O “conceito” de “velhice”.
Desde o nascimento, a vida desenvolve-se de tal forma, que a idade cronológica passa a definir-se pelo tempo que avança. E o tempo fica definido como uma sinonímia para uma eternidade quantificada, ou seja, uma cota. Desta forma, o homem e o tempo influenciam-se mutuamente, produzindo profundas mudanças nas subjectividades e diferentes representações que lhe permitem lidar com a questão temporal (Goldfarb, 1998).
As limitações corporais e a consciência da temporalidade passam a ser problemáticas fundamentais no processo do envelhecimento humano, e aparecem de forma reiterada no discurso dos idosos, embora possam adquirir diferentes nuançes e intensidades dependendo da sua situação social e da própria estrutura psíquica (Goldfarb, 1998). Corpo e tempo se entre cruzam no devir do envelhecimento, e como consequência disso, nascerão as diversas velhices e suas consequentes múltiplas representações. Entretanto, se cada pessoa tem a sua velhice singular, as velhices passam a ser incontáveis e a definição do próprio termo torna-se um impasse. Afinal, uma pessoa é tão velha, tendo como referencial algum tipo de declínio orgânico, ou são as maneiras pelas quais as outras pessoas passam a encara-las , que as confinam num reduto denominado Terceira Idade? E quando uma pessoa se torna velha? Há uma idade ou um intervalo específico para a Terceira Idade? Não precisa ir muito longe para constatar que o que se percebe, então, é a impossibilidade de se estabelecer uma definição ampla e aceitável em relação ao envelhecimento (Veras, 1994). Percebe-se actualmente que nossos referenciais sobre a terceira idade e tudo o que se supunha saber são insuficientes para definir o que se concebe actualmente como terceira idade.
Poder-se-ia talvez arriscar uma definição em termos psicológicos, recorrendo-se a parâmetros como o enrijecimento do pensamento, perdas cognitivas, certo grau de regressão e tendências depressivas. Todavia, todas estas características reunidas não dão contas de abarcar todas as inúmeras velhices e também estão presentificadas no cotidiano de muitas outras pessoas que não compartilham da considerada terceira idade.
Actualmente, considera-se a existência de uma “Quarta Idade” que englobaria pessoas com 80 anos. De acordo com algumas estimativas, esta faixa etária alcançará uma representatividade considerável cerca de 4,5 milhões pessoas em até 2020. Consoante Cançado (1996), o aumento do número de idosos também tem sido acompanhado por um acréscimo significativo nos anos de vida da população brasileira. A esperança de vida, que era em torno de 33,7 anos em 1950/1955, passou para 50,99 em 1990, chegou até 66,25 em 1995 e deverá alcançar 77,08 em 2020/2025. O dado mais preocupante é que este tempo de vida não é alcançado de forma satisfatória e sem graves problemas; ao contrário, estes seres humanos, passam a ser indevidamente marginalizados e apresentam um quadro de carência emocional exacerbada (Simões, 1998).
Das diversas formas de categorização – sociais, culturais, psicológicas que tentam definir os limites entre as idades, nenhuma delas é capaz de descrever o experienciar da velhice, tornando-se vagas arbitrárias generalizações (Dourado e Leibing, 2002). Portanto, os diversos autores não são concordes ao discorrerem a respeito do conceito de velhice.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o envelhecimento em quatro estágios:
· Meia-idade:
· Idoso(a):
· Ancião
· Velhice extrema: 90 anos em diante.
E ainda bem que, personalidades, intelectuais, políticos, artistas, com mais de 60 anos, aparecem na mídia, contradizendo arcaicos estereótipos ao demonstrarem inteligência, versatilidade, perspicácia, audácia, boa forma, bom humor, dentre outras características, mostrando que também na velhice podem ser produtivos. E, isso acaba por transformar também o idoso comum. Ele vai se sentir estimulado a também procurar aperfeiçoar suas relações interpessoais.
Alguns ainda preferem direccionar suas vidas para a religiosidade, a contemplação, fazer trabalhos humanitários e sociais, investindo na vida de uma outra forma e sentem-se felizes em agir assim. Percebe-se, então, que há várias formas para se viver depois dos idos sessenta anos e não poucos como se pode pensar. Em contrapartida, ainda para alguns, a velhice, tal qual a concebem, continuará a ser o reduto de orações diversificadas, que tentam compensar carências afectivas e doenças que sinalizam o fim iminente. Para estes restará o que o teatrólogo italiano Luigi Pirandello, no século XIX, certa vez disse: ‘così è se vi pare’, ou seja, ‘assim é se lhe parece’.
A característica principal da velhice é o declínio, geralmente físico, que leva as alterações sociais e psicológicas. Os teóricos classificam tal declínio de duas maneiras: a senescência e a senilidade.
A senescência é um fenómeno fisiológico e universal, arbitrariamente identificada pela idade cronológica, pode ser considerada um envelhecimento sadio, onde o declínio físico e mental é lento, e compensado, de certa forma, pelo organismo (Pikunas, 1979).
