quarta-feira, 7 de maio de 2008

UM RAMINHO DE ESPIGA

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Quando era garoto, e lembro-me vagamente do assunto, no dia da espiga, meu pai levava a família até ao campo, bem nos arredores de Lisboa, para que pudesse-mos cumprir com a tradição de apanhar um raminho de espiga, pois dizia a minha mãe que dava sorte e trazia dinheiro para casa.

Destes passeios não me lembro muito bem, mas do raminho da espiga sempre lá por casa, disso lembro-me perfeitamente. Durante muito tempo (um ano) eram mantidos nalguns cantinhos da nossa casa, previamente escolhidos por minha mãe.

Honestamente também nunca vi nenhum dos referidos raminhos trazerem dinheiro para casa, isso foi coisa que o meu pai nunca deixou em mãos alheias, e se davam sorte ou não, foi coisa que nunca consegui apurar.

O certo é que meus pais não abdicavam disso, e chegado o dia lá íamos à procura da espiga fosse onde fosse.

Hoje curiosamente, esses campos outrora fora da cidade, onde íamos cumprir com o ritual, são já parte integrante do casario e dificilmente se vislumbra qualquer nesga de terreno sem construção. Um ou outro jardim, mal plantado e mal tratado, nada mais que isso.

A tradição ainda é o que era, digo eu, pelo menos no que ao raminho da espiga diz respeito, porque com a idade que tenho, sempre em minha casa ele apareceu e ao que sei, em casa de muitos amigos, eles têm o seu lugar, e por lá ficam durante um ano.

Da terra onde vivo, São Martinho do Porto, fazem parte os lugares de Serra dos Mangues, Venda Nova, Bom Jesus e Vale do Paraíso. A Vila tem várias festividades ao longo do ano que, não sendo muitas, todas se fazem bem no coração da freguesia, como as celebrações da Semana Santa por alturas da Páscoa, com cerimónias lindíssimas que vale a pena o leitor visitar, as Festas de Santo António, no mês de Junho, que sendo a principal festa da Vila, marca o inicio da época de Verão, as Festas de São Martinho, em Novembro que celebra o Santo que deu nome à terra, e por último a Festa da Espiga, por alturas da Quinta-Feira da Ascenção, e que é feita tradicionalmente em Vale do Paraíso, sendo também a única que foge ao local habitual das Festas.

Há quem defenda, que as tradições já não são o que eram, mas eu continuo com a minha, ainda existem muitas coisas onde a tradição se mantém. No caso desta última festa móvel, manda essa tradição que a população se encontre por aquele lugar de Vale do Paraíso, comendo o seu franguinho assado, que meus amigos, não vos sei explicar porquê, em poucos lugares mais, me sabe tão bem como ali. Este ano lá fomos duas vezes, com redobrado agrado, alimentar a tradição bem regada e em boa companhia.

É uma altura do ano que me agrada pela cor, porque anuncia a chegada do Verão e porque é tempo de um franguinho em Vale do Paraíso.

Este ano, a população local, esteve ainda mais motivada e mais sensibilizada para a Festa da Espiga pois teve ensejo de se mobilizar em torno de um movimento que levará à transformação da antiga Escola Primária, agora encerrada, numa Capela, pelo que ouvi, Capela da Ascenção, tendo como Padroeiro o Senhor da Ascenção, e que dá corpo a uma antiga aspiração destas gentes. Com a força e o querer das gentes locais, habituada ao trabalho rural de sol a sol, a tarefa será levada a bom porto e em breve se passará a ir à Missa à Capela da Ascenção em Vale do Paraíso, alimentando o espírito, pois nem só de pão vive o homem.

Como a época foi de espiga, e porque a minha amiga PAULA MONTEIRO do ARAMIS CAVALGADA, também vive nesta mesma linda Baía, entendeu ela, quem sabe inspirada nos festejos, oferecer-me este lindíssimo ramo de ESPIGA que acima deixei em foto. A todos quantos o quiserem levar, façam o favor de se servirem e guardem-no bem, pois como dizia minha saudosa Mãe, um raminho de espiga em casa, dá sorte.

Bem hajas minha querida amiga, e espero que tenhas cumprido também com a velha tradição.

António Inglês

16 comentários:

  1. Boa noite António.
    Na minha terra,(a nossa terra) no 1º de Maio, apanhavam-se giestas nos montes, e deixavam-se raminhos nas portas dos vizinhos.
    Só quando vim para Lisboa comecei a apanhar a espiga.
    A minha deste ano também está à disposição.
    Guarde um bocadinho
    Abraço

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  2. António, Amigo Querido

    Passei para te deixar um beijinho e um grande abraço envolvido numa profunda amizade. Esta tradição, por aqui vai desaparecendo. como outras.

