma voltinha ao bilhar grande, como dizem por aí.
Quanto à Ginginha de Óbidos não terás problema. Indicar-te-ei onde a poderás encontrar sempre boa como de costume.
Quanto aos doces conventuais, quero dizer-te que a fiscalização já por cá andou este ano e pelo menos os licores andaram numa "fona".
Os doces, mais tradicionais que conventuais, se não se acautelam não terão muito futuro por este caminho.
Um grande beijinho.
José Gonçalves

António Inglês disse...

Um momento

Para quem o devia fazer e não o faz....
Um abraço
José Gonçalves

Joaninha disse...

Só ficou a faltar uma coisinha na conclusão.

-Para encher os bolsos do filho do ministro que é dono de uma empresa que fabrica facas e que tem um amigo que é dono de uma empresa que fabrica bancadas e que tem um tio que é dono de uma empresa que fabrica tabuas de cozinha em plastico e que tem um irmão que fabrica copos de plastico, numa fabrica sem qualquer controlo de poluição mas isso agora não interessa nada. E para encher os bolsos do senhor dono da fabrica de congelados que apoiou a acampanha do dito ministro.

As regras de higiene e segurança alimentar eram suposto servir para garantir ao consumidor que o produto pelo qual esta a pagar oferece segurança e qualidade. Mas foram habilmente tranformadas pelos politicos em leis impossiveis de cumprir com o unico proposito de encher os bolsos de uns e outros.

António Inglês disse...

Joaninha minha amiga

A grande verdade que nos traz é a realidade dos dias de hoje.
Nada é feito sem que por detrás não esteja algum interesse escondido.
E cada dia que passa os pobres estão mais pobres e "eles" mais ricos.
Empregos? Pois sim, só com "cunhas", mais do que no tempo da "outra senhora".
Liberdade? Democracia? Igualdade? que é isso?
Eu até nem quero ser igual a "eles" apenas quero igualdade nas acessibilidades, nas oportunidades da vida. Só isso.
Estas medidas minha cara, não sei o que nos trarão de novo, mas de uma coisa tenho a certeza, não nos trarão melhorias de vida.
Então plástico não é poluente?
Andam a matar o pequeno comércio, o pequeno investidor e vão acabar com muitas famílias que outro sustento não teriam senão o de venderem alguns produtos que eles próprios produzem.
Eu reconheço que são precisas regras, mas desta maneira um dia deste teremos todos de andar nas ruas de "escafandro".
Quero deixar-lhe uma última mensagem. Por não ter adicionado o seu blogue nas minhas visitas, coisa que farei de imediato, só agora o inclui no grupo de amigos a quem dedico este meu prémio. Por isso fará o favor de o levar consigo com muito gosto e se assim o entender.
Um abraço
José Gonçalves

Belisa disse...

Querido amigo

Depois de uma história que nos faz sonhar...pai natal...natal..ajudar....etc...tem que haver qualquer coisa que nos tire do sonho...tantas proibições...tantas outras coisas...dão efectivamente que pensar!
Mas como... "p´ra frente é o caminho"
muitos beijos estrelados

António Inglês disse...

Belisa

Proibições é tudo o que certos governantes sabem por cá fora.
Nós queríamos era soluções, essas é que não encontramos.
Deixo um beijinho de boa noite.
José Gonçalves

Joaninha disse...

José,

Muito lhe agradeco tão honroso prémio!!

Meu, em relação ao post, ficamos assim, desde que não nos tirem as bolas de berlim de vila praia de ancora, menos mal ;)
Agora se me tocam no meu pecado da gula, no único que cometo durante o ano, salta-me a tampa e largo uma bomba nas instalações da ASAE :))))
Mal por mal a legislação é impossivel de cumprir e mais tarde ou mais cedo cairá por terra.