A realidade brasileira marginaliza as pessoas idosas. Isto não costuma ocorrer em outras culturas, como por exemplo, a cultura oriental que integra intensamente os idosos à vida social. Para estes, o velho não é sinónimo de senil e sim um sábio, transcendendo a conotação pejorativa dos brasileiros que, muitas vezes, não vêem a hora de internar seus idosos quando não os segregam dentro de suas próprias famílias. Deve-se repensar também que, em algumas situações, os idosos se excluem das actividades sociais alegando a idade como pretexto para se vitimizarem e se sentirem inúteis perante a sociedade. Isso gera uma exclusão na qual eles mesmos são os responsáveis directos. É necessário, pois, ao geronto saber que à medida que a idade avança não se deve proceder e/ou ceder aos mecanismos de afastamento do convívio com os semelhantes. A marginalização do idoso é realmente um problema cultural.
É bom lembrar também que com o passar da idade a inteligência pode ou não sofrer um decréscimo, diferindo da memória, cujo declínio é inevitável. Embora isto possa acontecer alguns autores (Gooldfarb, 1988; Simões, 1988) afirmam que a vontade de aprender é suficiente para que o aprendizado ocorra, da mesma maneira que para um adolescente de 12 anos a um senhor de 80 anos. Logicamente, as limitações causadas pelo envelhecimento, bem como as estratégias usadas para compensá-las são evidenciadas. Desta maneira, a aprendizagem na terceira idade é viável, porém é limitada especificamente pela velocidade que a nova tarefa é apresentada, uma vez que o idoso retém menos informações após uma primeira apresentação.
É importante destacar que a velhice não é um processo único, mas a soma de vários outros, distintos, entre si. Portanto, uma outra possível explicação para tal dificuldade em se categorizar a velhice consiste no fato em que ela não é um estado, mas um constante e sempre inacabado processo de subjectivarão. Portanto, pode-se dizer que na maior parte do tempo não existe um “ser velho”, mas um “ser envelhecendo”.
Amor e sexualidade na terceira idade
Paralelamente à dificuldade que se tem para o conceito da velhice, tem-se, também, a problemática da aceitação das práticas amorosas e manifestações sexuais em pessoas que se encontram em idade avançada. Alguns dizem que a vida realmente começa a partir dos 40 anos. Contudo, será que há um outro limite, que não a morte, para ela terminar?
Dessa forma, muitas vezes, a sociedade contribui para que o idoso tenha esta percepção de menos valia porque as pessoas de mais idade sempre foram imaginadas como aquelas que estão se despedindo da vida. Deduz-se, então, incorrectamente que, porque se aposentou do seu trabalho, de sua função, o idoso se aposentou da vida. Este preconceito acaba por privar os idosos de várias coisas como o amor, a sexualidade e o lazer.
E, se as atitudes preconceituosas da sociedade no qual estão inseridos os idosos tipificam as atitudes deles, então, não há nenhum outro lugar onde este preconceito é mais aparente do que na área da sexualidade (Starr, 1985). Um dos inúmeros exemplos que podemos citar dessa triste realidade é a expressão “viúva alegre”. Muitas vezes, as mulheres passam anos sob o jugo de um marido completamente intransigente e quando este é subtraído da vida estas passam a conhecer a vida por um novo prisma. Optimizando e usufruindo de situações que não tiveram oportunidades anteriormente, como por exemplo, com um novo parceiro que escolhem. Embora, algumas pessoas critiquem estas pessoas, elas nos mostram que a sexualidade faz parte da vida dos seres humanos e está presente em todas as fases do desenvolvimento do homem. Vai desde o nascimento até a morte. A função sexual continua por toda a vida mesmo na terceira idade.
O que se percebe, então, é que a escassez de informações sobre o processo de envelhecimento, assim como das mudanças na sexualidade em diferentes faixas etárias e especialmente na velhice, tem auxiliado a manutenção de preconceitos e, consequentemente, trouxeram muitas estagnações das actividades sexuais das pessoas com mais idade (Risman, 2005). Dessa forma, acredita-se que uma má compreensão da sexualidade na terceira idade leve a dificuldades desnecessárias de superação para os problemas de seus participantes, de forma que um esclarecimento acerca das informações distorcidas que se difundem em relação à sexualidade pode contribuir para a diminuição das crenças e tabus sobre um assunto tão cheio de preconceitos.
