quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O BICHO

“Encontrei este poema de Manuel Bandeira num dos muitos passeios que costumo fazer pela Net.

Como ontem falámos todos muito de pobreza, e porque ao lê-lo me pareceu um quadro de muitas e muitas ruas do nosso País, resolvi partilhá-lo convosco”.

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Ora cá estou outra vez. E para ler um belo poema de Manuel Bandeira.
E tem razão é um retrato de muitos sítios deste país.
Um abraço

António Inglês disse...

Elvira
Minha amiga
De onde me apareceu você? Do céu?
Creia que me sinto deveras honrado com a amizade que me dedica.
Quero confidenciar-lhe uma coisa. Não fora a Elvira e já tinha encerrado os portões deste meu quintal.
Sem querer menosprezar todos aqueles que me visitam, tenho de lhe dedicar esta nota porque tem sido a sua constante presença que me tem feito vacilar.
Não é fácil encontrar-mos alguém assim e desde já lhe digo que aconteça o que acontecer terei muita pena se um dia deixar de ler os seus comentários.
Costumo dizer que na vida nós temos muitos conhecidos, mas poucos amigos. Por isso vai-me custar um dia se decidir baixar o pano.
Quanto ao poema, ao lê-lo quando o encontrei, pensei que estaria a ler uma crónica diária de um jornal qualquer de um qualquer sítio deste país.
Há uns 15 anos atrás, morava eu em Massamá, num 9º andar, todas as noites eu ouvia um barulho forte dos caixotes do lixo que se abriam com estrondo vezes sem conta. Haviam muitos caixotes. Daí não ter estranhado a quantidade de vezes que os caixotes abriam e fechavam.
Pensei sempre que seriam os homens da recolha do lixo.
Como os meus filhos me pediam um cãozinho há bastante tempo, resolvi presenteá-los com um pequeno Yorkshire.
Claro que a tarefa de vir de noite à rua para as necessidades do TOY,
(assim se chamava) cabia-me a mim.
Numa dessas noites, dei de caras com um espectáculo que me deixou de rastos. Mãe e filho, este já com os seus 12/13 anos, abriam e vasculhavam os caixotes com uma sofreguidão que não sei descrever...
Descobrir assim, que o barulho que ouvia do alto do meu 9º andar não era só dos homens da Câmara.
Isto repetiu-se vezes sem conta. Não os pude ajudar com comida, mas numa das noites que se seguiram ofereci-lhes umas camisolas e uns vestidos que já não usávamos há muito.
Durante não sei quantos dias que se seguiram, lá vinham eles com as roupitas que lhes tinha oferecido.
E quando comigo se cruzavam, sempre me diziam: boa noite Sr. Doutor.
Logo a mim que não sou Doutor. E bem lhes disse, mas de cada vez que nos encontrávamos a ladainha era sempre a mesma: boa noite Sr. Dr.
Nunca mais os vi.
Um abraço
José Gonçalves

avelaneiraflorida disse...

AMIGO JOSÈ GONÇALVES,
o quadro que descreve repete-se, infelizmente, em muitas outras ruas deste país!!!!
Emocionamo-nos perante tal situação e sentimos vergonha de sermos tão privilegiados!!!!

BOM FIM DE SEMANA!!

António Inglês disse...

avelaneiraflorida

Tem toda a razão minha amiga.
Eu sinto, e muita. Reconheço que os tempos estão difíceis, mas nunca pensei assistir a situações degradantes que me emocionaram muito.
Mas olhe que ainda há a pobreza envergonhada que não é melhor...
Um bom fim de semana.
José Gonçalves