    Bem hajas!

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  3. Olá!

    Tenho andado ausente e sem dar qualquer sinal escrito, pelo que envio em primeiro lugar o meu pedido de desculpa.
    Não é assim que se tratam os amigos e como tal agradeço toda a atenção que me é dada.
    Mas confesso, que os meus amigos, estarão sempre no meu coração.
    Desejo muita saúde e felicidades sem fim.
    Aceito também um raminho de espiga!
    Obrigado!
    Até breve!
    Aqui envio muitos

    Beijos estrelados

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  4. No tempo em que era miúda iámos um grupo de alunas da Escola com um Professor apanhar a espiga. Lembro-me que era uma alegria, até porque significava que não tínhamos escola da parte da tarde...
    Agora a espiga vende-se por aí, nas ruas, a um euro... enfim, tempos novos...

    Beijinho, António

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  5. Olá querido Amigo António, estou a escrever-te e mesmo no canto da secretária, tenho um raminho de espiga, que não diverge muito desse que tens aí!...
    Nos Açores, também tinhamos esta tradição.
    Quando vim para Lisboa, há trinta e dois anos, eu e amigas da Universidade, apanhavamos o raminho completo, onde agora é o Centro Comercial Colombo...
    Como tu dizes, nessa altura ainda tinhamos alguns campos livres...
    Bons tempos!...
    Agora tenho que a comprar, mas todos os anos tenho sempre que fazer esse ritual e manter o raminho até o Ano seguinte...
    Eu pessoalmente gosto de manter dentro do possível as nossas tradições!...
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

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  6. Olá Amigo,

    Toda a sorte do mundo para si e para os seus.

    Um beijo amigo,

    Maria Faia

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  7. Meu querido amigo, mantenho as tradições sempre que posso! Elas trazem-me lembranças muito positivas....
    Acredita que mesmo com a falta de tempo com que ando, lá fui eu apanhar um raminho de espiga (de rabo para o ar aqui e acolá), para o trocar pelo que tenho sempre pendurado atrás da porta do quarto e que é mudado de ano para ano...
    Sorte? Quem não precisa dela?...
    Um grande abraço e um beijinho muito especial para o meu "trio maravilha",

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  8. Fátima

    Giesta é marcante na nossa terra. E as tradições espalham-se pelo país inteiro, cada uma referente aos hábitos e costumes de cada região.
    Por cá por baixo, a grande tradição desta altura é mesmo o raminho de espiga e fica durante um ano, só sendo substituído pelo ramo do ano seguinte.
    Tem aqui o meu que lho ofereço, faça o favor de se servir.
    Um abraço
    António

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  9. Isabel

    Obrigado minha amiga.
    Fica bem e leva contigo um pouco deste raminho para dar sorte.
    Beijinhos
    António

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  10. Belisa

    Não tem de me pedir desculpa de nada.
    Também eu ando muito arredado deste convívio e não o merecia fazer aos amigos que me dão a atenção que se calhar nem mereço.
    No entanto não me esqueço deles também e a Belisa está nesse grupo.
    Beijinhos e não se preocupe, volte quando puder e lhe apetecer
    António

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  11. Maria

    Na vida tudo muda, e não quer dizer que as mudanças sejam sempre as melhores...
    Também sou do teu tempo, ou melhor, sou ainda de um tempo bem mais remoto.
    Beijinhos
    António

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  12. Fernandinha

    Bons tempos minha amiga. Haviam campos à volta de Lisboa e hoje esses onde íamos apanhar os raminhos de espiga, são hoje plantações de cimento.
    Lembro-me de, aos fins de semana, os meus pais nos levarem a fazer um "pic-nic" na mata da Encarnação que na altura era nos arredores da cidade.
    Como isto andou tão depressa...
    Um beijinhos
    António

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  13. Maria Faia

    Para si também e já agora "para nós" que bem precisamos dela.
    Beijinhos
    António

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  14. Aramis

    Pois nós por cá, pela terra que nos acolheu, temos o privilégio de podermos ainda apanhar um raminho de espiga com alguma facilidade.
    A Lídia apanhou o do costume aqui bem perto de casa.
    Um beijinhos
    António

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  15. Tenho, na barra lateral do Escrito a Quente, uma fotografia de flores que tirei aqui mesmo junto à minha casa. Porque me recordaram esta tradição, que eu, nunca tendo vivido, acho um encanto.
    Há tradições que devem ser mantidas.
    Beijinhos.

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  16. Filoxera

    As tradições, os usos e costumes do nosso povo deveriam ser preservados mas parece que não existe assim tanta preocupação. Por isso algumas se vão perdendo.
    É o efeito do tempo.
    Beijinhos
    António

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