Com uma visão restrita, tanto em relação à sexualidade quanto à velhice a sociedade, frequentemente, classifica este período da vida como um período de assexualidade e até de androginia, ou seja, um período em que o indivíduo teria que assumir unicamente o papel de avó ou avô, cuidando de seus netos, fazendo tricô e vendo televisão (Risman, 2005). E a falsa crença de que a velhice é uma etapa assexuada influencia profundamente a auto-estima, autoconfiança, rendimento físico e social dos adultos mais velhos, além de contradizer a normalidade das sensações e a capacidade de amar do ser humano. Percebe-se que os meios de comunicação, a publicidade e os cânones de beleza impregnam a sociedade por super valorizarem a juventude, os corpos perfeitos e a atracão física como requisitos fundamentais para encontrar um parceiro e manter um relacionamento. Dessa forma, estes ditames muitas vezes servem para onerar as pessoas de mais idade para se equipararem e utilizarem os mais variados aparatos e instrumentais. Estes variam desde cremes e comprimidos até cirurgias protéticas e mutiladoras, aos quais muitos se submetem para tentar recuperar palidamente suas juventudes. Quando isso não acontece, sentem-se expostos, infelizes e deficientes. Infelizmente, a propagação de estereótipos erróneos de que as pessoas idosas não são atraentes fisicamente, não têm interesses por sexo ou são incapazes de sentir algum estímulo sexual, ainda são amplamente difundidos. E, assim, estes referenciais que lhes são passados tornam-se verdadeiros leitos de Procusto de uma vitalícia, e utópica fonte da juventude. O comportamento sexual é plurideterminado por princípios como cultura, religião, educação e esses valores influenciam intensamente o desenvolvimento sexual, determinando a maneira como iremos vivenciá-la e lidar com ela por toda a vida. Assim, a geração actual de idosos é fruto de uma educação muito severa. Os pais destes tinham por orientação sexual os conceitos e preconceitos repressores, herdados de uma outra geração mais repressora ainda, e para muitos, o exercício da sexualidade era algo sujo e pecaminoso. Pode-se dizer ainda que a sexualidade no idoso está relacionada a vários sentimentos: as alegrias, as culpas, as vergonhas, os preconceitos e as repressões de cada um. O sexo na terceira idade traz satisfação física, reafirma a identidade e demonstra o quanto cada pessoa pode ser valiosa para outra, estimulando sensações de aconchego, afeito, amor e carinho.
E, embora esteja em um constante crescimento os que acreditam na existência do amor e do sexo na terceira idade, ainda são poucos os que ainda acreditam que exista uma continuidade da sexualidade para as mulheres, ou mesmo, para os homens que passaram dos seus sessenta anos. Há pouco tempo isto era tabu. Pouco ou quase nada, se falava sobre o assunto sexualidade na velhice. Se por um lado, “os jovens há menos tempo” não param para pensar que o desejo não tem idade, por outro lado, alguns “jovens há mais tempo” tendem a imaginar que, com o passar dos anos, o coração tenha envelhecido de tal forma que chegam a perder a noção de como é o amar e que é tarde demais para fazê-lo. Há ainda aqueles que externam sua aversão ao tocar neste assunto, e sequer podem imaginar adultos, em idade avançada, ainda cultivando o amor e trocando afeitos mais íntimos
Muitos idosos não aceitam esse processo natural de envelhecimento e se sentem impotentes. Aqui há de se fazer uma relativização: se um jovem precisa de vários inter cursos sexuais para encontrar satisfação, o indivíduo de mais idade pode encontrar o “mesmo grau de satisfação” com um número bem menor destes. Há outras diferenças a serem arroladas, como por exemplo, no caso do homem idoso, a erecção ocorre, até o fim da vida, contudo, existe com o aumento da idade, uma maior necessidade de estímulos, para que ocorra a erecção.
É igualmente importante considerar que muitos idosos, em sua juventude, não tiveram oportunidade de receber educação sexual sadia. Sua educação pode ter sido repressiva, limitando a expressão natural da sexualidade, ou favorecendo um tipo de relação sexual empobrecida pela moral rígida. Actualmente, alguns privilegiados podem reformular seus erróneos paradigmas herdados em agremiações para pessoas com o mesmo perfil etário. Portanto, poucos são os idosos hoje, que precisam levar uma vida monótona e casta. Estes “grupos de terceira idade” promovem uma socialização aumentando, consideravelmente, para muitos de seus participantes os contratos sociais e permitindo uma dativa (re)construção de suas ideologias sexuais. Assim, convivem simultaneamente com a diferença e a semelhança dos componentes deste grupo de pessoas.
Há amor suficiente para todos à medida que comecemos a manifestá-lo em pensamentos, comportamentos e em sentimentos, e o mesmo se aplica para a sexualidade. Ela pode se manifestar em todas as idades e cada pessoa tem uma maneira própria de expressar sua sexualidade. Dessa forma, amor somente rejuvenesce e se torna presente no cotidiano daqueles que estão abertos para ele e para a vida. Para quem se fecha, incapaz de se transformar ou evoluir, resta apenas a solidão e o vazio.
Por último, deve-se evitar pensamentos saudosistas, que muitas vezes servem para estereotipar as pessoas de Terceira Idade e que paralisam suas acções e as possíveis e indispensáveis contribuições do idoso à sociedade. Isto acontece quando os dias da juventude são lembrados como um tesouro perdido, de tal forma que o idoso vive imerso numa vivência de juventude que se deseja eterna.
Texto: Monografias.com/Thiago de Almeida - Psicólogo
Fotos da Net
António Inglês
Querido amigo!
ResponderEliminarA sua paisagem está renovada... E já há posts novos por entre estes lindos montes e vales! Que bom!!! Fico feliz!
Beijinhos de Amor e Luz salpicados de Harmonia.